24 de novembro, 2024

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Atropelamentos de animais crescem na região de Botucatu e concessionárias buscam soluções

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O aumento no número de ocorrências envolvendo o atropelamento de animais nas rodovias da região, muitos deles silvestres, e ameaçados de extinção, tem levado as concessionárias a adotarem medidas com o objetivo de minimizar riscos de acidentes. As ações incluem desde a construção de passagens de fauna até a instalação de telas às margens das vias. Para especialista ambiental, apesar de reduzirem as chances de atropelamento, as medidas ainda são insuficientes para garantir a preservação das espécies (leia mais abaixo).

Pelo fato de muitos atropelamentos não serem registrados oficialmente, há uma dificuldade de conseguir dados estatísticos sobre as ocorrências. Na madrugada do último dia 21, um tamanduá-bandeira foi encontrado morto, vítima de atropelamento, na ponte sobre o rio Batalha, em Bauru. No início do mês, dois lobos-guarás morreram atropelados em rodovias de Jaú e Brotas.

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O professor Carlos Teixeira, que é coordenador do Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens (Cempas) da Unesp de Botucatu, uma das referências na região no atendimento de animais feridos, conta que, no período de 1 de setembro a 30 de novembro, o órgão recebeu 129 animais, 24 deles vítimas de atropelamento, incluindo tamanduás-bandeiras, lobos-guarás e onças pardas.

O JC acionou o DER no último dia 10, mas, até ontem, o órgão não enviou dados sobre os atropelamentos nas rodovias Engenheiro João Baptista Cabral Renno (SP-225), entre Santa Cruz do Rio Pardo e Ipaussu, Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294), Bauru-Marília, Cezário José de Castilho (SP-321), a Bauru-Iacanga, e Deputado Leônidas Pacheco Ferreira (SP-304), a Jaú-Bariri.

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Em nota, o DER disse que, quando as viaturas flagram animais soltos nas rodovias estaduais, fazem a remoção até o Centro de Zoonoses ou um local apropriado mais próximo. O órgão explicou que também desenvolve ações de conscientização sobre tutela de animais domésticos junto aos moradores às margens das rodovias e orienta sobre a importância de as áreas serem cercadas.

AÇÕES

A Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), responsável pelas rodovias sob concessão, disse que, entre janeiro e novembro de 2018, foram registrados 66 acidentes com animais na rodovia Marechal Rondon (SP-300), entre os kms 229,25 e 447,85, no trecho entre Lins e Botucatu, e dez na SP-225, entre os kms 223,2 e 317,8, no trecho entre Bauru e Santa Cruz do Rio Pardo.

“As 21 concessionárias de rodovias paulistas adotam uma série de medidas preventivas sob orientação da Artesp visando reduzir os riscos de acidentes envolvendo animais. As ações vão desde o monitoramento constante das pistas por sistema de câmeras até a instalação de telas ao longo de trechos das rodovias e a construção de passagens de fauna para os animais atravessarem sem cruzar diretamente a pista”, revela.

“Em toda a malha de rodovias concedidas no Estado de São Paulo, atualmente, existem 117 passagens de fauna já instaladas. Além dessas, outras 36 estão em processo de implantação”. De acordo com a Artesp, nos trechos de rodovias às margens de mata, as vítimas mais frequentes de atropelamento são os animais silvestres, como capivaras, tatus, cachorros do mato, lobos-guará e onças.

MAPEAMENTO

A Concessionária Auto Raposo Tavares (Cart) implantou um programa de mitigação de atropelamento de fauna nas rodovias sob sua concessão, que inclui o mapeamento das estruturas já existentes e indícios de animais que realizam as travessias, análise do banco de registros de ocorrência com animais e adoção de ações efetivas, como construção de passagens, implantação de telas de condução e sinalização nas vias.

“Atualmente, a Cart conta com 150 passagens de fauna nas rodovias SP-270 – Rodovia Raposo Tavares, SP-327 – Orlando Quagliato e SP-225 – João Baptista Cabral Rennó. Também foram implantados 50 km de telas de condução de fauna. Na região de Bauru a Ourinhos, a Cart monitora doze passagens, onde já foi possível registrar a travessia de animais de 38 espécies diferentes, dentre elas, exemplares ameaçados de extinção, como lontra, furão, gato-do-mato-pequeno, tamanduá-bandeira e até mesmo lobo-guará”, diz.

“Animais encontrados feridos no corredor são encaminhados para o Zoológico de Bauru, onde recebem tratamento adequado por equipe de especialistas, e, uma vez reabilitados, são reintroduzidos em seu habitat natural por meio de procedimentos de soltura”.

Renan CasalPara Luiz Pires, as espécies mais vulneráveis na região são a onça-parda e o lobo-guar

Para especialista, ações devem ser planejadas e monitoradas

Na avaliação do zootecnista Luiz Pires, diretor do Zoológico Municipal de Bauru, as medidas que estão sendo implantadas pelas concessionárias de rodovias contribuem para reduzir os riscos de atropelamentos de animais, mas não são suficientes para solucionar de vez esse problema, que estaria afetando várias espécies ameaçadas de extinção. Além do planejamento, ele defende o monitoramento frequente das estruturas.

“É muito nova essa questão de se fazer as exigências de medidas de mitigação desses acidentes nas rodovias. Até então, a preocupação maior era só com a questão do corte de árvores. Agora existe essa pressão e as concessionárias vem se preocupando em trazer algumas soluções. Só que, seja qual for a solução, os atropelamentos vão continuar acontecendo”, afirma.

“Quando você cerca as rodovias, tem animais que vão escalar a tela, tem animais que vão cavar e passar por baixo, tem as aves que vão vir voando. A gente tem que aprender muito porque o que a gente tem de tecnologia foi desenvolvido em outros continentes, como Europa e Estados Unidos, e muitas dessas técnicas não se aplicam aqui”.

Entre as alternativas defendidas por Pires está a construção de passagens de fauna aproveitando as estruturas que já existem para escoamento de água. “Só que fazer a passagem de fauna não basta. Você tem que fazer o animal ir para a passagem de fauna e cercar próximo, de forma que dificulte o animal ultrapassar, para que ele encontre a passagem”, explica.

O zootecnista também ressalta a importância da realização de um mapeamento prévio para identificar quais são as espécies mais vulneráveis em cada região e qual o tipo de passagem adequado para cada uma dessas espécies. “E as passagens têm que ser monitoradas permanentemente para ver se os animais estão usando elas ou não”, pontua.

NÚMEROS

De acordo com Pires, estudo feito pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, revelou que 400 milhões de vertebrados morrem atropelados todos os anos em rodovias do país. “Hoje, o atropelamento já é considerado a principal causa da perda da nossa biodiversidade. E, para alguns animais, inclusive, ele leva à extinção local de espécies”, lamenta.

Na região, o diretor do Zoo conta que as espécies mais vulneráveis a atropelamentos são a onça parda e logo-guará. “Machos de onça parda não guardam território. Eles vão andando atrás de áreas de alimentação e a procura de fêmeas”, revela. “Nos últimos cinco anos, só o zoológico atendeu 17 casos de onças pardas atropeladas. Nos trinta anos anteriores, a gente tinha atendido um caso só”.

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