24 de novembro, 2024

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Artigo: Árvores e frutos – Por Dr. André Balbi

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A vida nos dá nossa maior chance para ser­mos homens quando nos transforma em pais. Esta inacreditável gestação masculina que passamos, não ao longo de 9 meses, mas a partir do momento em que conhecemos nos­so primeiro filho, é algo tão assustador quanto belo. E agora José? diria Drummond em um de seus maiores poemas. Só nos resta um tango argen­tino responderia Bandeira em um diálogo improvável entre os dois poetas.

Meu amigo Benedito disse que sou como uma árvore capaz de dar bons frutos. E que meus filhos são estes frutos. Daniela me lembra de sua avó di­zendo que os frutos não caem longe do pé. E sin­tetizo o significado destas belas comparações iden­tificando uma linha de se­melhança entre nós, meus filhos e eu, no meio de outras diferenças. São ca­racterísticas não apenas físicas, que ao identificar neles, reconheço em mim mesmo. Fui ontem como eles são hoje e sou hoje como eles serão amanhã. É como se, ao olhar um deles, eu ficasse diante de um espelho vendo minha imagem salpicada da ima­gem dele. Dois filhos, dois espelhos diferentes de mi­nha mesma imagem.

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E lembrando disto tudo acabei lembrando de meu pai que hoje repousa tranquilamente em algum pedaço do céu, sentado em uma de suas cadeiras preferidas como ficava na casa em que morou tantos anos. Lembro do provável espelho em que ele cor­tava sua barba e nos via, integrados em seu rosto, cada vez mais marcado pelo tempo. Eu e meu ir­mão salpicados naque­le rosto tranquilo. E vou identificando a linha de se­melhança entre nós, cada dia mais forte e a cada ano mais profunda.

Tenho hoje a idade de meu pai quando eu achava que ele já estava velho. Agora sei que seus pen­samentos eram cada dia mais jovens até que se tornaram crianças outra vez. E ele sabia usar sua inteligência privilegiada de acordo com cada situ­ação que vivia, apertan­do um botão interno que trocava razão por emo­ção quando quisesse.

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Penso, por fim e de novo, na árvore que so­mos dando bons frutos e dos frutos que caem em nossos pés. Como os filhos que temos e que somos.

 

 *Dr André Balbi é médico nefrologista, professor adjunto de Nefrologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) e atual Superintendente do HCFMB.

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