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O oitavo ano do Governo João Cury está chegando ao final. Quase uma década frente a Prefeitura de Botucatu, o prefeito João Cury Neto deixará seu cargo, que será ocupado pelo prefeito eleito Mário Pardini, sucessor escolhido por ele.
O Jornal Leia Notícias bateu um papo com o prefeito, que assumiu a responsabilidade de comandar a Cidade com 35 anos, um jovem “verde”, como ele mesmo disse, mas que agora sai um homem de 43 anos, com muita bagagem e conquistas.
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LEIA NOTÍCIAS – Após oito anos, o que você considera como a principal realização ou conquista do seu Governo?
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JOÃO CURY – É difícil escolher uma, até por que as necessidades da população são tantas, que mesmo você atendendo uma demanda, que seja satisfatória, como por exemplo o que fizemos em relação as construções de casas populares, que eu acho que é uma marca do nosso Governo, você tem ainda outras coisas importantes que foram resolvidas. Temos que enxergar o papel da Prefeitura com capacidade de suprir todas as necessidades. Temos um conjunto de obras, nosso Governo realizou obras icônicas, aquelas que chamam a atenção pela grandeza e importância, como: dois hospitais, a questão do salvamento do Sorocabana, a implantação do SAMU, as quatro mil casas construídas, o Parque Tecnológico, o Poupatempo, a Pinacoteca, o Bom Prato, o Novo Fórum, enfim, são obras que têm uma dimensão diferente, mas também tem outras obras e outros programas que foram sensacionais, como o número de abertura de creches e novas vagas, que antes incomodava muito a população. Para nós, foi algo muito importante. Eu não correria o risco de dizer que essa ou aquela foi mais importante, mas é claro que temos grandes ícones do nosso Governo, as grandes obras e é importante que tenhamos essas grandes marcas, mas o concerto como um todo foi uma sinfonia que nós reputamos como transformadoras.
LN – Tem algo que gostaria de ter feito e não fez?
JC – Muita coisa, olha quando eu penso em frustação, a primeira coisa que me vem à mente é o Viaduto que liga o Jardim Cristina ao Jardim Paraíso. Realmente é algo que eu sinto de não ter feito. Lógico que eu também entendo que o prefeito é suscetível a coisas que ele não tem governabilidade 100% e quando ocorre algo assim, que não depende apenas de você, é mais difícil. Foi esse o caso do viaduto. Eu entrei na Prefeitura achando que já tinha um projeto pronto para se fazer o Viaduto, pois isso era falado há muito tempo, mas na verdade eu vi que não era bem assim. Eu vi que falar de viaduto aqui era só intenção, mas não tinha nenhum esboço. Então nós tivemos que ir atrás de dinheiro, criar um projeto, licenciamento ambiental, para saber quanto teria de tamanho o viaduto, o comprimento e tudo mais. Depois conseguimos licitar o viaduto e por isso que é frustrante, porque a parte mais difícil nós já fizemos. Agora é a execução da obra, que tem uma previsão de um ano e meio. O mais difícil demorou 4 anos, que era conseguir dinheiro, contratar engenheiro, projeto e licitação. Tudo isso foi feito, o próximo prefeito pega uma situação muito melhor do que eu peguei, mas ficou a frustação de não ter feito e entregue esse viaduto.
LN – Tem algo que você arrepende de ter feito?
JC – Eu tenho e me lembro muito bem. Não é que eu não faria de novo, mas eu faria diferente. Pode até parecer um exemplo bem bobo, mas por trás dele tem uma lição enorme. No primeiro ano do meu Governo eu cortei umas arvores lá no Jardim Paraiso, aqueles eucaliptos, e para mim, depois do corte, foi um momento muito difícil. Lá foi a primeira pancada que eu tomei publicamente. Para se ter uma ideia, fizeram meu enterro lá na rotatória do Jardim Paraíso. Nós cortamos os eucaliptos para fazer aquela praça (Praça Isaltino Pereira), não me arrependo pela obra, mas ali eu aprendi que as coisas, que as vezes são obvias para nós, não são assim tão claras para a população. Então, você precisa dialogar melhor, precisa estar mais próximo para ouvir, discutir e explicar para a população. Foi sorte que ocorreu aquilo comigo no primeiro ano, porque foi uma lição e fomos aprimorando nossa gestão. Aprendemos a esgotar mais o diálogo, participar mais a população, por menor que seja a obra. Por causa dessa situação, apareceu meu enterro na tevê para Botucatu e por toda Região.
LN – Como você recebeu a Prefeitura e como irá entregá-la?
JC – Do ponto de vista de estrutura física havia muita coisa para ser feita. A parte de cima do prédio da Prefeitura era uma coisa de louco. Era fio desencapado, bombeiro que queria interditar o prédio público, uma série de problemas, não só o prédio central da Prefeitura, mas outros locais.
Mas, por outro lado, peguei com dinheiro em caixa. Eu recebi a Prefeitura com muita coisa para ser feita, um monte de desafios para ser enfrentados, mas também com dinheiro em caixa. Agora, deixo a Prefeitura com uma série de problemas resolvidos, muitas coisas encaminhadas, muitas conquistas que já trouxeram frutos e benefícios efetivos para a população, mas não deixo R$ 20 milhões no caixa da Prefeitura. Deixo com alguma reserva, mas que não dá para o Pardini a tranquilidade de dizer que está sobrando dinheiro aqui e que irá tocar tranquilo, nada disso. Ele terá que continuar a trabalhar e buscar recurso, fazer gestão. A Prefeitura não está endividada, mas não está sobrando dinheiro.
LN – Como o João Cury entrou, como pessoa, e como deixa a Prefeitura?
JC – Foi uma transformação. Você não passa por uma experiência como essa impunimente. E é assim em todos os sentidos. Você passa a enxergar o mundo de outra forma. Passa a se relacionar com as pessoas de outro jeito. Você passa a enxergar a real condição humana também sobre outra ótica. Eu saio outra pessoa, que acredita bastante no poder público, que acha que as coisas não acontecem facilmente, são mais difíceis, claro, mas eu saio mais esperançoso, que quando você tem um bom time, uma boa equipe, tem disposição, tem motivação e capacidade de diálogo, você tem capacidade de realizar mudanças bastante transformadoras. Então eu entrei muito verde, muito novo, sem muita ideia do que eu ia enfrentar, mas ganhei muita bagagem. É uma experiência que vou carregar para o resto da minha vida. Saio da Prefeitura com sentimento de muita gratidão, porque a oportunidade que tive, de servir minha população, foi uma oportunidade ímpar para mim, foi algo único. Sou muito grato a Deus por ter me permitido viver essa experiência e ao povo de Botucatu, que foi o povo que me trouxe para cá. E eu tenho com o povo uma dívida de gratidão impagável.
LN – Você pensa em ser, novamente, candidato a Prefeito de Botucatu?
JC – Não. Já dei minha contribuição. Não penso nisso. O que podia fazer eu procurei fazer o melhor, para viver esse momento intensamente. Fiz o melhor para entregar tudo que eu pudesse para o povo nesse momento. Não entreguei algumas coisas, claro. Ficaram coisas no meio do caminho e outras encaminhadas, mas acho que fiz aquilo que estava ao meu alcance, com as condições que nós tínhamos, nós fizemos. É Bíblico, há tempo de nascer e de morrer, a nossa gestão morre no dia 31 de dezembro, mas não é aquela morte com choro, com revolta, nada disso. É a morte boa, de quem tem o dever cumprido. Da oportunidade bem aproveitada, bem vivida. Há de se morrer para que outros nasçam. E que a gente sirva de inspiração, o que fizemos sirva de lição, do que pode ser feito ou do que não deve ser feito, para aqueles que vão nos suceder. Que as nossas cinzas sirvam de adubo para dias melhores para a população.
LN – Deixe uma mensagem. Algo que queira falar para os botucatuenses.
JC – Quero dizer para a população de Botucatu que tenho a absoluta convicção de que a gente podia ter até feito mais, ou errado menos, por que eu sei que erramos. Onde está o homem, está o erro, mas não acho que esses erros comprometeram a cidade ou o povo. Também acho que me cobro demais. Eu penso, será que poderia ter feito mais? Tenho absoluta certeza que sim, mas quero dizer, de coração para a população de Botucatu, que o povo de Botucatu teve um prefeito, que com todas suas limitações, com todos os seus problemas, acordou muito cedo todos esses anos e dormiu muito tarde, tentando fazer o melhor, procurando fazer o melhor. De coração, eu me dediquei de corpo e alma nesse projeto. Para todas pessoas que me procuraram, eu tentei resolver. Tiveram casos que a gente não resolveu, algumas pessoas ficaram magoadas, chateadas ou não compreenderam, mas eu doei parte da minha vida e não me arrependo. Ao contrário, eu faria tudo de novo, afinal a população merece essa doação do homem público. Eu me doei de coração para tentar fazer o melhor. A história vai contar. Nós não somos contemporâneos da história que a gente escreve. Acredito que em algum momento da história há de se falar deste Governo e este Governo será julgado pela população. Vamos aguardar isso. Meu sentimento é de gratidão e dever cumprido. Há tempo de plantar e de colher e há tempo de agradecer. Esse é o momento de agradecimento à toda nossa população.
Jornal Leia Notícias