18 abril, 2024

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Escolha de Botucatu para sediar vacinação em massa envolveu visita secreta da AstraZeneca. Leia a entrevista com o Prefeito Pardini

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O projeto para viabilizar vacinação em massa na população de Botucatu levou dois meses de estruturação, envolveu recusa inicial de um dos laboratórios, visita surpresa de equipes de cientistas e peregrinação ao Ministério da Saúde. Estes foram alguns dos detalhes que envolveram a escolha do município para sediar o projeto pioneiro de testagem da efetividade da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e laboratório AstraZeneca, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Anunciada na última terça-feira, 27 de abril, pelo Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, junto com o prefeito Mário Pardini (PSDB) e o secretário municipal de Saúde, André Spadaro, o projeto teve aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e conta com uma gama extensa de agentes envolvidos. Entre os parceiros estão a Unesp, a Universidade de Oxford, o laboratório AstraZeneca, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Fundação Gates.
A meta será vacinar mais de 80 mil botucatuenses acima de 18 anos e que ainda não tenham sido contemplados com a campanha em andamento, onde já foram aplicadas mais de 46.700 doses, sendo 29.400 com a 1ª e 17.300 na 2ª dosagem, entre as vacinas CoronaVac, do Instituto Butantan, e própria Oxford/AstraZeneca.

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Com isso, será possível avaliar a efetividade da imunização em massa contra todas as cepas que circulam na cidade. Segundo Pardini, cerca de 80% dos casos recentes do novo coronavírus em Botucatu são das tipagens P1 (a de Manaus) e P2 (originária do Rio de Janeiro). Todo o projeto deverá ter a duração de oito meses, tendo em vista que o intervalo entre as doses da Oxford/AstraZeneca é de 90 dias.

Ainda não foram divulgados detalhes oficiais de como a imunização em massa ocorrerá na Cidade. Durante entrevista, o prefeito Mário Pardini frisou que reuniões nos próximos dias darão o direcionamento para que a cobertura vacinal seja rápida. Especula-se que sejam instalados diversos pontos móveis e maiores espaços para tais imunizações. Ele mostra-se otimista com o início das aplicações em até quinze dias.

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Leia abaixo entrevista com Prefeito Mário Pardini:

Leia Notícias – A confirmação de que o projeto de avaliação da eficácia da vacina ocorreu em 27 de abril, mas as tratativas vinham sendo definidas há mais tempo. Quais foram os pontos cruciais para a escolha da cidade como sede deste estudo?

Mário Pardini – Temos trabalhado desde o início da pandemia para poder montar uma estrutura para enfrentar o vírus. Sabíamos da gravidade da doença e procuramos adotar estratégias de contenção como a Central Coronavírus, sendo pioneiros nesses serviços de monitoramento. Além disso, fizemos a contratação de equipes para atendimento domiciliar, ampliação de leitos em terapia intensiva (UTI) e outras ações. Desde então sonhávamos com a imunização. Em uma reunião que tivemos com um dos laboratórios que produzem as vacinas, que é a da Janssen (braço da Johnson & Johnson), apresentamos nossa proposta. Havia uma lei autorizativa para a compra de 100 mil vacinas, que daria para vacinar 50 mil pessoas. Nessa reunião a empresa disse que não tinha disponibilidade e que faria negociação apenas com o governo federal. Isso foi um balde de água fria. Ainda nessa reunião levantamos a hipótese de realizar um estudo sobre a efetividade da vacina. Pediram que apresentássemos o projeto. De pronto buscamos auxílio com o doutor Pasqual Barretti, reitor da Unesp, que direcionou pesquisadores para elaborar o estudo. A Johnson gostou do projeto, mas as negociações não avançaram. Nesse meio tempo, uma das pesquisadoras responsáveis por trazer a vacina da Oxford/AstraZeneca para o Brasil soube do nosso projeto apresentado à Jannsen e demonstrou interesse. Mobilizou alguns cientistas que se mobilizaram para viabilizar esse estudo. Trabalhamos dois meses silenciosamente até chegar à formatação final que foi apresentado ao Ministério da Saúde.
No dia 15 de abril tivemos uma audiência em Brasília para apresentar o projeto para o ministro da saúde, Marcelo Queiroga, que gostou muito do projeto. O ministro salientou, na oportunidade, que vinha buscando fomentar pesquisas de efetividades e passou alguns ajustes que seriam necessários. Na sequência, os comitês de ética da Unesp e do Ministério foram acionados. Na terça-feira, 27, tivemos a aprovação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e conversamos novamente com o ministro.

LN – É um projeto audacioso de se imunizar 80 mil botucatuenses, consistindo em longa duração com 8 meses. O que já tem definido, em questão de estrutura, para se conseguir imunizar este contingente de pessoas?

PARDINI – Primeiro aguardamos a aprovação do orçamento que apresentamos ao Ministério da Saúde. Com tal etapa superada, será acionado o Plano Nacional de Imunização (PNI) que, segundo Queiroga, isso deve ocorrer nas próximas duas semanas, contando com a liberação das doses. Quanto à logística, isso é algo que tem sido discutido há dias. Possuímos algumas ideias, mas que precisam ter suas viabilidades analisadas, para que a vacinação na população acima de 18 anos, que não tenha recebido nenhum tipo de vacina, ocorra dentro desse prazo. Calculamos que sejam aplicadas entre 70 e 80 mil doses.

LN – Diferentemente da CoronaVac, cujo intervalo entre as doses é de 28 dias, a da Oxford/Astrazeneca demanda maior tempo, de três meses. Quais ações serão feitas para avaliar a efetividade da vacina, principalmente quanto a existência das variantes da Covid-19?

PARDINI – Já temos informações da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que nessa região do Estado de São Paulo, 80% dos casos consistem com as variantes da P1 e P2, que passaram a ser predominantes, inclusive em Botucatu. A ideia é que possamos avaliar a eficácia desse imunizante em relação às cepas e possíveis reduções nas infecções.

LN – Desde janeiro Botucatu recebe doses da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan com a SinoVac, quando esta foi aprovada para uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foram aplicadas mais de 46.700 doses ao todo, sendo 29 mil da 1ª dose e 17 mil da segunda etapa. Com esta pesquisa da Oxford vindo à Botucatu, a atual campanha sofrerá algum tipo de modificação?

PARDINI – Ela prossegue até termos a liberação das doses pela Fiocruz. Além disso, as segundas doses da atual campanha continuam sendo responsabilidade do Plano Nacional de Imunização. Já as doses que serão disponibilizadas para a pesquisa também são garantidas pelo governo.

LN – Mesmo com a pesquisa e a vacinação em massa, as atuais medidas restritivas serão mantidas no município, em cumprimento ao Plano São Paulo?

PARDINI – Nosso compromisso em Botucatu, e falamos desde o início, é através de critérios técnicos e objetivos. Analisamos os dados de casos e óbitos em cada semana epidemiológica para avaliar os passos a serem tomados. O objetivo é conter a contaminação na população, que só terá imunização efetiva depois de três meses. Nesse período, ajustaremos as medidas restritivas, buscando alternativas para os setores econômicos, com a maior responsabilidade. Precisamos entender que mesmo com a vacinação, tem que se evitar essa euforia que se possa causar. Isso pode causar um descontrole da pandemia, até que o último botucatuense tenha sido vacinado.

LN – Será uma ação com diversos agentes, incluindo a Unesp. No entanto, o Governo do Estado terá um papel menor neste contexto. Teme algum tipo de desabastecimento da CoronaVac neste tempo até que a nova campanha tenha início?

PARDINI – Isso não pode acontecer, esse desabastecimento até iniciarmos a pesquisa. Não acredito que o Governo do Estado venha a cometer um crime desses. Deverá manter o programa de imunização em Botucatu, ainda mais que é coordenado pelo Plano Nacional de Imunização. Acredito que o governo estadual deveria se alegrar com o projeto da imunização sendo realizado aqui.

LN – Além desse projeto a ser iniciado em Botucatu, a cidade de Serrana também passou por um estudo similar. Em quais pontos as pesquisas se diferenciarão?

PARDINI – O teste de eficácia já ocorreu. Agora testaremos a efetividade da vacinação em massa. Analisaremos a contaminação, as internações e óbitos. Botucatu conseguir reunir parceiros de relevância, o que é um milagre, já que ela se preparou e conseguiu apresentar a melhor vigilância epidemiológica em termos da Covid-19, com a testagem em massa que já fazíamos. Semana passada recebemos uma comitiva da Universidade de Oxford para conhecer a Central Coronavírus, os laboratórios do Hospital das Clínicas e da Unesp, além das políticas públicas que implantamos para combater a doença. Ter a Unesp apoiando o projeto, e o Hospital das Clínicas, foi fundamental para isso. Tivemos resiliência em acreditar no projeto, bater à porta do ministro da Saúde e literalmente acampar em Brasília para apresentar nossa proposta, que vai além do que ocorreu em Serrana. Agora serão analisados os traços genéticos dos casos positivos e a verificação das variantes. É um projeto inovador que trará muitas respostas que a comunidade científica tanto quer para o combate da pandemia.

Flávio Fogueral / Jornal Leia Notícias

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