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O primeiro grande episódio de violência racial nos EUA no governo de Donald Trump, neste sábado em Charlottesville (Virgínia), preocupa especialistas sobre o risco de nova onda de intolerância no país. A violência, decorrente do enfrentamento entre grupos de supremacistas brancos com ativistas antirracismo, deixou ao menos um morto e dezenas de feridos. A declaração de Trump sobre o episódio, que culpou os “dois lados”, foi considerada falha por ativistas de direitos civis, por não condenar efetivamente os movimentos neonazistas.
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Desta vez a causa dos transtornos foi uma passeata de supremacistas brancos, enquanto em julho de 2016 — o mais recente grande episódio de tensão racial nos EUA — a violência foi decorrente de manifestações de negros revoltados com a morte de jovens por policiais brancos. Um carro bateu em outros dois e avançou sobre manifestantes, e o motorista foi preso. Os dois grupos se enfrentaram e pelo menos 19 pessoas ficaram feridas no incidente com o carro e 15 nos confrontos. Num acidente em separado, dois ocupantes de um helicóptero da polícia morreram quando a aeronave caiu num bosque a 11km da cidade, num episódio que as autoridades não vincularam de imediato aos confrontos.
O governador da Virgínia, Terry McAuliffe, decretou estado de emergência na cidade, que tem 50 mil habitantes.
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Grupos de nacionalistas brancos, neonazistas e membros da Ku Klux Klan (KKK) se reuniram na cidade, a 190km de Washington, para protestar contra a retirada de uma estátua do general confederado Robert E. Lee, que lutou pela independência dos estados do Sul para evitar a abolição da escravatura nos EUA. Na noite de sexta, véspera da manifestação “Unir a Direita”, o grupo desfilou pelo campus da Universidade da Virgínia com palavras de ódio contra negros, judeus, imigrantes e gays. Com isso, grupos antirracismo e antifascismo marcaram uma contramanifestação nos mesmos local e horário no sábado, quando houve o confronto, com porretes, escudos, tochas, spray de pimenta e briga corporal.
O episódio ganhou dimensão nacional, e são os maiores incidentes raciais em mais de um ano. O grupo antirracista Southern Poverty Law Center denunciou o ato de Charlottesville como “o maior encontro de ódio em décadas”, e teme que mais eventos como este ocorram no país. A violência ocorre ao mesmo tempo em que várias cidades americanas estão planejando retirar estátuas que homenageiam líderes escravocratas, em respeito aos negros. Grupos de supremacia branca defendem uma reação mais forte por todo o país. E a ação do presidente Donald Trump — que na campanha do ano passado recebeu apoio de líderes da KKK, contra sua vontade — foi considerada tímida.
Trump — criticado por ter como um dos assessores na Casa Branca Steve Bannon, que dirigia o site Breitbart News, apologista da supremacia branca — demorou a se posicionar. Só se manifestou às 13h de ontem (14h em Brasília), quando escreveu no Twitter “todos devemos nos unir e condenar o que o ódio representa. Não há lugar para este tipo de violência nos Estados Unidos”.
Em seguida, David Duke, ex-presidente da Ku Klux Klan e um dos principais nomes da supremacia branca no país, cobrou publicamente apoio de Trump: “Então, depois de décadas de brancos americanos serem alvo de um ódio discriminatório antibranco, nós nos reunimos como um povo e você nos ataca?” De Charlottesville, Duke tuitou: “Eu recomendaria que você dê uma boa olhada no espelho e lembre-se de que os americanos brancos o colocaram na Presidência, e não os esquerdistas radicais”.
Às 15h, Trump fez uma declaração ao vivo de seu clube de golfe de Bedminster (Nova Jersey), onde passa férias. Ele não condenou deliberadamente os movimentos brancos, como outros presidentes fizeram diante de algum conflito racial no país.
— Condenamos nos termos mais firmes possíveis essa exibição atroz de ódio, fanatismo e violência procedente de todos os lados. O ódio e a divisão devem parar agora. Temos que nos unir como americanos com amor à nossa nação — disse o republicano. — Este tipo de violência tem que parar, e tem que parar agora.
A reação de Trump foi imediatamente criticada por organizações de direitos civis.
— O presidente se recusou a dizer o nome dos culpados, não citou a Ku Klux Khan, não falou dos neonazistas, nem dos supremacistas brancos. Essa é a causa do ódio e da violência. Temos um presidente covarde — afirmou a canais americanos de TV Cornell Brooks, ex-presidente Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), mais antiga associação em defesa dos direitos dos negros do país.
Jesse Jackson, pastor e um dos principais líderes negros nos EUA, lembrou que este tipo de manifestação racista não pode ser tolerado.
— Parece que o presidente está constrangido em condenar estes grupos — disse à CNN.
Republicanos adotaram um tom mais enfático. Jeb Bush, ex-governador da Flórida que disputou com Trump a candidatura do partido em 2016, tuitou: “Os supremacistas brancos e seu fanatismo não representam o nosso grande país. Todos os americanos devem condenar esse vil ódio.”
Fonte: Yahoo!