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Contar com a água do mar para apagar grandes incêndios florestais, como vem ocorrendo no fogo que tomou grandes partes de Los Angeles (EUA) na última semana, pode parecer uma ideia lógica, afinal o suprimento deste material é abundante. Por que então não é uma tática comum?
O sal contido na água do mar danifica os equipamentos usados por aviões e helicópteros dos bombeiros, além de ser também nocivo para as mesmas florestas que as equipes estão tentando salvar. Por esses motivos, trata-se de uma solução apenas de emergência.
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Na tragédia norte-americana, as aeronaves despejam quase 6.000 litros de água salgada sobre os incêndios a cada sobrevoo, conta Patrick Megonigal, pesquisador do Smithsonian Environmental Research Center, em artigo para o portal The Conversation.
“Jardineiros sabem que pequenas quantidades de sal — adicionadas, digamos, como fertilizante — não prejudicam as plantas, mas sais excessivos podem estressar e matar plantas. A água salgada corrói equipamentos de combate a incêndio e pode prejudicar ecossistemas, especialmente aqueles como os arbustos de chaparral ao redor de Los Angeles, que normalmente não são expostos à água do mar”, observa.
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Para ilustrar a questão, Megoningal narra pesquisas feitas sobre o efeito da subida das marés sobre porções de floresta, um comportamento que vem sendo influenciados pelas mudanças do clima.
“O aumento do nível do mar aumentou em uma média de cerca de 20 centímetros globalmente ao longo do último século, [o que] empurrou água salgada para florestas, fazendas e bairros dos EUA que antes conheciam apenas água doce. À medida que a taxa de aumento do nível do mar acelera, as tempestades empurram a água do mar cada vez mais para a terra seca, eventualmente matando árvores e criando florestas fantasmas, um resultado da mudança climática nos EUA e globalmente”, destaca o cientista.
Para medir o impacto da água salgada, a equipe de Megoningal calculou diferentes tempos de exposição das plantas. Primeiro, dez horas de solo saturado, o que não alterou a capacidade de se recuperar e crescer ao longo do ano (o experimento foi feito em junho de 2022).
Com 20 horas de saturação, a floresta ainda resistiu bem, mas a partir de 30 horas com solo encharcado de água salgada, o vigor das plantas se exauriu no começo do outono, portanto, antes do previsto. “Em meados de setembro, a copa da floresta estava nua, como se o inverno tivesse chegado [oficialmente a estação no Hemisfério Norte começa em 21 de dezembro]. Essas mudanças não ocorreram em uma área próxima que tratamos da mesma maneira, mas com água doce em vez de água do mar”, afirma o pesquisador.
As folhas das árvores mudando de verde para marrom bem antes do outono foi uma surpresa, mas havia outras escondidas no solo. Na experiência de menor exposição, de 10 horas, houve alteração na água do solo, mesmo misturada à água doce dos lençóis freáticos.
“A água do solo ficou marrom e permaneceu assim por dois anos”, conta Megoningal. “A cor marrom vem de compostos à base de carbono lixiviados de material vegetal morto. É um processo semelhante ao de fazer chá [com os compostos do solo da floresta]”, explica.
“Embora a água do oceano possa ajudar a combater incêndios, há razões pelas quais os bombeiros preferem fontes de água doce — desde que haja disponível. Enquanto isso, os litorais dos EUA estão enfrentando uma exposição mais extensa e frequente à água salgada, à medida que o aumento das temperaturas globais acelera a elevação do nível do mar, que afoga florestas, campos e fazendas, com riscos desconhecidos para as paisagens costeiras.”
Fonte: Um Só Planeta