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Os simpatizantes de Donald Trump replicam nas redes sociais as investidas diárias e zombarias do candidato republicano sobre a idade e a acuidade cognitiva do atual presidente dos EUA, Joe Biden, sem distinguir a manipulação de imagens e áudios em boa parte delas.
Aos 78 anos, apenas três anos mais novo do que Biden, o ex-presidente virou alvo das mesmas preocupações sobre a sua saúde mental, levantadas pelo escritor Ramin Setoodeh, que o entrevistou seis vezes para um livro.
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Autor de “Apprentice in Wonderland” e coeditor-chefe da revista “Variety”, Setoodeh constatou graves problemas de memória demonstrados por Trump nos encontros entre os dois, realizados a partir de maio de 2021, após ter deixado a Casa Branca.
“Como jornalista que passou mais tempo com Trump, devo dizer que ele não conseguia se lembrar das coisas. Nem sequer se lembrava de mim”, contou Setoodeh no programa “Morning Joe”, da MSNBC. Apesar de ter passado mais de uma hora com o jornalista, o ex-presidente não se lembrava de nada na segunda entrevista. “Tivemos que recomeçar do zero.”
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O livro, traduzido livremente como “Aprendiz no país das maravilhas”, aborda como o ex-presidente tornou-se uma estrela de reality show. Revela os bastidores do programa comandado por ele a partir de 2004, em 14 temporadas, que o tornou popular e o projetou como candidato republicano à Presidência.
Entre os lapsos de Trump relatados por Setoodeh — desta vez à âncora Kaitlan Collins, da CNN — havia o de ele referir-se ao Afeganistão como se ainda estivesse no comando dos EUA.
“Ele parecia pensar que ainda tinha poderes sobre a política externa. Houve um dia em que disse que precisava subir para lidar com a questão do Afeganistão, embora claramente já não o fizesse”, contou o jornalista.
Em outra ocasião, Trump lhe confidenciou que a comediante Joan Rivers votou nele quando concorreu à Presidência, em 2016, embora ela tenha morrido dois anos antes.
Senilidade como arma eleitoral
Biden é frequentemente ridicularizado por Trump e seus seguidores e retratado como fraco e em declínio cognitivo, com falsas imagens em que o oponente democrata aparenta estar paralisado ou vagando sem rumo.
“Ele está transformando os Estados Unidos em uma piada total em todo o mundo”, atestou o ex-presidente num comício na semana passada em Wisconsin.
Dias depois, no palanque em Detroit, o próprio Trump se gabou do resultado de seu exame de acuidade mental, quando era presidente, mas trocou várias vezes o nome do médico da Casa Branca que o conduziu: referiu-se a Ronny Jackson, seu médico, conselheiro e atualmente congressista do Texas, como Ronny Johnson.
A idade avançada e a saúde mental de ambos os candidatos à Casa Branca são fatores de preocupação entre os eleitores, segundo demonstram as pesquisas de opinião, mas no geral afetam mais Biden do que Trump.
Ao analisar o tratamento de documentos confidenciais retidos por Biden, o procurador especial Robert Hur se referiu ao presidente como “um homem idoso e de memória fraca”, num relatório divulgado em março passado e que foi intensamente explorado por seus rivais republicanos.
O jornalista e escritor Ramin Setoodeh, por sua vez, diz que o declínio cognitivo do ex-presidente e candidato republicano não deve ser ignorado.
“Acho que o público americano realmente precisa ver este retrato de Donald Trump porque isso mostra como ele é, quem ele é e quem sempre foi.”
Fonte: G1