28 março, 2024

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A curiosa origem do mito de que a alma humana pesa 21 gramas

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Se os antigos egípcios estiverem certos, após a morte nós empreendemos uma longa e tortuosa jornada dentro no barco de Re ou Ra, o deus Sol, até chegarmos ao Salão da Dupla Verdade, para enfrentar o Julgamento da Alma.

No clímax, o coração — no qual todas as boas e más ações são registradas — é pesado em uma balança para ser comparado com a pena de Maat, a deusa da Verdade e da Justiça.

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Se tivermos levado uma vida decente, nossa alma pesará menos ou o mesmo que a pena, e será possível viver para sempre no paraíso com Osíris.

Ecos dessa cerimônia apareceram em um estudo publicado nas revistas American Medicine e no Journal da American Society for Psychic Research em 1907 sob o título “Hipótese sobre a substância da alma junto com a evidência experimental da existência dessa substância”.

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O peso da alma

Uma manchete do jornal “The New York Times”, o primeiro a publicar o resultado do estudo, foi mais clara e concisa: “A alma tem peso, diz um médico.”

O médico em questão era Duncan MacDougall, que nasceu em Glasgow, na Escócia, em 1866, e se mudou para Massachusetts, nos Estados Unidos, aos 20 anos. Ele então se formou em Medicina na Universidade de Boston.

Como profissional, ele trabalhou de maneira voluntária em um hospital de caridade para pacientes incuráveis ​​na cidade de Haverhill.

A balança ideal

A sede original da Casa da Tuberculose Cullis pertencia a um comerciante que negociava com a China e, quando ele se mudou, tudo foi trazido para o novo prédio, até mesmo artefatos irrelevantes.

Um deles era uma balança de plataforma padrão Fairbanks, um dispositivo inventado em 1830 que se tornou mundialmente famoso por permitir que grandes objetos fossem pesados ​​com precisão.

Encontrar uma balança em um hospital onde a morte era uma constante fez MacDougall ter uma ideia: por que não tentar pesar a alma?

Segundo o artigo publicado no “The New York Times” seis anos depois, seu objetivo era investigar “se a saída da alma do corpo eram acompanhada por alguma manifestação que pudesse ser registrada por algum meio físico”.

Embora seu propósito não fosse tão importante quanto o dos deuses egípcios, implicitamente o escopo de seu estudo, sim.

Segundo algumas religiões, a alma é uma substância espiritual e imortal dos humanos, que deixa o corpo após o morte — Foto: Getty Images/BBC
Segundo algumas religiões, a alma é uma substância espiritual e imortal dos humanos, que deixa o corpo após o morte (Fotos: Reprodução/BBC)

MacDougall partiu da premissa de que a alma deixa o corpo na hora da morte, então ele não questionava sua existência. O resultados de sua pesquisa tinham o potencial de provar cientificamente que a alma existe, embora não fosse essa a sua intenção.

Ele construiu uma cama especial ao colocar uma estrutura leve em balanças delicadamente equilibradas, sensíveis a dois décimos de onça (cada onça equivale a 28,3 gramas).

No local, eram colocados pacientes em fase terminal, que eram meticulosamente observados durante e após o processo de morte.

Qualquer variação correspondente ao peso era medida, levando-se em consideração nos cálculos até perdas de fluidos corporais, como suor e urina, e de gases, como oxigênio e nitrogênio.

Com “quatro outros médicos” sob sua direção, “cada um fazendo suas próprias medições”, foi estabelecido, de acordo com MacDougall, que “um peso de 0,5 a 1,25 onça deixa o corpo no momento da morte”.

“No instante em que a vida cessa, a bandeja na balança oposta caiu com velocidade surpreendente, como se algo tivesse deixado repentinamente o corpo”, disse o médico.

MacDougall também fez o mesmo experimento com 15 cães e observou que “os resultados foram uniformemente negativos, sem perda de peso na morte”, corroborando a hipótese de que a perda de peso registrada em humanos foi devido à saída da alma do corpo, visto que (de acordo com sua doutrina religiosa) os animais não têm almas.

Problemas metodológicos

Um problema sério com aquele estudo que durou seis anos é que foi baseado exatamente em um número pequeno de casos: seis.

Além disso, duas pessoas não puderam ser consideradas para os resultados. A primeira porque “infelizmente nossas balanças não foram ajustadas com precisão e houve muita interferência de pessoas que se opuseram ao nosso trabalho”, segundo MacDougall.

O outro caso foi descartado porque “não foi um teste justo: o paciente morreu quase cinco minutos depois de ser colocado na cama e enquanto eu ajustava a haste”.

E não só a conclusão partiu da observação de apenas quatro casos. Embora em três tenha havido queda imediata de peso, em dois deles o peso aumentou com o tempo. Já no quarto caso, a queda foi revertida, e depois se repetiu.

Adicione a isso o fato de que MacDougall e sua equipe tiveram dificuldade em determinar a hora exata da morte, um fator determinante na investigação.

Para ser justo, embora vários jornais (principalmente da região mais religiosa dos Estados Unidos) tratassem os resultados do experimento como uma prova irrefutável da existência da alma, o próprio MacDougall não estava convencido de que seu trabalho havia provado alguma coisa.

Para ele, seu relatório foi uma avaliação preliminar e mais estudos eram necessários.

Mas nem isso nem o fato de que a comunidade científica negou a validade do experimento o impediu de influenciar o público.

A ideia de que a alma pesa 0,75 onça, ou melhor, 21 gramas, que foi a diminuição de peso registrada no primeiro caso do experimento de MacDougall, continua viva.

Fonte: BBC

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