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A botucatuense Janaína Mariano, de 34 anos, presidente e treinadora de um time de futebol masculino amador de Botucatu, contou um pouco da sua história.
Ela falou de como começou sua paixão no futebol, as dificuldade de uma mulher treinar um time masculino, dos objetivos e realizações.
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“Nasci na cidade de Botucatu, interior de São Paulo, e tenho 34 anos. Sou descendente de uma família ‘cabocla’, da zona rural, e tenho muito orgulho de vir do sítio. Trabalho na indústria de plástico, tenho cursos na área administrativa, sou cabeleireira e gosto de brincar de ser fotógrafa nas horas livres. Mas minha grande paixão é o futebol. Acredito que o futebol entrou na minha vida desde criança. Meu pai é apaixonado pelo esporte e me levava aos jogos. Quando viu meu interesse, passou a incentivar. É uma paixão de pai para filha mesmo. Família corintiana roxa, com muito orgulho, não tinha como fugir do futebol e me tornei uma fanática também.
Meu pai conta que herdamos toda essa nossa paixão do meu avô Domingos Mariano, já falecido. Mesmo sendo da zona rural, ele não perdia um jogo. Como não tinha aparelho de televisão, ouvia as partidas pelo rádio. Meu pai era criança e ficava ao lado ouvindo junto. Daí para frente, ele nunca mais deixou de acompanhar. Meu avô era são-paulino, por incrível que pareça [Corinthians e São Paulo são times rivais]. Com o tempo e a proximidade com o time de várzea do meu pai, o Real Democratas de Botucatu, comecei a tomar gosto por esquemas táticos, treinamento dos jogadores, tudo o que um treinador de futebol é responsável. Entendo bem do assunto. E 70% do que sei sobre tática, aprendi com meu pai.
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Sempre trabalhamos juntos. Inicialmente, ele como técnico, e eu, auxiliar. Também sempre cuidei da parte burocrática, da contratação de jogadores, patrocínios, marketing. Depois de um tempo, meu pai teve um problema de saúde e precisou fazer cirurgia. Foi quando assumi como técnica. Os olhares machistas se voltaram para mim, mas, quando se tem competência e comprometimento, eles desaparecem. A desconfiança some. Meu trabalho foi sendo reconhecido a tal ponto que não houve resistência por parte dos jogadores. Percebo que eles me respeitam e assimilam meus comandos, o que me deixa muito orgulhosa.
Sempre fui aberta a ideias boas, sugestões, dei essa liberdade para eles. Porém, com limites, e isso criou uma confiança mútua entre nós. Não posso responder por todos, mas acredito que a maioria nunca desconfiou da minha competência.
Provei meu valor e ganhei o respeito por meio de tudo o que conquistei e batalhei pelo time. Mostrei minha perseverança em fazer dar certo, minha coragem em tentar fazer diferente, em quebrar os paradigmas. Teve também toda a minha batalha fora do campo, que ajudou a fazer de nós um time admirado. Juntos fomos campeões do Torneio de Anhembi e vice-campeões do campeonato amador da Série C, em Botucatu. Em quatro anos de campeonatos, estivemos sempre entre as oito melhores equipes e chegamos a disputar a Copa dos Campeões do segmento, com campanhas sempre muito boas.
Iniciamos em 2017 na série C do grupo amador de Botucatu. Conseguimos o acesso à série B, quando fomos vice-campeões. Posteriormente, conseguimos o acesso à série A, nosso maior objetivo. Hoje, tento aprimorar tudo isso. Sempre que posso, acompanho jogos pela TV. Assisto futebol europeu, Superliga, Premier League. Tento aprender o máximo e absorver tudo o que pode ser renovador.
Gosto de mudanças, de estudar táticas diferentes. E sempre tiro referências do Real Madrid, que é o meu time favorito. Meu sonho é ter um time jogando exatamente igual. Discuto bastante tática com meu pai e tento fazer um combo disso tudo para melhorar sempre. Na cidade, todos se renderam à técnica mulher. Na verdade, não tiveram escolha. Nosso caneco de ouro foi fora de casa, disputado com times da região. Foi uma grande conquista para nós e, principalmente, para mim, pois estava no começo e era muito subestimada, especialmente quando ia jogar fora da cidade.
Meu recado para as mulheres é que sejam corajosas e que lutem. Lutem para fazer o que gostam, lutem por aquilo que acreditam e enfrentem as adversidades. Nós somos muito mais fortes do que imaginamos. Somos capazes de tudo, e os homens que lutem, porque sim, somos espertas o bastante para entender, jogar e discutir futebol. Isso ainda é só o começo. Podemos ser presidentes de clubes, técnicas, mecânicas, motoristas de ônibus, soldadoras. Não existe limite para aquilo que podemos ser. O sexo não define nossa força, não somos frágeis, somos guerreiras, fortes e inteligentes. O maior reconhecimento de ser quem eu quero ser é o orgulho de mim mesma quando vejo os resultados que tanto almejo”.
UOL – Universa