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O pianista Nelson Freire, considerado um dos maiores pianistas do mundo, morreu no Rio na madrugada desta segunda-feira (1º). Ele tinha 77 anos.
O músico estava em casa. Até a última atualização desta reportagem, a causas da morte ainda não havia sido divulgada. O artista deixa o marido, o médico Miguel Rosário, e um irmão.
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Carreira começou cedo
Mineiro de Boa Esperança, nascido em 18 de outubro de 1944, Nelson Freire começou a tocar piano aos 3 anos de idade, vendo a irmã estudar o instrumento. Dois anos depois, ele fez seu primeiro recital, no Teatro Municipal de São João Del Rei.
Naquela noite, os pais se preocuparam que ele dormisse antes da apresentação e fizeram questão de massagear as mãos dele para afastar o frio.
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O talento de Nelson o levou à Europa com 12 anos para estudar com os melhores professores. Com 15, ele dava seus primeiros concertos.
Consagrado pela crítica europeia, Nelson se apresentou com as melhores orquestras do mundo e se tornou um dos grandes intérpretes de Beethoven. Ele também era conhecido por ser um grande intérprete de Chopin.
Durante décadas, Nelson se recusou a fazer gravações. Para ele, a música só acontecia ao vivo, diante do público. A partir de 2001, ele começou a lançar grandes discos, como o dedicado à obra de Debussy. Ele também fez interpretações da obra de Villa-Lobos.
Nelson Freire teve na pianista argentina Martha Argerich sua grande amiga e parceira artística, com quem fez várias turnês e onde se apresentou em peças de dois pianos.
Nelson Freire nunca parou de estudar. Passava a maior parte do tempo em casa, sozinho, se exercitando e desenvolvendo a técnica que o tornou um dos maiores pianistas dos séculos 20 e 21.
Em 2003, o cineasta João Moreira Salles lançou um documentário sobre a vida e a obra de Freire. O filme mostra a rotina e as turnês mundiais do maior pianista brasileiro de seu tempo. O público conhece a infância, os primeiros acordes e os sacrifícios feitos pela família.
Recital no cinema
Em 2012, ele voltou ao palco de São João Del Rei onde fez seu primeiro concerto, após 62 anos.
A apresentação, no Projeto Música no Museu, teve lugares disputados e também foi exibida em um cinema da cidade.
“É uma demonstração de carinho enorme, uma coisa muito tocante. Fico muito agradecido, emocionado em pensar que eu estive aqui há 62 anos. É um passo enorme, uma vida”, disse na ocasião.
Em 2015, o escritor Ricardo Fiúza lançou um livro sobre a vida e obra de Nelson Freire. Os dois eram amigos desde os anos 1950. O resultado de mais de 20 anos de trabalho se transformou no livro “Nelson Freire: a pessoa e o artista”.
“Com cinco anos de idade, ele escutava a irmã mais velha tocar. Ela saía do piano. Ele subia devagarinho, com muito cuidado, e tocava o que ela acabou de tocar”, contou Ricardo Fiúza.
Entre as comendas e distinções recebidas por Nelson Freire, destacam-se as de Cidadão do Rio, Cavaleiro da Ordem do Rio Branco, Medalha Pedro Ernesto, Cavaleiro da Legião de Honra da França, Comandante de Artes e Letras da França, Medalha da Cidade de Paris e da Cidade de Buenos Aires, além do título de doutor honoris causa da Faculdade de Música da UFRJ.
Em 2018, jovens da Orquestra Sinfônica da Baixada Fluminense acompanharam um ensaio do pianista no Theatro Municipal. Ele afirmou que tocar no Brasil era especial.
“É diferente. Eu tenho que fazer um esforço para me concentrar. Além da emoção de estar aqui, onde estive tantas vezes. A primeira vez que eu pisei neste palco foi em 1953”, disse Nelson.
Ele falou sobre a importância da cultura para a formação dos jovens.
“O médico cuida do seu corpo, o professor te educa e o artista alimenta o seu espírito. E são três coisas que não são valorizadas no Brasil, infelizmente. Ver aquelas crianças saindo de um ambiente de balas perdidas, de violência, de miséria, é bom. E o meu sonho é ver este teatro cheio dessas crianças”, disse Nelson.
Em 2019, quando completou 75 anos de vida e 70 anos de carreira, Freire lançou no dia do seu aniversário, em 18 de outubro, o disco “Encores”.
No mês seguinte, o pianista levou um tombo ao tropeçar em uma calçada de pedras portuguesas na altura do Posto 3, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. O músico fraturou o braço e passou por uma cirurgia no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, na Zona Sul.
Desde então, ele nunca voltou a gravar ou a se apresentar em público.
Fonte: G1