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A vida nos dá nossa maior chance para sermos homens quando nos transforma em pais. Esta inacreditável gestação masculina que passamos, não ao longo de 9 meses, mas a partir do momento em que conhecemos nosso primeiro filho, é algo tão assustador quanto belo. E agora José? diria Drummond em um de seus maiores poemas. Só nos resta um tango argentino responderia Bandeira em um diálogo improvável entre os dois poetas.
Meu amigo Benedito disse que sou como uma árvore capaz de dar bons frutos. E que meus filhos são estes frutos. Daniela me lembra de sua avó dizendo que os frutos não caem longe do pé. E sintetizo o significado destas belas comparações identificando uma linha de semelhança entre nós, meus filhos e eu, no meio de outras diferenças. São características não apenas físicas, que ao identificar neles, reconheço em mim mesmo. Fui ontem como eles são hoje e sou hoje como eles serão amanhã. É como se, ao olhar um deles, eu ficasse diante de um espelho vendo minha imagem salpicada da imagem dele. Dois filhos, dois espelhos diferentes de minha mesma imagem.
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E lembrando disto tudo acabei lembrando de meu pai que hoje repousa tranquilamente em algum pedaço do céu, sentado em uma de suas cadeiras preferidas como ficava na casa em que morou tantos anos. Lembro do provável espelho em que ele cortava sua barba e nos via, integrados em seu rosto, cada vez mais marcado pelo tempo. Eu e meu irmão salpicados naquele rosto tranquilo. E vou identificando a linha de semelhança entre nós, cada dia mais forte e a cada ano mais profunda.
Tenho hoje a idade de meu pai quando eu achava que ele já estava velho. Agora sei que seus pensamentos eram cada dia mais jovens até que se tornaram crianças outra vez. E ele sabia usar sua inteligência privilegiada de acordo com cada situação que vivia, apertando um botão interno que trocava razão por emoção quando quisesse.
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Penso, por fim e de novo, na árvore que somos dando bons frutos e dos frutos que caem em nossos pés. Como os filhos que temos e que somos.
*Dr André Balbi é médico nefrologista, professor adjunto de Nefrologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) e atual Superintendente do HCFMB.