08 maio, 2024

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João Figueiroa conta a história de Botucatu em livro

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A emancipação política de Botucatu remonta há 150 anos, mas a existência da localidade vem dos tempos das capitanias hereditárias. O ponto de entrada, a chamada “Boca do Sertão”, para chegar às minas de ouro do Cuiabá pelos bandeirantes inclui a fixação dos primeiros moradores nesta região.

O historiador João Carlos Figueiroa  busca contar de uma forma diferente essa “epopeia”, que vai de 1719 até os tempos atuais. “Decidi contar a história e dar também a minha opinião”, emenda o autor do livro João Figueiroa, ao sorver uma xícara de café quente.

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Os capítulos são divididos em períodos que variam de 50 anos, conforme a importância para o surgimento do município. Figueiroa foi buscar no pós-descobrimento do Brasil os primeiros sinais da fixação do homem branco nas proximidades do Morro do Hibiticatu, no princípio do século 13.

O mais curioso é que a Botucatu que todos conhecem nesse período não era neste mesmo lugar onde se estende o município.

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De acordo com historiador João Carlos Figueiroa, a partir de 1721 instalaram-se nas imediações da Serra os jesuítas do Colégio de São Paulo para iniciar uma grande fazenda de criação de gado, com a intenção de abastecer as dezenas de caravanas que transitavam aos campos do Rio Grande, às Reduções Guaranis e minas de ouro de Cuiabá.

O Bairro de Botucatu começa a surgiu nos primeiros registros em 1779, quando houve recenseamento de Itapetininga, ao constatar que residiam 63 pessoas. A ocupação das terras no alto da Serra de Botucatu começou mesmo por volta dos anos 30 do século 19.

“A ocupação do território, imenso, não foi tranquila, Ela foi lenta e teve contra si a resistência dos indígenas que, no alto da Serra e imediações, já estavam. O desespero da luta envolveu homens brancos e índios numa carnificina louca”, conta historiador João Carlos Figueiroa.

 

DESBRAVADORES

O período do coronelismo relembra um velho oeste americano com a chegada de mateiros e caçadores de índios. Um dos nomes imortalizados na história do município, o Capitão Tito Correa de Mello, trouxe para a região José Theodoro de Souza que legalizou uma grande gleba de terras utilizando o artifício, de fazer, junto ao vigário de Botucatu, em 1857, um declaração retroativa.

Souza não se fixou em Botucatu e depois seguiu para a região meridional do Estado até falecer em 1875 em Campos Novos Paulista.

Em “Boca do Sertão”, o historiador João Carlos Figueiroa traz um relato também dos anos conturbados de 1930, a grande crise que a cidade enfrentou nos anos 1940, a polarização política, a gestão de Emílio Peduti (empresário e dono de cinemas em todo o país), os embates com Plinio Paganini, a decadência econômica do ciclo 1930 e 1950, criação da Faculdade de Medicina, redemocratização no período do prefeito Jamir Cury até os tempos atuais com ascensão de Mario Ielo (PT) e depois o período de João Cury (PSDB).

 

‘Era moderna’ faz parte dos registros

O livro “Boca do Sertão” é uma viagem na história de Botucatu de 1719 até os tempos atuais. João Figueiroa decidiu também retratar o período que vai da redemocratização do País até as últimas gestões do século 21.

Com o esgotamento do Regime Militar, o PMDB chega à administração municipal na figura de Jamil Cury. Figueiroa conta que uma característica marcante no primeiro dos dois governos do peemedebista foi a combinação de uma forte ação política alinhada com os movimentos e partidos que lutaram pela redemocratização do país, um ataque incisivo à solução de velhos problemas de infraestrutura no município.

O PT chega ao governo municipal como a primeira administração do século 21 em 2001 e vai permanecer no comando da cidade até 2008. O engenheiro e arquiteto Antonio Mario Ielo inicia a gestão sob a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). “Estava montada a fórmula que daria a marca dos dois governos Ielo: gestão dentro das possibilidades permitidas pela LRF e a nova maneira de tratar com as finanças públicas”, conta em trecho do livro.

Já no período de 2009-2016 marca a chegada do PSDB à prefeitura na figura de João Cury Neto, filho do ex-prefeito Jamil Cury. Figueiroa conta que o embate com o PT foi uma eleição “nervosa”. O tucano ainda conseguiria posteriormente eleger seu irmão, Fernando Cury, a deputado estadual. Também faz seu sucessor, Mário Pardini.

Figueiroa destaca que é o período em que se mais procurou recursos estadual e federal para vários empreendimentos na cidade.

 

Queda de população ocorre após crise

O município de Botucatu chegou a ter 13 mil habitantes a mais do que Bauru na década de 30, mas essa superioridade populacional durou só até o início da década de 50. Daí em diante, Bauru atinge 65.452 em 1950; depois 93.980 em 1960 e já na década de 1970, supera os 130 mil contra população de 51.954 do município “vizinho”.

O historiador João Figueiroa registra que a economia de Botucatu “minguou” por mais de 30 anos, agonizando debaixo de uma crise contínua, tendência apenas revertida a partir dos anos 1960, com a instalação de um Centro Biomédico que, posteriormente, seria a Faculdade de Medicina, depois encampada pela Unesp.

No livro, ele traz como indicador uma tabela de recenseamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comparando números com Bauru e Presidente Prudente. “Assim, quando se procedeu a transferência das sedes administrativas das repartições estaduais e a nossa cidade perdeu força política no cenário estadual, décadas de atraso e debilidade financeira já nos haviam vitimado”, escreve o autor.

Após essa crise, Figueiroa conta que a cidade acordou para a necessidade de criar um novo projeto de expansão para o seu plano viário.

Para estar compatível com o plano estadual de interiorização da indústria, criou-se o Plano de Desenvolvimento da Indústria de Botucatu que, no curto espaço de duas administrações, a do prefeito Plínio Paganini e a de Luiz Aparecido da Silveira (Lico), as grandes indústrias de hoje instalaram-se em Botucatu. São dessa época a Staroup, Duratex, a Costa Pinto (hoje inexistente), a Hidroplás, a Caio (Induscar), a Brashidro, entre outras.

Figueiroa ressalta que somadas às indústrias genuinamente botucatuenses, criadas no decorrer dos anos 1950 e 1960, como a Indústria Aeronáutica Neiva (depois Embraer), de fabricação de avião de pequeno porte, Petrac, Mecatral e Moldmix, Fábrica de Bolacas Catu, as novas unidades deram formato final à base industrial que garante emprego até hoje ao município. Ele cita ainda que a expansão do sistema viário também ajudou a impulsionar o crescimento da cidade, ocorrendo em uma segunda gestão do governo Lico.

Depois do grande encolhimento populacional dos anos 1940, a curva de crescimento começa a mostrar uma mudança. São 43.595 habitantes em 1960. Dez anos depois, são 51.954 os moradores. Em dez anos, a cidade reúne menos de dez mil moradores a mais.

De acordo com o escritor, nos anos 70 a cidade continua a crescer e, principalmente, a aumentar o ritmo de seu crescimento. Em 1980, já são 64.545 e em 1996 o número salta para 100.876 habitantes.

 

Rebelião dos padres

Um dos episódios mais marcantes é a rebelião de padres, em abril de 1968, em Botucatu, contra a designação do arcebispo dom Vicente Marchetti Zioni. O período ocorreu em plena ditadura militar. É um ano de convulsões estudantis que vai acabar no Ato Institucional (AI-5) que institucionalizou o regime ditatorial.

A crise na Igreja Católica de Botucatu ocorre com o arcebispo D. Henrique Golland Trindade, ao tornar pública a sua renúncia em 19 de abril de 1968 por não conseguir mais controlar a diocese, o que possibilita a nomeação de dom Zioni, de uma linha mais conservadora e nomeado para conter as insubordinações a pedido do papa da época.

Influenciados pela Conferência de Medellin, que deu nova face à Igreja Católica, padres se rebelam e tentam impedir a nomeação do novo arcebispo. Eles alegaram que, segundo o Concílio Vaticano II, o bispo deveria ser um fator de unidade para o clero e que dom Zioni não seria este fator.

O historiador João Figueiroa conta que a crise religiosa se mistura ao movimento de estudantes querendo denunciar a falta de investimentos na Educação. “Para entender esse episódio é preciso analisar o quadro político: o regime não tolerava a rua, os protestos. Nesse ano, combina o movimento dos padres com seus próprios problemas com indisposição com dom Zioni aos problema dos estudantes que querendo ir à rua não podiam pelo quadro institucional. Daí o choque com regime com prisões de estudantes e padres”, conta o historiador.

Um dos fatos marcantes é quando um destacamento da Polícia Militar, sediado em Botucatu, cercou e desarmou o acampamento erguido pelos estudantes no centro da Praça do Bosque. Diante da iminência do conflito, os estudantes refugiam-se no Seminário Diocesano. “Enquanto o ‘desmonte’ do acampamento ocorria, os estudantes eram recebidos por um punhado de jovens padres, para um confinamento que duraria 90 dias.”

Nesse período, teve prisão de estudante pelo Departamento de Ordem Política e Social e foi necessária a criação de Comissão de Notáveis, chamada de “Forças Vivas”, que acabou sendo resolvida com o deslocamento da totalidade dos padres para outras paróquias fora da cidade e dentro da Arquidiocese.

Dom Zioni foi um dos sacerdotes católicos de maior longevidade no País. Ele faleceu aos 96 anos no dia 15 de agosto de 2007. Ele também foi primeiro Bispo Diocesano da recém-criada Diocese de Bauru, a quem coube estruturá-la administrativa e pastoralmente em março de 1965, só depois foi nomeado para Botucatu.

 

Lideranças políticas são retratadas

Retomada do desenvolvimento ocorre nos anos 1950, quando município teve como prefeitos Emílio Peduti e Plinio Paganini, conta Figueiroa

O historiador João Figueiroa busca retratar cada período da política botucatuense. É um tema espinhoso, mas são enfatizados os principais períodos de cada época.

Dentre as lideranças, é destacada a ascensão política do empresário Emílio Peduti. Nos anos 50, a cidade foi uma grande distribuidora de filmes. Peduti foi proprietário de salas de cinemas em diversos pontos do país. Ele também se elegeu prefeito da cidade. “Foi vereador em 1947 e se elegeu para dois mandatos de prefeito. Ele foi decisivo para a retomada do desenvolvimento”, conta.

Um dos adversários foi Plínio Paganini que também se elegeu para dois mandatos. “Há uma dualidade, embora os dois não concorressem na mesma área empresarial. A forma de disputa não foi bom para ninguém e dividiu muito. E nem sei dizer se isso seria possível de ser diferente. A competição expressa na política ela adquiri invariavelmente descontrole e isso leva a um desgaste de ambas as partes”, conta Figueiroa.

No livro o historiador conta que procura só destacar o que cada um buscou para o desenvolvimento da cidade, excluindo eventuais embates da política partidária.

Para Figueiroa, o empresário e cafeicultor Emílio Peduti teve uma participação importante para tirar a cidade da crise financeira da década 40 e 50. É desse período a luta pelo ensino superior e a regularização do fornecimento de energia elétrica.

 

Faculdade de Medicina demora 10 anos

O desenvolvimento de Botucatu está muito ligado à criação da Faculdade de Medicina, depois encampada pela Unesp. De acordo com João Figueiroa, a luta pela conquista do seu primeiro curso universitário exigiu 10 anos de empenho.

Ao final, conta o escritor, superados todos os obstáculos, a cidade saiu vencedora. Dois governadores (Jânio Quadros e Carvalho Pinto) apresentaram dois projetos criando Faculdades de Medicina (um primeiro criava o que Botucatu pedia; outro, já no Governo Carvalho Pinto, criou um conjunto de unidades médicas chamado Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, com cursos de biologia, medicina humana, medicina veterinária.

Para Figueiroa, o engajamento do prefeito Emílio Peduti no seu segundo mandato fez a diferença. “A criação da faculdade foi muito importante para tirar a cidade da crise. O município chegou a um momento que estava tão naufragado economicamente após a decadência do café. O campo se despovoou e houve a opção pela pecuária. Tudo tem seu outro lado, o campo se esvaziou e fez que a terra perdesse o valor. Mas a região tornou-se a preferida para plantio de eucalipto para produção de chapas de madeira. Isso permitiu 20 anos depois que o município tivesse um núcleo fortíssimo de aglomerado de madeira”.

Foto e Fonte: Aurélio Alonso / JCNet

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