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O primeiro ministro canadense, Justin Trudeau, testemunhou perante uma comissão de inquérito independente, nesta sexta-feira (25), para defender o uso de poderes de emergência contra os caminhoneiros que paralisaram a capital do país no início deste ano, denunciando graves ameaças de violência.
Seu depoimento na Comissão de Emergência de Ordem Pública encerrou seis semanas de audiências sobre uma lei raramente usada, invocada em fevereiro após semanas de protestos contra medidas para enfrentar a covid-19. Opositores políticos e grupos de liberdades civis consideraram que Trudeau exagerou.
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Ao depor nesta sexta-feira em Ottawa, Trudeau disse que os manifestantes jogaram veículos contra viaturas da polícia e usaram crianças como escudos.
Ele observou que a polícia se preocupava com a possibilidade desses grupos estarem armazenando armas, enquanto os serviços de inteligencia do Canadá alertavam sobre “a presença de pessoas que promoviam o extremismo violento por motivos ideológicos”, que poderiam desencadear ataques isolados. As tensões aumentaram ainda mais quando surgiram contraprotestos, apontou Trudeau.
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“Estávamos vendo as coisas se intensificarem”, disse, ao acrescentar: “Precisávamos fazer algo para mantar os canadenses em segurança”.
Invocar a Lei de Emergências “era o correto. E o fizemos”, concluiu.
Caminhoneiros de todo Canadá chegaram à capital no dia 29 de janeiro. Nos dias seguintes, outros protestos eclodiram em todo o país, bloqueando corredores comerciais, incluindo a ponte para Detroit, a passagem de fronteira internacional mais movimentada da América do Norte.
A comissão de inquérito recebeu a ordem de avaliar a “adequação e eficácia das medidas” tomadas pelo governo Trudeau contra os protestos. Não tem o poder de impor sanções, mas poderia incluir recomendações para atualizar esta lei de 1988.
Jacuzzis, castelos infláveis e churrascos
O painel, liderado pelo ex-juiz Paul Rouleau, ouviu autoridades, líderes dos protesto e moradores de Ottawa afetados pelas buzinas incessantes e as fumaças de diesel dos grandes caminhões.
“Era um barril de pólvora a ponto de explodir”, disse Peter Sloly, ex-chefe de polícia de Ottawa. Ele renunciou durante a crise devido ao que a comissão ouviu ser uma resposta policial desorganizada, incluindo falhas de inteligência e vazamentos – ambos agora sob investigação.
Os organizadores do chamado “Comboio da Liberdade” pintaram um quadro muito diferente. Eles afirmaram que a manifestação em Ottawa foi um protesto legítimo contra as políticas “malvadas” do governo e descreveram uma atmosfera de festa com banheiras de hidromassagem, castelos infláveis e churrascos em frente ao Parlamento.
“Não estávamos lá para incomodar os moradores da cidade”, disse a caminhoneira Brigitte Belton. “Estávamos lá para ser ouvidos.”
No entanto, evidências apresentadas à comissão mostraram que alguns organizadores queriam remover os membros extremistas que pediam um golpe ou espalhavam teorias da conspiração.
Na quinta-feira, a vice-primeira-ministra Chrystia Freeland apontou os riscos que o bloqueio representou para a economia canadense, em especial o de criar “danos irreparáveis” nas relações comerciais com os Estados Unidos. E disse que um investidor chegou ao ponto de lhe dizer que não investiria mais “nem um centavo” na “república das bananas do Canadá”.
Esta semana, a conselheira de segurança nacional de Trudeau, Jody Thomas, disse que recomendou invocar a Lei de Emergências, pois os protestos estavam “causando instabilidade econômica significativa” e “a retórica violenta aumentava rápida e exponencialmente”, com crescentes “ameaças contra figuras públicas”.
A polícia finalmente interveio, rebocando os caminhões grandes para fora de Ottawa em uma ação que resultou em quase 200 prisões. Um esconderijo de armas também foi apreendido e quatro pessoas envolvidas no bloqueio da fronteira de Coutts, Alberta, foram acusadas de conspirar para matar policiais.
Fonte: Yahoo!