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Muito preocupados com a forte seca de inverno, agricultores catalães levaram relíquias de seu santo padroeiro até a cidade francesa de Perpignan, nos Pireneus Orientais, e reviveram uma tradição abandonada por mais de um século, na esperança de atrair chuva à região.
“Em um momento em que a situação é tão crítica, trazemos todos os santos possíveis, convocamos todos”, resume em tom de brincadeira Julien Bousquet, 29 anos, jardineiro e arborista, que participou do cortejo, realizado no último sábado (18).
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Muito preocupados com a forte seca de inverno, agricultores catalães levaram relíquias de seu santo padroeiro até a cidade francesa de Perpignan, nos Pireneus Orientais, e reviveram uma tradição abandonada por mais de um século, na esperança de atrair chuva à região. Em 18 de março de 2023. — Foto: AFP – RAYMOND ROIG
Sob o céu tempestuoso, centenas de pessoas – clero, irmandades religiosas, agricultores e curiosos – participaram da procissão pelas ruas da velha Perpignan, carregando relíquias do padroeiro dos agricultores catalães, Saint-Gauderique.
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A procissão católica terminou às margens do Têt, um dos principais rios dos Pirineus Orientais. Quatro agricultores caminharam nas águas rasas, carregando nos ombros um busto-relicário de Saint-Gauderique, para pedir sua intervenção.
“Este ritual não era praticado há quase 150 anos”, disse o sacerdote da catedral de Perpignan, Benoît de Roeck, que liderou a cerimônia organizada a pedido de um viticultor local.
Santo camponês
Saint-Gauderique (Galdéric em catalão), um camponês que viveu no século IX, é um dos santos catalães mais famosos e celebrados, e era “tradicionalmente invocado para problemas de água”, ele explica.
Entre os séculos XI e XIX, foram realizadas na região 800 procissões em sua homenagem, conta Jean-Luc Antonizazzi, historiador especializado em arte barroca catalã, que especifica: “foi invocado por falta ou excesso de água, mas também para a peste”.
Se o ritual “acabou nos anos 1850-1880 com o advento da era industrial”, o santo “não caiu no esquecimento”, ele prossegue, lembrando que sua festa ainda é celebrada em 16 de outubro e que as crianças ainda carregam o nome de Galdéric até hoje.
No entanto, esse retorno da devoção em 2023 coincide com uma situação de crise descrita como inédita pelos agricultores. “Agora estamos agarrados a tudo”, admite André Trives, 40, horticultor em agroecologia, que descreve uma situação “catastrófica”.
“Sabemos que se não houver reabastecimento até abril-maio (…) no dia 15 de agosto não haverá mais água”, teme, dizendo que não esperaram, no entanto, por Saint-Gauderique para rezarem por água”.
Expectativa e esperança
“A Météo-France [agência de meteorologia francesa] anunciou chuva neste fim de semana (…) seriam necessárias semanas inteiras de precipitação para a água penetrar no solo e recarregar os lençóis subterrâneos”, acrescenta Julien Bousquet, observando a procissão religiosa.
Desde outubro, o departamento dos Pirineus Orientais, um dos mais afetados pela seca na França, registrou apenas 159,4 mm de precipitação, um déficit de 60,8% da precipitação em relação à precipitação sazonal normal, de acordo com dados da Météo-France.
“Está tudo praticamente seco (…) é muito preocupante, mas estamos na expectativa e na esperança. Devemos rezar, teremos água”, tenta se convencer Damien De Besombes, 50 anos, enólogo que se ofereceu para carregar as relíquias.
Fonte: Yahoo!