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Os Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira (29) a nomeação de uma emissária especial para defender os direitos das mulheres afegãs, uma prioridade de Washington desde que os talibãs tomaram o poder no Afeganistão.
Rina Amiri (foto), acadêmica americana nascida no Afeganistão e especialista em mediação, que trabalhou no governo do democrata Barack Obama, será a emissária especial do presidente Joe Biden para os direitos das mulheres e das meninas afegãs e os direitos humanos no Afeganistão, anunciou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
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“Como emissária especial, trabalhará em uma série de temas de importância crítica para mim, para a administração americana e para a segurança nacional dos Estados Unidos: os direitos humanos e as liberdades fundamentais das mulheres, das meninas e de outras populações em risco em toda a sua diversidade”, acrescentou em um comunicado.
Quase seis meses depois da retirada militar americana do Afeganistão, Blinken lembrou que os Estados Unidos querem “um Afeganistão pacífico, estável e seguro, onde todos os afegãos possam viver e prosperar”.
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Os talibãs buscam reconhecimento internacional, razão pela qual se comprometeram a governar com menos violência do que quando estiveram no poder entre 1996 e 2001, mas as mulheres continuam sendo praticamente excluídas das administrações públicas e do acesso ao ensino médio.
No domingo, os talibãs também recomendaram aos motoristas que não transportem mulheres por longos trajetos se não estiverem acompanhadas.
Este anúncio irritou Rina Amiri. “Eu me pergunto como quem voltou a dar legitimidade aos talibãs, assegurando ao mundo que tinham evoluído, pode explicar o retorno de políticas draconianas e retrógradas contra as mulheres”, publicou em sua conta no Twitter.
Perguntado sobre a nomeação de Amiri, Mohamad Naeem, porta-voz do gabinete político dos talibãs, disse à AFP: “Os estranhos não podem curar as feridas do nosso povo. Se pudessem, o teriam feito nestes 20 anos”, destacou. Além disso, ele rechaçou que se condicione a ajuda à situação dos direitos humanos, destacando: “queremos ajuda incondicional para o nosso povo, levando em conta nossos valores islâmicos e interesses nacionais”.
Rina Amiri, de 53 ans, deixou o Afeganistão ainda criança, quando seus pais emigraram para o estado da Califórnia (oeste). Quando era estudante na Tuft University, em Boston, protestou contra o regime talibã depois dos atentados de 11 de setembro, que desencadearam a intervenção militar americana e a guerra em seu país.
Princípios e pragmatismo
“Estados Unidos e Europa deveriam ir além dos intercâmbios com os talibãs limitados à evacuação de seus cidadãos e aliados e à coordenação do acesso à ajuda humanitária”, afirmou em artigo publicado em setembro na revista Foreign Affairs.
“A ajuda humanitária por si só não impedirá o colapso da economia, nem o aprofundamento da radicalização e da instabilidade”, acrescentou.
Segundo ela, o Paquistão, um aliado histórico dos talibãs, não tem insistido o suficiente nos direitos das mulheres em suas relações com o grupo.
O respeito aos direitos das mulheres é uma das condições exigidas pelos governos estrangeiros doadores para retomar a ajuda internacional ao Afeganistão, um dos países mais pobres do mundo.
O Afeganistão está à beira do colapso econômico e a ONU tem advertido para uma próxima “avalanche de fome”, com 22 dos 44 milhões de afegãos correndo o risco de sofrer uma escassez de alimentos “aguda” este inverno.
Joe Biden estava determinado a retirar as tropas mobilizadas ali para pôr fim à guerra mais longa da história dos Estados Unidos.
Uma biografia recente do diplomata americano Richard Holbrooke descreve uma conversa que ele manteve com Biden, que teria lhe dito: “Não vou mandar meu filho para lá arriscar a vida pelos direitos das mulheres!”
Fonte: Yahoo!