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O Jornal Folha de S. Paulo divulgou nesta quarta-feira, 12, uma reportagem sobre o deputado suspenso Fernando Cury, de Botucatu, destacando que ele está tentando driblar a punição que recebeu, após ter apalpado a deputada Isa Penna, e que parte de seus assessores foram mantidos com seu suplente na Assembleia.
Leia abaixo a reportagem:
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Suspenso do mandato por seis meses por ter apalpado a deputada Isa Penna (PSOL) na Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Cury (Cidadania) conserva parte de seu gabinete por meio do suplente, deputado Padre Afonso Lobato (PV), e mantém agenda parlamentar.
Segundo informações da Assembleia, dos 17 funcionários lotados no gabinete de Padre Afonso, 10 foram “herdados” de Cury, incluindo a ex-chefe de gabinete Regiane Cristina Mendes. Ela testemunhou a favor de Cury perante o Conselho de Ética da Casa.
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Os nomes que Padre Afonso manteve são pessoas ligadas ao grupo político de Cury, com atuação na região de Botucatu, base eleitoral dele, algumas filiadas ao Cidadania.
Padre Afonso, por sua vez, tem base política na cidade de Taubaté, onde atua como sacerdote da Igreja Católica. Ele foi eleito deputado estadual por quatro mandatos seguidos, de 2002 a 2018, quando obteve a suplência.
Os dez funcionários ligados a Cury e que seguem com Padre Afonso recebem salário mensal, pago com verba pública, entre R$ 4.000 e R$ 17 mil.
A sobrevida do gabinete não é a única evidência da atividade política de Cury, que fez neste mês um giro por cidades próximas a Botucatu para entregar verbas liberadas pelo governo João Doria (PSDB), cuja base o deputado compõe.
Cury foi condenado à perda temporária do exercício do mandato por seis meses em votação unânime do plenário da Assembleia em 1º de abril, após pressão para que a punição não fosse vista como umas férias ao deputado e para que seu gabinete também fosse atingido.
Isa Penna defendia a cassação, e aliados de Cury chegaram a manobrar para aprovar no colegiado um afastamento de 119 dias –a Assembleia prevê que o suplente assuma só em caso de ausência superior a 120 dias.
Em resposta à reportagem, Padre Afonso afirmou que manteve os funcionários de Cury para ajudar em relação a demandas da região de Botucatu em andamento, para não prejudicá-los na pandemia da Covid e porque é difícil encontrar equipe para tão pouco tempo.
Procurado, Cury afirmou não ter nada a dizer sobre isso “haja vista que não sou o titular do mandato”.
Um mês após a perda de mandato, Cury tem retomado a agenda parlamentar. Em 7 de maio, ele publicou uma série de visitas a municípios do interior para divulgar a liberação de verbas (emendas não impositivas solicitadas por ele ao governo).
As publicações, chamadas de “Caravana 2021”, trazem um logotipo “Deputado Fernando Cury”. Nesta terça-feira (11), Isa e a bancada do PSOL acionaram o Ministério Público para denunciar a atividade registrada no Instagram.
Cury responde na Justiça sob acusação de importunação sexual. Ele foi suspenso do Cidadania e um processo de expulsão está em curso.
Segundo as publicações, Cury esteve em Itatinga, Areiópolis, São Manuel e Pratânia para entregar R$ 500 mil para cada município em obras. As cidades ficam de 20 km a 40 km distantes de Botucatu.
Nas fotos com autoridades locais, Cury exibe documento da Casa Civil do Governo de São Paulo que libera a verba. O documento é endereçado a Cury e foi assinado pelo secretário da Casa Civil, Cauê Macris (PSDB), em 14 de abril.
A Casa Civil informou que as demandas em questão estavam sendo processadas desde antes da suspensão. Em resposta à reportagem, Cury afirmou se tratar de “demandas voluntárias que eu busquei junto ao Governo do Estado no final de 2020 e início de 2021, antes do meu afastamento”.
Em nota, Cury afirmou que as caravanas são símbolo do seu trabalho. “”As entregas são absolutamente legais, todos os meus movimentos como cidadão e político, especialmente neste momento tão difícil para mim, para minha família e para minha equipe, passam pela minha averiguação jurídica”, completou.
Boa parte dos aliados de Cury que foram transferidos para o gabinete de Padre Afonso em 9 de abril, data da posse, são ligados à região.
O chefe do escritório político de Cury em Botucatu, Luiz Augusto Felippe, é um dos lotados no gabinete de Padre Afonso e recebe R$ 17,7 mil. Nas redes sociais, ele diz que mora na cidade. Luiz Augusto recebeu R$ 5.000 como administrador financeiro na campanha de Cury em 2018.
A lista de nomes “herdados” por Padre Afonso inclui ainda quatro homens que constam como filiados ao Cidadania em cidades da região — Areiópolis, Itatinga, Bofete e Tupã. Eles são marcados frequentemente nas redes de Cury.
Em relação aos assessores que trabalham na região de Botucatu, Padre Afonso afirmou que foram mantidos para cuidar de “pendências relativas aos municípios […], que precisam ter continuidade para não prejudicar a população”. O suplente completa que “a situação deles está sendo revista e, se for o caso, serão exonerados”.
Em resposta à reportagem, o deputado disse que não houve pedido de Cury para manter os funcionários, mas que o deputado afastado pediu que eles fossem ouvidos.
“Procuramos entender a situação de alguns que seriam muito prejudicados funcionalmente caso fossem exonerados. […] Não seria justo prejudicá-los, numa situação de pandemia”, afirmou.
“Alguns assessores foram mantidos também por conta da necessidade de adaptação aos novos trâmites na própria Assembleia e no governo. […] Além disso, temos dificuldades para formar uma nova equipe, com as qualificações desejadas, considerando que o curto período do mandato não é atrativo”, completou.
Em sua peça ao Ministério Público, a bancada do PSOL afirma que Cury age “como se estivesse no pleno exercício de mandato parlamentar” e que isso representa “exercício irregular de mandato” e “evidente descumprimento de decisão legítima da Assembleia [Legislativa]”.
Em resposta à reportagem, Cury afirma: “Quero deixar claro que aceito as decisões judiciais e que, em nenhum momento, exerci ou exerço funções como deputado, cargo público na qual estou afastado. Também foi noticiado pelo veículo que mantiveram 10 ex-funcionários. Porém, quero deixar claro que nunca pedi ou fiz qualquer aceno para mantê-los e, hoje, trabalham para o atual deputado Padre Afonso Lobato (e ao exercício do mandato dele).”
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Folha de S. Paulo