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Ao menos 170 ciclistas realizaram um protesto, na noite desta terça-feira (23), para cobrar mais infraestrutura e segurança no trânsito para bicicletas em Piracicaba (SP). O ato ocorre no dia seguinte a um atropelamento que matou o aposentado José da Costa Gonçalves, de 57 anos. Ele conduzia uma bicicleta e foi atingido por um ônibus.
O ato teve concentração na Avenida Comendador Luciano Guidotti, a mesma onde ocorreu o atropelamento, e os manifestantes seguiram em duas faixas até o local onde ocorreu o acidente, empurrando as bicicletas. Agentes da Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Semuttran) acompanharam a manifestação.
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Integrante do coletivo Mais Ciclovias Piracicaba, ativo desde junho de 2020, Alessandra Ribeiro explica que entre os objetivos da manifestação está chamar a atenção das autoridades e, além de cobrar a implantação de ciclovias e ciclofaixas, que seja realizada uma campanha de conscientização e humanização no trânsito.
“Em abril, quando foi apresentado o plano de 100 dias, o prefeito Luciano Almeida (DEM) abriu a pasta de mobilidade e colocou que nós teríamos na gestão dele, durante os quatros anos, 40 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, para cada ano dez quilômetros. E para esse ano, até agora, não tivemos nada”, afirma Alessandra.
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Para ela, a cidade não tem infraestrutura para acolher ciclistas, tanto para lazer como para os que usam a bicicleta como meio de transporte. “Piracicaba tem uma cultura enraizada com veículos motorizados e o espaço para nós ciclistas é pequeno e inseguro”.
Ela diz que já existe uma conversa de coletivos com o Executivo e Legislativo para melhorias e que o ato reforça a reivindicação. “Não somos engenheiros e técnicos da área de mobilidade, mas somos ciclistas, então entendemos algumas necessidades”.
Rina Prates, que usa a bicicleta tanto para lazer quanto para ir ao trabalho, já foi vítima de acidente enquanto pedalava na cidade. Foi atingida por um carro em um ponto com sinalização de ‘pare’ e na faixa de pedestres, também na Avenida Comendador Luciano Guidotti, na saída para Saltinho (SP), mas o caso não foi grave.
“Os motoristas, hoje, infelizmente, não estou generalizando todos, eles não têm respeitado os ciclistas, principalmente nas vias. Porque a gente pedala na zona rural, urbana. Muitos usam suas bikes para trabalho, não só para passeio”, explica.
Integrante do grupo de ciclistas Pedalar, Oliver Old reivindica mais ciclovias e mais respeito no trânsito.
“Não é a primeira vez que acontece isso. Inclusive, nessa avenida mesmo, ela dá continuidade da Independência, onde, há dois anos teve um ocorrido que perdemos um ciclista nosso. E nós estamos pedindo mais ciclovias nessa avenida e mais pontos da cidade”.
Ele também relatou a morte de duas ciclistas na Rodovia do Açúcar. “Estávamos vindo da cachoeira do sapezeiro. Isso aí foi na rodovia mesmo”.
O que diz a prefeitura
Em nota, a prefeitura informou que a construção de 40 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas nos próximos quatro anos vai ser iniciada em dezembro e garante que a “a partir de agora, a mobilidade ativa, em que as bicicletas estão inseridas, passa a integrar as prioridades da pasta”.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
E apontou, também, que a Semuttran já abriu um processo licitatório, em andamento, para a contratação de empresas para a elaboração de estudos e projetos básicos de ciclovias, que serão implantadas em importantes avenidas da cidade, como as que foram elencadas pelos participantes da Pesquisa CicloVidas, realizada em maio.
A administração aponta que trabalha para criar ciclorrotas turísticas para Saltinho, Santana-Santa Olímpia, Tupi, Tanquinho e Artemis. “São rotas já utilizadas pelos ciclistas e apontadas na pesquisa do Ciclovidas”, explica.
“A Semuttran realizou a revitalização de algumas ciclovias e ciclofaixas, com a substituição e reparo da sinalização vertical da ciclovia da Av. Cruzeiro do Sul e a sinalização horizontal, com a colocação de tachões, das ciclofaixas sobre a ponte do Morato e Av. Sérgio Caldaro”, acrescentou.
A pasta informou, ainda, que está implantando em importantes vias da cidade linhas de redução de velocidade (LRV) e pictogramas colocados no pavimento asfáltico, representando placas de trânsito de limite de velocidade.
Além disso, comunicou que prepara uma campanha de conscientização sobre a manutenção de 1,5 metro de distância lateral ao passar ou ultrapassar uma bicicleta. “As bicicletas, que também são autorizadas a trafegar pelas vias públicas, precisam de maior segurança, e essa distância regulamentada é uma das medidas mais importantes”, completou.
O caso
O atropelamento ocorreu por volta de 8h30 e a vítima morreu no local. De acordo com informações apuradas pela reportagem, o ônibus de uma empresa por aplicativo transportava 20 passageiros.
O veículo saiu da cidade de São Pedro (SP) com destino a São Paulo (SP) quando, ao passar pela avenida em Piracicaba, atingiu o ciclista que seguia pelo acostamento da via.
A Grandino Turismo, proprietária do ônibus, lamentou o acidente e informou que as circunstâncias dele ainda estão sob investigação.
“Além de se solidarizar com familiares e amigos da vítima, a Grandino Turismo ressalta que vem prestando todos os esclarecimentos necessários às autoridades policiais, bem como todo o auxílio necessário à família da vítima”, informou.
A Buser, plataforma que intermediou a viagem, disse por nota que lamenta profundamente o acidente que vitimou o ciclista e explicou que o veículo era subcontratado por uma empresa que atua como parceira da plataforma.
“Ao se solidarizar com familiares e amigos da vítima, a Buser ressalta que as circunstâncias do acidente ainda estão sendo investigadas”, disse a nota.
Filho cobra investigação
Filho do aposentado José da Costa Gonçalves, de 57 anos, que morreu atropelado no acidente de segunda-feira, Danilo Mendes da Costa cobra investigação sobre o caso e também aponta falta de estrutura para ciclistas na cidade.
O acidente ocorreu na Avenida Comendador Luciano Guidotti. José deixou a esposa, com quem foi casado por 30 anos, e o filho de 31 anos.
Danilo conta o pai costumava fazer tudo de bicicleta e, naquela manhã, estava a caminho do banco. A família mora no bairro Ary Coelho, próximo ao local do acidente.
“Quando eu tive a certeza de que meu pai havia sido vítima fatal desse acidente, o sentimento que eu tive foi uma mistura de desespero, angústia e incompreensão”, declarou o filho.
O sepultamento do aposentado foi às 11h desta terça-feira (23), no Cemitério Parque da Ressureição.
Tacógrafo inoperante
No boletim de ocorrência consta que o tacógrafo do ônibus estava inoperante. O equipamento realiza monitoramentos como tempo de uso, a distância percorrida e a velocidade. Até o momento da publicação desta matéria, a empresa não deu um esclarecimento sobre a falta de manutenção.
“Eu quero que a investigação seja feita, quero laudos, quero saber tudo do que realmente aconteceu, porque não foi uma mera fatalidade a morte do meu pai. Eu quero justiça!”, constatou Danilo.
Estrutura para ciclistas
O filho também complementa que existe uma falta de cuidado dos motoristas com os ciclistas, que são os mais vulneráveis no trânsito, mas também diz que faltam estruturas para bicicletas na cidade.
“Piracicaba é uma cidade que tem paisagens lindas para serem contempladas de bicicleta, mas não tem o mínimo de infraestrutura para dar segurança aos ciclistas”, afirmou.
Piracicaba está há cinco anos sem novas ciclovias. Em abril, após reivindicação de ciclistas, a prefeitura anunciou um projeto com mais 10 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas por ano.
Em julho, informou que a Avenida Laranjal Paulista será a primeira contemplada pelo projeto CicloVidas. Atualmente, o município tem 5,85 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, maior parte voltada para atividades de lazer localizadas às margens do Rio Piracicaba.
Fonte: G1 – Foto: Caroline Giantomaso/ g1