Anúncios
Aos 23 anos, Gabriel Deem não conseguia mais ter ereção sem o estímulo de uma tela. O personal trainer norte-americano conta que durante a adolescência assistia a muita pornografia pela internet e que aos poucos foi se interessando por cenas cada vez mais bizarras.
O hábito gerou um impacto na vida sexual que ele não esperava. “Foi ficando mais difícil me excitar e ter uma ereção com uma garota real, chegando ao ponto em que nada me excitava a não ser o pornô, não importava quão sexy era a menina ou o quanto tentávamos.”
Anúncios
O fotógrafo e ilustrador João*, 31 anos, de Botucatu, não chega a ter problemas de ereção, porém assume que sente mais prazer vendo pornô do que fazendo sexo. *Nome fictício a pedido do entrevistado.
Em uma transa de meia hora, eu me sinto mais excitado nos primeiros cinco minutos, depois vai perdendo a graça e muitas vezes perco o interesse total”, diz.
Anúncios
Essa situação não acontece quando ele assiste aos vídeos, coisa que faz diariamente. “Às vezes passo horas vendo e consigo manter a excitação o tempo todo.”
Além de não alcançar o mesmo nível de estímulo, João raramente tem orgasmo na relação sexual. Ejaculação retardada ou até ausência de orgasmo, dificuldade de ereção e falta de desejo são alguns dos efeitos colaterais que podem acontecer com aqueles que, mesmo sem querer, substituem o sexo pela pornografia.
O problema está chegando aos consultórios e despertando a atenção de pesquisadores. “Alguns jovens acabam se satisfazendo com uma vida sexual virtual e perdem o interesse no sexo a dois”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo, fundadora e coordenadora do Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade) da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Segundo a médica, que tem atendido casos como esses, a masturbação repetitiva com auxílio da pornografia pode agravar a dificuldade em obter prazer com alguém. “A pessoa se habitua ao sexo solitário e, na hora da relação a dois, o estímulo pode não ser suficiente”, declara.
Para o professor de fisiologia e anatomia Gary Wilson, autor do site “Your Brain on Porn” (“Seu Cérebro no Pornô”, em tradução livre do inglês), muitas disfunções sexuais, sobretudo em jovens, são resultantes do excesso do uso da pornografia. “Esses homens condicionaram a resposta sexual a um estímulo artificial.”
Na tentativa de manter a excitação no sexo, João já tomou medicamento para ereção. “Ajudou, mas não na libido. Pelo menos tive a segurança de não deixar a pessoa na mão”, conta.
Além de buscar acompanhamento psicológico, diminuir ou eliminar o uso da pornografia pode mesmo ajudar quem se sente dependente desse recurso para ter prazer. “É uma forma de aumentar o desejo pela abstinência e de tentar recuperar a necessidade de parceria”, fala Carmita Abdo.
Fonte: Uol