28 de novembro, 2024

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Pós-pandemia: sequelas da Covid-19 preocupam médicos

Pós-pandemia: sequelas da Covid-19 preocupam médicos

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Com o avanço da vacinação, já é possível ter a esperança de que a pandemia de Covid-19 possa estar chegando ao fim. No entanto, médicos e pesquisadores alertam que as consequências da doença podem persistir por anos, mesmo após a fase aguda ter passado. Essas sequelas, também conhecidas como “Covid longa”, afetam diversos aspectos da saúde, desde a respiração e a função pulmonar até a cognição e a saúde mental.

O aparecimento desses quadros, de acordo com estudos recentes, é bastante comum. Segundo o inquérito Covitel, realizado pela organização internacional Vital Strategies, cerca de 65% dos brasileiros que contraíram a Covid-19 relatam algum tipo de sequela. Em certos casos, esses problemas podem exigir cuidados médicos e sobrecarregar o sistema de saúde. A seguir, especialistas explicam algumas das sequelas mais frequentes.

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Complicações cardíacas

A cardiologista Dra. Seliny Campelo explica que uma das complicações cardíacas mais frequentes é a lesão miocárdica aguda: uma inflamação no coração que pode ser detectada através de exames de sangue. Já a segunda complicação mais comum é o desenvolvimento de arritmia seguida de miocardite, uma inflamação no músculo do coração que pode deixar o órgão mais fraco e propenso à insuficiência cardíaca. Também foi identificada, em muitos casos, a hipertensão pulmonar que acaba pressionando o lado direito do coração e prejudicando o bombeamento do sangue. “Essas complicações pós-Covid foram identificadas em estudos no mundo inteiro”, destaca a médica.

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Sequelas pulmonares

As sequelas pulmonares mais comuns atualmente, de acordo com o pneumologista Dr. João Carlos de Jesus, são tosse seca e dor no pescoço e tórax, que podem persistir por até oito semanas. Pacientes com asma ou DPOC também podem piorar após contraírem o vírus. Além disso, segundo o médico, muitos pacientes passam a apresentar dificuldade para atividades físicas e tarefas do dia a dia. “Esses sinais indicam que o corpo mudou. É importante realizar exames para entender se houve dano pulmonar”, alerta o médico. Ele acrescenta, também, que a fibrose pulmonar, que preocupava no início da pandemia, já ocorre mais raramente devido à diminuição dos casos graves. 

Comprometimento da função cognitiva

O neurocientista Dr. Wellington Bruski explica que, atualmente, especialistas ainda buscam entender como o vírus pode provocar lesões no cérebro e causar sintomas como dificuldades de memória, de concentração e de raciocínio. Ele afirma que as perdas cognitivas podem levar a problemas como depressão e necessidade de auxílio para atividades cotidianas. “Muitas pessoas não conseguem mais armazenar informações em seus cérebros”, comenta. Dr. Wellington também destaca que, apesar desses desafios, tratamentos já têm se mostrado eficazes na recuperação de funções cognitivas. 

Ansiedade e depressão

É inegável que a pandemia da Covid-19 afetou a saúde mental de todos em alguma medida, levando ao aparecimento de problemas psiquiátricos em alguns casos. Para quem adoeceu devido à Covid-19, esses transtornos podem se manifestar de forma ainda mais intensa, como explica a psicóloga Drª Joana D’Arc Sakai. “Uma parcela de pacientes recuperados da Covid-19 foi diagnosticada com problemas como ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e insônia”, ressalta. Essas questões podem gerar sintomas físicos como dor, fraqueza e falta de ar, ou até incapacitar o paciente para o trabalho e demais atividades cotidianas. Em todos esses casos, de acordo com a psicóloga, é necessário procurar tratamento.

Doenças oculares

O oftalmologista Dr. Daniel Kamlot detalha que o coronavírus pode provocar trombose nos vasos sanguíneos dos olhos, causando a obstrução das veias da retina. As principais consequências são a baixa visual e o edema macular (inchaço na área central da visão). Em casos graves, também pode ocorrer a isquemia, que é a falta de oxigenação na região. Além disso, cerca de 2% dos pacientes apresentam conjuntivite viral durante a infecção pelo coronavírus, com potencial para deixar sequelas. O Dr. Daniel lembra ainda que a pandemia levou a um aumento no uso de telas, o que pode causar ressecamento ocular e aumentar o risco de desenvolvimento de miopia. “Vamos entender a longo prazo esses efeitos”, comenta ele. 

Queda de cabelo 

Uma outra consequência da Covid-19 é a queda de cabelo devido ao “eflúvio telógeno”. A dermatologista Dra. Gabriela Bernhard explica que, nesse quadro, os fios de cabelo entram em uma fase de queda precoce devido ao estresse que a infecção causa no organismo. Em pacientes que se recuperaram da Covid-19, segundo a especialista, a perda de cabelo costuma se acentuar cerca de quatro semanas após a infecção. “Essa queda de cabelo geralmente é autolimitada e melhora espontaneamente após dois a seis meses”, relata a médica. Em casos que duram mais tempo, é recomendado o acompanhamento com um dermatologista, que poderá indicar um tratamento medicamentoso. 

AVC e trombose: Dra. Letícia Costa 

A cirurgiã vascular Dra. Letícia Costa alerta que o risco de desenvolver algum evento trombótico após o diagnóstico de Covid-19 é de cerca de 16%. Esse risco se concentra principalmente nos primeiros 30 dias da doença e nos pacientes hospitalizados. “Além da grande quantidade de mediadores inflamatórios produzidos devido à infecção, ocorrem também alterações na coagulação, aumento da viscosidade sanguínea e lesões dentro dos vasos”. detalha. De acordo com a especialista, todas essas alterações, associadas a outras comorbidades, têm contribuído para aumentar o risco de desenvolvimento de trombose. 

 Infertilidade

A Covid-19 também pode comprometer a fertilidade principalmente dos homens, segundo o especialista em reprodução assistida Dr. Alessandro Schuffner. “Em doentes graves, o organismo joga sua energia para outras partes, e não para os testículos”, explica. Além disso, a febre também pode comprometer o funcionamento dos órgãos reprodutores masculinos. As mulheres, por outro lado, não parecem ter o aparelho reprodutivo prejudicada pela doença. O Dr. Alessandro pontua, no entanto, que os estudos sobre o assunto ainda são iniciais: o tempo de duração dos efeitos sobre a fertilidade e os possíveis impactos em mulheres ainda não são totalmente conhecidos.

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