24 abril, 2024

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Artigo: O canto da sirene – Por Dr. André Balbi

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Para começar bem o ano, tive a ousadia de resumir um texto pu­blicado pelo meu filho Henrique*, já citado antes.

Cada vez que leio, vejo a beleza das ima­gens dançando em frente dos meus olhos…

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“O menino sai corren­do, perfurado pelo som de uma sirene em alto vo­lume. Para na janela. As mãos espalmadas contra o vidro, como se o impedis­se de seguir a ambulância pela rua. Ele a acompanha com o olhar e dá um suspi­ro. Volta à mudez habitual.

Dona Cassandra era mesmo a avó favorita e também a única. Ela já ajudava bastante desde o diagnóstico do menino, e ainda mais depois do aci­dente do pai. Meses hor­ríveis, em que pisavam no estilhaço dos dias.

A filha de dona Cassan­dra era quem mais havia se desgastado no processo, não menos pela solidão. Uma vez disse para a mãe que se sentia um dique, quase não suportando os golpes da maré. Cada vez que pisava no hospital era mais um golpe da maré.

Dona Cassandra esten­dia a mão para segurar a da filha. Aquele toque, mãos envolvendo-se, o calor, as rugas ao redor dos dedos e no dorso, um entrelaçar de mães, parecia o golpe final. Estouro da barragem.

A avó não estava na casa no dia. O menino na sala, quieto, montava uma torre de Lego. A mãe con­centrada e o pai no banho. Escutou-se um barulho, uma pancada — depois a monotonia da corrente do chuveiro. A mãe e o meni­no se assustaram, mas só ela correu até lá. Abriu a porta, logo a fechou e pe­gou o celular. Dois homens entraram carregando uma espécie de cama portátil e saíram carregando o pai.

Os dedos da mãe se fe­charam em torno do braço do menino: – tudo bem con­tinuar montando a torre no apartamento da vovó?

A cada sirene que passa na avenida, principalmen­te quando dona Cassan­dra está num sono pesado e o apartamento emudece como o mar num dia bom, o menino corre até o vidro, bate as mãos com força e assiste, concentrado, à trajetória da ambulância que percorre o asfalto gri­tando. Sempre no aguar­do, quieto, sem nunca fazer a pergunta, a única pergunta possível, a única pergunta possível e urgen­te, inescapável. Prefere o silêncio”.

* https://revistagueto. com/2018/11/19/o-can­to-da-sirene-de-henrique­-balbi/

**Dr André Balbi é médico nefrologista, professor adjunto de Nefrologia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) e atual Superintendente do HCFMB.

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