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O ano de 2022 começou com uma redescoberta científica vibrante no interior de São Paulo. Uma espécie de perereca laranja e verde-limão, que tinha sido vista pela última vez em 1970, foi identificada por um grupo de pesquisadores em Capão Bonito (SP).
A família de pererecas da espécie Phrynomedusa appendiculata foi encontrada em uma lagoa no Parque Estadual Nascentes do Paranapanema (Penap), que é dominado por uma vasta área de Mata Atlântica bem preservada.
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O biólogo Alexandre Camargo Martensen explicou que foi até a área em Capão Bonito em 2011, para desenvolver um projeto para subsidiar a criação do parque, que na época ainda não era uma unidade de conservação ambiental.
Neste período, Alexandre e outros pesquisadores passaram dias acampados na floresta, levantando a fauna e a flora, os atrativos turísticos e as questões fundiárias na região. Depois, o grupo apresentou um relatório ao Conselho Estadual do Meio Ambiente, o que embasou a criação do parque em 2012.
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A perereca foi localizada durante o desenvolvimento do projeto, em 2011. Mas foi somente em 2022, na semana passada, que os pesquisadores publicaram um artigo que comprova que a espécie achada no interior de São Paulo é a que tinha sido vista pela última vez em 1970, em Santo André.
“A espécie foi coletada em 1924 em Santa Catarina e descrita em 1925 por Adolfo Lutz. Desde então, ela foi vista mais uma vez ainda no início do século passado e depois em 1970 em Santo André. Desde então, ninguém mais via”, explica Alexandre.
De acordo com o pesquisador, antes da publicação do artigo, a espécie era considerada possivelmente extinta, já que não era vista há mais de cinco décadas. Em Capão Bonito, o grupo encontrou cerca de 15 pererecas em atividade reprodutiva.
“As poucas informações que temos indicam que estas espécies se reproduzem em lagoas, ambiente que é naturalmente mais raro e disperso no alto das serras, onde predominam riachos de água corrente”, relata Leandro Moraes, que também participou da pesquisa.
O projeto de criação do parque foi coordenado pelo biólogo Alexandre, que atualmente é professor da UFSCar no campus Lagoa do Sino, em Buri, e por sua esposa Ana Claudia Rocha Braga, professora da Fatec de Capão Bonito.
Já os pesquisadores Leandro Moraes, que é doutorando em Zoologia pela USP, e Dante Pavan foram responsáveis pelo levantamento de anfíbios e répteis em campo, e lideraram a publicação da redescoberta da espécie na revista internacional Zootaxa. O projeto contou principalmente com financiamento do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
Rara e escondida
O biólogo Alexandre contou que encontrou as pererecas em Capão Bonito depois que perguntou para um morador da região onde ele poderia encontrar “sapos diferentes”. Matias Queiroz mora sozinho em um sítio dentro do parque estadual, em meio à Mata Atlântica, desde que nasceu.
“Ele mora a mais de 18 quilômetros da estrada de terra mais próxima e a uns 60 quilômetros da área urbana. Ele que nos mostrou a lagoa onde vive a espécie, que fica a uns quatro quilômetros da casa dele”, relata Alexandre.
“Essa população, com aproximadamente 10 a 15 indivíduos, foi registrada no mesmo local ao longo de três dias. Apesar de também termos feito buscas em outros ambientes durante esse projeto, só registramos esta espécie nesse único ponto”, continua Leandro.
Os pesquisadores coletaram uma das pererecas para análise genética e, atualmente, o corpo dela está no Museu de Zoologia da USP. Depois de uma intensa apuração, o grupo comprovou que havia encontrado indivíduos da espécie Phrynomedusa appendiculata.
“Anotamos todas as medidas, descrevemos o ambiente, o padrão do canto, tudo para provar que o bicho era o bicho mesmo e que a gente encontrou ele aqui”, conta Alexandre.
Para o pesquisador, a inclusão da redescoberta da espécie no relatório para a criação do parque estadual foi importante para mostrar ao estado que valia a pena transformar a área em uma unidade de conservação.
Parque estadual
Inicialmente, Alexandre foi até a área que atualmente corresponde ao Parque Estadual Nascentes do Paranapanema (Penap) para desenvolver seu projeto de mestrado em 2003.
Ele contou que, na época, encontrou cortadores ilegais de palmito e vestígios de caça no local, incluindo do macaco mono-carvoeiro, o maior macaco da América. Por isso, o biólogo começou a pensar em uma forma de transformar a área em unidade de conservação.
Através do projeto em 2011, além da perereca, o grupo encontrou mais de 50 espécies ameaçadas de extinção, entre aves, mamíferos, anfíbios e árvores. Segundo Alexandre, algumas espécies encontradas não estavam descritas na literatura e ainda estão sendo estudadas.
Atualmente, o Penap é aberto ao público para visitação, mas é necessário fazer reserva. O Matias Queiroz, que contribuiu com o projeto dos pesquisadores, e um outro morador ainda vivem na área do parque, que protege quase todas as nascentes do Rio Paranapanema.
Já Alexandre, que morava em São Paulo, comprou um sítio em Ribeirão Grande, próximo ao parque estadual, e continua com um projeto que monitora as espécies na Mata Atlântica, em conjunto com a esposa Ana Cláudia.
Fonte: F1