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De infância pobre em meio a 13 irmãos criados na roça, em Barra do Mendes, a 534 quilômetros de Salvador (BA), Eva Maria Sousa parou os estudos aos 17 anos ao se casar. Deu à luz Lázaro Barbosa logo em seguida, mas apesar das dificuldades financeiras e do divórcio após o nascimento do caçula, Deusdete, a caseira assegura a Universa que nunca faltou amor em casa.
“Ele era um menino bom, me acompanhava na igreja evangélica e dava flores no Dia das Mães”, descreve Eva Maria referindo-se ao primogênito.
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Por isso, ela não sabe explicar por que o filho, hoje com 32 anos, cometeu 12 crimes — segundo os registros policiais e da Justiça —, de 2007 a maio de 2021, entre eles tentativa de estupro, roubo e homicídio. Mas tem muita clareza de que não é responsável pelas ações de Lázaro.
“As pessoas falam que eu mereço morrer da mesma forma que a família lá de Ceilândia (DF). Ligam me chamando de bandida, falam que sabem onde estou e em seguida falam direitinho meu endereço. As pessoas nem olham mais nos meus olhos. Pensei muito em sair daqui, mas não tenho para onde ir.”
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“Não tenho culpa de nada que meu filho fez. Nem eu nem minha família temos culpa”.
Lázaro está sendo procurado pela polícia desde o último dia 9 por centenas de policiais. Ele é acusado de matar o empresário Cláudio Vidal, 48, e seus dois filhos, Gustavo, 21, e Carlos Eduardo, 15 — os corpos foram encontrados na chácara da família, em Ceilândia (DF), com marcas de tiros e facadas. A mulher de Cláudio, Cleonice Marques, 43, foi sequestrada e encontrada morta três dias depois Semanas antes desses crimes, Lázaro teria atirado contra moradores dentro de uma propriedade em Cocalzinho (GO) e invadido uma casa em Ceilândia (DF), onde obrigou todos os moradores a ficarem nus, e roubou seus pertences.
De fala rápida ao telefone, Eva Maria diz que “o povo fala muito” e não acredita em todos os crimes atribuídos ao primogênito.
Ela defende que Lázaro tinha nojo de quem estuprava e que, por isso, não poderia ter cometido esse crime. Ele [Lázaro] matou, mas não mexeu com mulher, não. Isso é um demônio que atrapalha ele. Depois que faz, ele não sabe de nada e chora, sofre pelo acontecido. O que ele fez não foi do coração nem da alma”.
“Aos familiares dos mortos, peço perdão”
No mesmo dia em que a família Vidal foi encontrada morta e Lázaro ser identificado como suspeito, Eva Maria e o marido, Getúlio José de Souza, foram demitidos pelo dono de uma chácara onde trabalhavam como caseiros. O patrão disse que não poderia continuar com eles após as ações de Lázaro.
Desde então, Eva Maria quase não sai de casa, a não ser para pegar comida na sogra. Sem renda, ela vive da ajuda da mãe do marido. Os vizinhos e amigos sumiram. A televisão e o rádio agora ficam desligados. Não quer mais escutar notícia ruim. Mas deseja ser ouvida, principalmente pelos parentes das famílias que passaram pelas mãos de Lázaro.
“Eu queria conversar com eles, num primeiro momento, para pedir perdão. Perdão. Só perdão”, ela repete, para depois suspirar e ficar em silêncio.
“Tentou ser um homem bom”
Lázaro foi preso pela primeira vez em 2007, na cidade natal, acusado de duplo homicídio, mas fugiu do cárcere. Dois anos depois, ele foi detido novamente, no Complexo Penitenciário da Papuda (CPP), em Brasília, por porte ilegal de arma de fogo, estupro e roubo. Lá, recebeu o diagnóstico de psicopatia imprevisível, com traços de agressividade, impulsividade e instabilidade emocional. Em 2014 a Justiça autorizou sua ida para o regime semiaberto, em que o condenado tem o direito de trabalhar e fazer cursos fora da prisão durante o dia, e dormir na penitenciária à noite. Em 2016, Lázaro não retornou de uma de suas saídas. Só foi encontrado pela polícia em Goiás, em 2018, mas fugiu novamente.
Entre as idas e vindas ao presídio e antes de ser declarado foragido, Lázaro tentou ser um bom homem, nas palavras da mãe. Segundo Eva Maria, o primogênito voltou a trabalhar na roça para ajudá-la no seu sustento, e ia para a igreja evangélica. “Ele queria ser um novo homem. Tentou muito, mas não conseguiu. Trabalhou na roça, era prestativo. Frequentava igreja comigo e até pregava”, conta Eva, antes de se recordar da infância do primogênito:
“Desde criança, ele conversava muito comigo, era amoroso, bom aluno. Parou os estudos para trabalhar para cuidar de mim e de outro irmão dele mais novo, que morreu assassinado e até hoje não sei por quê. Deixou dois filhos.” Deusdete, seu filho mais novo, morreu há cinco anos durante um acerto de contas em Goiás. Ele também teria se envolvido em roubos e homicídios, segundo reportagens locais. Tinha 21 anos.
Lázaro também deu dois netos a Eva. Ele tem um menino de quatro anos, de um relacionamento anterior, e uma menina de dois, do casamento atual, com uma mulher de 19 anos. Numa entrevista ao jornal “Correio Braziliense”, ela, que não quis se identificar por medo de represálias, descreveu o companheiro como um pai dedicado, relatou que a filha do casal quase todos os dias chama por ele e, como a sogra, disse que Lázaro tentou largar o crime, sem dar detalhes.
“Temo pela vida dele”
Eva Maria não soube precisar a última vez que viu o filho, mas ouviu sua voz dois dias depois da chacina em Ceilândia. Ela confirmou que Lázaro ligou de um número desconhecido e, nervosa com o contato, ela logo perguntou por Cleonice —que estava desaparecida, até então. Mas o filho disse que não sabia dela e desligou. Hoje, Eva vive isolada dentro de casa junto ao marido, torcendo pelo resgate do filho. Vivo. “Temo pela vida dele. Quero que ele seja preso para explicar o que aconteceu”.
“E vou continuar ao lado dele, porque, para mim, ele nunca foi ruim, nunca levantou a mão. No Dia das Mães me dava flores. É bom marido, bom pai. Não sei por que isso está acontecendo, mas ficarei ao lado dele”.
Fonte: Universa