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Para tentar prever furacões com mais precisão, cientistas foram em busca de aliados inusitados: os tubarões. Uma equipe da Universidade de Delaware, nos Estados Unidos, teve a ideia de equipar esses predadores marinhos com sensores para que eles sirvam como plataformas móveis e recolham informações sobre temperatura e outros dados oceanográficos difíceis e caros de obter por métodos convencionais.
Até o dia 21 de julho, dois animais haviam recebido os sensores, colocados em uma etiqueta produzida por um grupo da Universidade de St. Andrews, da Escócia. Um dos animais é um tubarão-branco, que foi rastreado recentemente em Martha’s Vineyard, na costa oeste norte-americana, e tem emitido sinais todos os dias. O outro é um tubarão-anequim que ainda não aparece no radar com tanta frequência.
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“Colocando esses sensores em tubarões – que são predadores móveis e de ampla distribuição – conseguiremos observar uma parte muito maior do oceano, que normalmente permanece sem monitoramento”, explicou o ecologista marinho Aaron Carlisle, professor da Universidade de Delaware, ao USA Today.
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Segundo ele, não se trata de ser impossível obter esses dados por outras vias (como embarcações ou veículos autônomos), mas sim que essas alternativas são muito caras e restritas em termos de alcance. “[Além disso,] o sensoriamento remoto por satélites só observa a superfície, quando, na verdade, o que acontece abaixo dela é crucial para muitos processos oceanográficos e climáticos – como os furacões”, acrescentou Carlisle.
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Mas usar etiquetas com sensores para conseguir as informações necessárias é um desafio. “A etiqueta precisa estar alta o suficiente para transmitir, e há muita variabilidade no comportamento animal”, relatou Matt Oliver, também professor na mesma universidade, em comunicado. “No momento, temos apenas um perfil, mas o fato de termos conseguido fazê-lo funcionar é muito importante. Se conseguirmos fazer isso de forma consistente, poderemos obter muitos dados oceanográficos de alta qualidade para dizer algo quantitativamente sobre o oceano.”
Os pesquisadores pretendem ter uma “frota” de tubarões carregando os sensores durante a temporada de furacões, que vai de junho a novembro, fornecendo dados oceanográficos em tempo real no Atlântico Norte.
Essas informações, informou Carlisle ao USA Today, serão incorporadas a diversos modelos usados para prever a força, intensidade e trajetória dos furacões. Mas ele completou que ainda não se sabe se os tubarões estarão em meio aos furacões de fato, “mas suspeito que eles os evitarão e não estarão na superfície durante as tempestades”.

Uma preocupação é se as etiquetas prejudicarão de alguma forma os reis do mar. “Qualquer coisa acoplada a um animal terá algum impacto, mas fazemos tudo o que está ao nosso alcance para minimizar possíveis efeitos negativos”, afirmou o professor. A reportagem do USA Today destaca que a pesquisa passa por um rigoroso processo de licenciamento e revisão para garantir práticas responsáveis. Além disso, é do interesse dos próprios pesquisadores manter os animais saudáveis, já que cada sensor custa cerca de US$ 6 mil.
“Se o dispositivo prejudica o animal, não apenas estamos causando dano, como também perdendo o equipamento”, comentou Carlisle, complementando que os sensores não permanecem para sempre nos tubarões – as partes de fixação são feitas para se corroer com o tempo, permitindo que o equipamento se desprenda naturalmente.
Fonte: Um Só Planeta