21 de julho, 2025

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Zimbábue vive escalada de conflitos entre humanos e elefantes em meio à crise ecológica

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Sempre que ouve o barulho característico de um elefante, o africano Joramu Dipuka revive o trauma. Morador do bairro de Batonga, nos arredores de Kariba, no Zimbábue, ele quase perdeu a vida em 2013 após ser atacado por um desses animais.

“De repente, eu estava no chão, enquanto o elefante prendia suas presas na minha lombar, tentando me jogar contra uma árvore”, relatou ao El País. Apesar disso, ele diz que se sentia sortudo, pois o animal não lhe deu uma cabeçada, mas, sim, o jogou em uma vala infestada de crocodilos. “Assim que o elefante desapareceu, reuni forças para sair e fui em direção a uma ponte.”

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O caso de Dipuka é parte de um problema maior que se agrava a cada ano no país africano: os conflitos entre humanos e animais selvagens. Só nos três primeiros meses de 2025, a Autoridade de Gestão de Parques e Vida Selvagem do país registrou 18 mortes envolvendo encontros entre pessoas e elefantes, leões e hienas. Nos últimos cinco anos, este número foi de 300.

“A principal causa do conflito entre humanos e animais selvagens no Zimbábue, especialmente em Kariba, é o crescimento populacional humano e a invasão de áreas selvagens”, apontou o conservacionista comunitário Amos Gwema. “À medida que a população humana aumenta, as áreas selvagens diminuem, levando ao aumento dos conflitos.”

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As mudanças climáticas agravam esses problemas, pois tanto humanos quanto elefantes invadem as terras uns dos outros em busca de alimento e água. O El País destaca que Kariba é particularmente caracterizada por padrões de chuva irregulares e altas temperaturas, e o resultado é um ambiente difícil para a coexistência entre as espécies.

Também entram na lista recursos limitados, caça ilegal e falta de medidas de fiscalização, o que dificulta a implementação de métodos eficazes para encontrar um equilíbrio entre conservação e proteção. “Além disso, o crescimento da vida selvagem, especialmente de elefantes, agrava a situação”, enfatizou Gwema.

Zimbábue vive escalada de conflitos entre humanos e elefantes em meio à crise ecológica (Foto: Unsplash)

Abate de elefantes

Estima-se que, atualmente, o Zimbábue tenha cerca de 100.000 elefantes. Mas, no início de junho, a Autoridade de Parques Nacionais e Vida Selvagem do país (ZimParks) anunciou sua intenção de abater pelo menos 50 indivíduos na Reserva do Vale do Save, na região Sul.

Um comunicado da ZimParks informa que a área abriga cerca de 2.550 animais da espécie, apesar de sua capacidade ecológica de 800. Isso representa três vezes mais elefantes do que o habitat pode suportar.

O anúncio do abate, no entanto, foi recebido com resistência por conservacionistas e organizações ambientais. “O abate é uma solução violenta e de curto prazo que ignora as complexas estruturas sociais das manadas de elefantes, corre o risco de traumatizar os animais sobreviventes e, em última análise, não aborda as causas profundas do estresse do habitat e do conflito entre humanos e elefantes”, declarou o Centro de Recursos Naturais e Governança (CNRG), em comunicado.

A entidade acrescentou que “matar animais selvagens que são a base da economia do turismo ameaça meios de subsistência sustentáveis. No Zimbábue, o turismo é o terceiro maior setor econômico e contribuiu com US$ 433 milhões para o PIB do país. Essa indústria depende fortemente de populações saudáveis de animais selvagens e áreas protegidas intactas e pode sofrer significativamente com o abate de animais selvagens”.

Para o CNRG, o que é necessário é uma estratégia nacional para a expansão da área de distribuição de elefantes, corredores ecológicos e maior investimento na conservação transfronteiriça dos animais. “Métodos contraceptivos, engajamento comunitário e restauração da paisagem oferecem opções muito mais humanas e sustentáveis do que a matança sancionada pelo Estado”, complementou.

Gwema sugeriu que, em vez de abater animais, o governo poderia considerar a venda de elefantes para países que não os possuem ou o aumento das cotas de caça. “Essa estratégia não apenas conteria o número de animais, mas também geraria receita para os esforços de conservação”, observou.

Outra opção, segundo ele, seria realocar os elefantes de áreas com alta concentração de animais para áreas menos povoadas. “Além disso, alguns projetos inovadores, como armas de pimenta e cercas em forma de colmeia, podem impedir que os elefantes invadam assentamentos humanos”, finalizou.

Fonte: Um Só Planeta

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