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Depois da Namíbia, agora será a vez de Zimbábue abater elefantes para alimentar as comunidades afetadas pela pior seca das últimas quatro décadas – a estiagem, induzida pelo El Niño, destruiu colheitas na África Austral, causando escassez de alimentos, e impactou 68 milhões de pessoas.
“Estamos planejando abater cerca de 200 elefantes em todo o país. Estamos trabalhando em modalidades sobre como faremos isso”, declarou Tinashe Farawo, porta-voz da Autoridade de Parques e Vida Selvagem do Zimbábue (Zimparks), à Reuters.
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Os animais serão retirados de uma área onde a população se tornou insustentável, acrescentou Farawo – a caça ocorrerá nos distritos de Hwange, Mbire, Tsholotsho e Chiredzi.
Ele disse ainda que a decisão também faz parte de um plano para diminuir a quantidade de animais da espécie nos parques do país, que só podem sustentar 55 mil. “É um esforço para descongestionar os parques face à seca. Os números são apenas uma gota no oceano porque estamos falando de 200, e estamos lidando com mais de 84 mil”, enfatizou.
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A ministra do Meio Ambiente do Zimbábue, Sithembiso Nyoni, disse ao Parlamento na semana passada que havia dado sinal verde para o programa de abate. “De fato, o Zimbábue tem mais elefantes do que precisamos, mais elefantes do que nossa floresta pode acomodar”, afirmou ela, conforme relatado pelo portal Euronews.
Ela informou que o governo estava se preparando “para fazer como a Namíbia fez para que possamos abater os elefantes e mobilizar as mulheres para secar a carne, embalá-la e garantir que chegue a algumas comunidades que precisam da proteína”, se referindo ao país vizinho, que aprovou há algumas semanas o abate de 723 animais, incluindo 83 elefantes, 30 hipopótamos, 60 búfalos, 50 impalas e 300 zebras entre outros, para alimentar a população faminta.
Críticas
O Zimbabué há muito tempo é elogiado por seus esforços de conservação e pelo crescimento de sua população de elefantes. Contudo, a polêmica decisão pelo abate desencadeou uma chuva de críticas.
Para Farai Maguwu, diretor do Centro de Governança de Recursos Naturais, ela é “mal concebida e muito infeliz”. “Acredito que oficializar a matança de elefantes é uma das decisões mais desastrosas já tomadas na história da conservação”, avaliou em entrevista à Agência Anadolu (AA). “Isso coloca um fim abrupto a todos os esforços de conservação nos quais o governo investiu tanto nas últimas três décadas. Vai abrir as comportas para a caça ilegal.”
Comentando a alegação do governo de que há excesso de elefantes no país, ele aconselhou as autoridades a moverem os mamíferos excedentes para regiões não povoadas.
Natirai Mudadi, um defensor dos direitos dos animais, deu outra sugestão: enviá-los para países com poucos desses mamíferos. “Além disso, o que acontece se a seca continuar ou piorar? Nós apenas continuaríamos matando mais e mais elefantes?”
O projeto também foi criticado pelo analista político Rashweat Mukundu. “Se o governo puder cortar algumas de suas próprias despesas desnecessárias, como viagens, serviço público inchado ou recursos destinados à supressão da oposição, então o Zimbábue terá recursos suficientes para alimentar seu próprio povo”, apontou. “Dizer que queremos abater elefantes para nos alimentarmos, acho que é muita dramatização por parte do governo”.
Da mesma opinião compartilham muitos dos cidadãos zimbabuanos. “O que queremos e precisamos é de farinha de milho”, salientou Lyn Mukaro, morador de Epworth, um assentamento urbano pobre que fica a leste da capital Harare. “É disso que sempre dependemos para o sustento. Podemos viver sem carne de elefante, mas não podemos viver sem farinha de milho.”
Fonte: Um Só Planeta