Botucatu: Corrida reuniu pessoas de mais de 300 cidades durante a pandemia. Infectologista lamenta falta de colaboração dos participantes e fiscalização

O Festival Brasil Ride foi realizado em Botucatu no último final de semana, com ciclistas e participantes de todo o Brasil.

De acordo com os organizadores, ciclistas de 328 cidades e 19 estados brasileiros estiveram em Botucatu, além de mais de 200 pessoas da região, que teriam sido contratadas para trabalhar no evento. Esse grande número de pessoas de outras localidades na Cidade, além das aglomerações, durante a pandemia da Covid-19, está causando muita preocupação em profissionais da saúde e boa parte da população botucatuense.

No sábado, 21, no primeiro dia do evento, a reportagem do Jornal Leia Notícias divulgou imagens de aglomeração dos atletas, principalmente na largada da prova. Foi possível notar alguns participantes com a proteção necessária, mas também foram vistos muitos atletas sem a máscara obrigatória, participando sem a exclusão divulgada.

Apesar da organização ter insistido, avisado e divulgado por diversos meios que todos deveriam usar máscara na largada, nos dois dias, nem todos respeitaram.

No domingo, 22, como é possível ver na foto, divulgada pela organização do evento, grande parte parece estar com máscara, mas muitos não estão utilizando de forma correta, deixando no queixo, ou com o nariz para fora, sem respeitar as determinações no combate da Covid-19.

O infectologista chefe do Hospital das Clínicas da Botucatu, Dr. Alexandre Naime Barbosa, referência nacional e internacional sobre a Covid-19, que já havia demonstrado preocupação no sábado, 21, sobre a falta de cuidados por parte de alguns participantes, destacou que a questão não pode ser resumida ao argumento ‘quem não quer ir, fique em casa’. “Por mais que as pessoas digam quem é ‘mimizento’ não sai de casa, vai quem quer, é preciso lembrar que quem pega Covid depois transmite para outras pessoas da Cidade, que estão no comércio, seus familiares, pessoas do seu convívio. Não é uma questão de apenas quem vai se expõe ao risco. É que a pessoa que pegar a doença irá transmitir para outras. Uma pessoa, em média, sem prevenção, transmite a Covid para até três pessoas. No dia seguinte esses três viram nove, depois viram 27, 81 e assim por diante, conforme vai passando os dias. Não é uma questão de risco pessoal. O problema é que você é uma fonte de transmissão, então esse pensamento é egoísta, é falta de empatia e sensibilidade”, disse.

Dr. Alexandre Naime destacou que a culpa não pode ser atribuída a organização do Brasil Ride. “A Organização, apesar de desde o início ter pedido para usar máscara, enfatizou bastante no segundo dia, mas infelizmente não contou com a colaboração de todos os participantes. Do ponto de vista de saúde pública, não daria para fazer um evento assim. A questão não é não fazer eventos em Botucatu, ou parar a nossa economia da Cidade. É fazer com regras de segurança. Não está havendo ação de fiscalização dos órgãos públicos em Botucatu”, lamentou.

O infectologista alerta para o aumento de casos de Covid-19 em Botucatu. “Está ocorrendo esses eventos super-disseminadores em Botucatu e a situação da Covid está aumentando na cidade. Vai piorar a situação. O que custa as pessoas utilizarem máscara para largar, onde estão aglomerados? O que custa ter o mínimo de consciência para que ocorram os eventos? Não sou favorável ao fechamento, mas as regras precisam ser cumpridas para que ocorram. A média móvel em Botucatu subiu mais do que a média móvel no Estado e no Brasil nos últimos dias. É muito perigoso isso que está ocorrendo. Com o aumento no número de casos, é lógico que daqui a pouco chegará em pessoas que são grupo de risco, ou aquelas que são suscetíveis, como um caso de um jovem de Botucatu, de 28 anos, internado com Covid grave, ou do caso de uma menina de 23 anos, que morreu por Covid em Bauru”, enfatizou Dr. Alexandre Naime Barbosa, que avisou.

“Por mais que testemos mais e possamos descobrir mais casos, isso é alarmante. O que está ocorrendo é uma explosão de casos de Covid em Botucatu, maior do que no Estado e no Brasil. Isso está ligado a eventos super-disseminadores. Daqui a pouco começará aumentar as internações, chegando em grupos mais vulneráveis e, infelizmente, aumentarão os óbitos na Cidade”, finalizou.

No sábado, 21, a assessoria do Brasil Ride disse que todos os inscritos receberam máscaras no momento da retirada de kit e foram orientados a usá-las até o momento da largada, de forma obrigatória. A organização disse que seguiu todos os protocolos definidos pelas entidades responsáveis da área de Saúde.

O Jornal Leia Notícias entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Botucatu, no sábado, 21, após os primeiros flagrantes de pessoas sem máscaras, aglomeradas, no evento, com os seguintes questionamentos: “Após vídeos e imagens do evento deste sábado do Brasil Ride, com enorme aglomeração de pessoas, muitas delas não cumprindo o regulamento de uso obrigatório de máscara contra a covid:
Qual será a atitude tomada pela Prefeitura de Botucatu?
Permitirá que o evento continue neste domingo?
Vale lembrar que esses atletas são de diversas cidades do País, muitas dela que não controlam a Covid, como pode estar sendo controlada em Botucatu. Assintomáticos, podem transmitir entre eles, para botucatuenses, além de frequentar nosso comércio, igrejas e restaurantes”.

A Prefeitura de Botucatu, até o momento, que autorizou a realização do evento, não respondeu os questionamentos enviados pela reportagem.

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