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Violet Constance chegou a trabalhar como enfermeira da Cruz Vermelha em uma das embarcações (Foto: Wikimedia Commons)
As probabilidades de estar em duas das maiores catástrofes náuticas da história parecem remotas. E ainda mais remota a possibilidade de alguém conseguir sobreviver a ambos os eventos e ainda assim seguir navegando.
Mas Violet Jessop conseguiu e, por isso, ganhou o apelido de “Senhorita Inafundável” no início do século 20.
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Ela era tripulante de três das maiores embarcações das primeiras décadas de 1900 quando os navios sofreram acidentes – alguns trágicos. Jessop trabalhava como camareira ou enfermeira no naufrágio dos navios da maior, mais moderna e luxuosa frota da época: o Olympic, o Titanic e o Britannic.
Trajetória
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Nesse estaleiro de Belfast foram construídos o Olympic, oTitanice o Britannic, que aparece na foto (Foto: Wikimedia Commons)
No primeiro desastre, ela viajava no transatlântico britânico RMS Olympic quando a embarcação colidiu com um navio de guerra na costa do Reino Unido em 1911. Conseguiu sobreviver, apesar dos danos sérios causados à embarcação.
Longe de evitar a navegação, no ano seguinte ela voltou a subir a bordo de outro cruzeiro enorme, talvez o mais famoso dos últimos tempos (apesar de ter navegado por poucos dias): o RMS Titanic. E não parou por aí.
Ela tinha 24 anos quando se envolveu em um dos desastres marítimos mais lembrados da história – quando o Titanic afundou no mar gelado do Atlântico somente quatro dias depois de começar sua viagem inaugural, em 15 de abril de 1912.
E mais uma vez, ela seguiu fazendo viagens marítimas, e seguiu se envolvendo em naufrágios.
Em 1916, em plena primeira Guerra Mundial, ela se alistou como enfermeira da Cruz Vermelha a bordo do HMHS Britannic, um transatlântico convertido em um navio hospital que navegava pelo Mar Egeu quando foi atacado pelos alemães.
O barco afundou em menos de uma hora. Mas Violet Jessop também viveu para contar essa história.
Quem era essa mulher?
Os pais de Jessop eram irlandeses que chegaram à Argentina em uma onda imigratória no final do século 19.
Jessop nasceu no dia 2 de outubro de 1887 perto de Bahía Blanca, no sul da província de Buenos Aires, onde o pai trabalhava como pastor de ovelhas.
Ela era a mais velha de seis irmãos. Tinha um espírito lutador e teve a resistência testada desde criança: ainda pequena contraiu tuberculose e os médicos lhe deram três meses de vida.
A família inteira se mudou para a província de Mendoza, no oeste, sobre a cordilheira dos Andes, para que o clima ajudasse na recuperação dela.
E ela melhorou – algo considerado milagroso na época.
Mas o pai logo morreu e depois do falecimento dele, a mãe decidiu levar a família para a Inglaterra, onde conseguiu trabalho como camareira na companhia de navegação Royal Mail Line.
Quando a mãe começou a ter problemas de saúde, Jessop – já com 21 anos de idade – buscou trabalho para manter a família e conseguiu uma vaga similar a da mãe, na mesma empresa.
Foi assim que começou a relação dela com os barcos.
Atados pelo destino
Mas a história reservaria a Jessop uma conexão muito particular com três navios específicos: as estrelas da companhia de navegação White Star Line, onde ela começou a trabalhar em 1908.
Os navios Olympic, Titanic e o Britannic eram três “barcos irmãos” da classe Olympic, criados quase da mesma forma. E o destino dos três também seria muito parecido – e infeliz.
O primeiro, o RMS Olympic, teve a melhor sorte. Inaugurado em maio de 1911 com grande pompa como o maior barco da sua época – ele tinha 30 metros a mais que os rivais próximos – o Olympic quase teve um final desastroso poucos meses depois da estreia.
Em setembro de 1911, a embarcação se chocou contra o navio de guerra HMS Hawke na costa da Inglaterra – o acidente perfurou o casco e danificou a hélice do Olympic, mas não houve feridos e o cruzeiro retornou ao porto de Southampton.
O capitão do transatlântico era um homem chamado Edward John Smith, que no ano seguinte ganharia fama por capitanear o barco que chegou para ofuscar o Olympic: o admirado RMS Titanic, ainda maior e mais luxuoso que o caçula.
Em um caderno de memórias que escreveu sobre suas experiências – que depois de sua morte seriam publicadas com o título de Titanic Survivor (“Sobrevivente do Titanic”, em tradução livre), Jessop contou que era feliz trabalhando no Olympic, e que não queria mudar de embarcação.
Mas os amigos e familiares, maravilhados com o luxo e a magnificência do Titanic acabaram a convencendo.
Titanic
Violet foi uma das sobreviventes do naufrágio do Titanic (Foto: National Museums Northern Ireland)
E foi assim que a jovem de 24 anos passou a ser uma de somente 23 mulheres que integravam a tripulação da trágica viagem inaugural do Titanic.
Em suas memórias, ela recordou o que aconteceu depois da colisão e como sobreviveu ao naufrágio.
“Me mandaram ir para o convés. Os passageiros passeavam tranquilos. Eu e as outras camareiras observamos como as mulheres se agarravam a seus maridos antes de serem colocadas nos botes salva vidas com os filhos”, afirmou.
“Algum tempo depois, um oficial ordenou que nós entrássemos no bote número 16 para mostrar às mulheres que era seguro”.
Ao entrar no bote, lhe entregaram um bebê que ela segurou contra o colete salva vidas de cortiça por horas para evitar que morresse congelado, até que chegou o RMS Carpathia para salvá-los.
Já a bordo do novo navio, apareceu uma mulher – que Violet supôs ser a mãe da criança – e pegou o bebê.
Violet Jessop e outros 704 sobreviventes foram levados à Nova York, nos Estados Unidos.
‘Britannic’
Essa experiência dramática também não a afastou do mar. Jessop seguiu trabalhando como camareira para a mesma empresa.
A conexão dela com o terceiro “barco irmão” da classe Olympic, o Britannic – que começou a navegar em 1914 – chegou com a Primeira Guerra Mundial.
O mais jovem dos cruzeiros, que assim como seus semelhantes havia sido criado com a intenção de unir a Europa com os Estados Unidos, nunca chegou a cruzar o Atlântico.
O governo britânico o transformou em um navio hospital e Violet se juntou aos tripulantes – dessa vez como enfermeira da Cruz Vermelha.
Sobrevivente mais uma vez
Em novembro de 1916, o barco navegava pelo mar Egeu na altura do canal de Kea, na Grécia, quando houve uma explosão.
A imprensa britânica da época relatou que o barco havia sido alcançado por torpedos alemães, mas muito afirmam que a embarcação teria batido contra uma mina.
O barco afundou em 55 minutos, três vezes mais rápido que o Titanic, apesar de todas as precauções que os engenheiros navais tomaram para fazer com que a embarcação fosse mais segura.
Desta vez, Jessop não conseguiu escapar em um bote salva-vidas, já que o seu e o de outros foram sugados pelas hélices do barco. Ao tentar se lançar ao mar, ela bateu a cabeça, mas foi resgatada.
Ela atribui o milagre à abundante cabeleira de cor castanha, porque a tiraram da água a içando pelos cabelos.
O incidente deixou 30 pessoas mortas, mas a maioria sobreviveu. O desastre só não foi maior porque o barco estava indo em busca de feridos e ainda não transportava vítimas.
Antes de se aposentar, ela trabalhou ainda mais uma vez no Olympic, que depois do primeiro incidente não voltou a sofrer problemas graves e foi o único dos três irmãos que não terminou embaixo do mar.
Em 1926, ela mudou de navio e trabalhou para a Red Star Line, voltando alguns anos depois ao primeiro lugar de trabalho: a Royal Mail Line.
Adeus
Em 1998, depois do sucesso do filme ‘Titanic’, os sobrinhos de Violet decidiram publicar suas memórias sobre os acidentes (Foto: Reprodução/Amazon)
Em 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial, ela deixou os barcos por uma vaga como secretária. Mas, em 1948, com 61 anos de idade, voltou a navegar por mais dois anos até se aposentar, em 1950.
Depois de 42 anos de relação com o mar, Jessop se mudou para uma casa de campo em Suffolk, um condado no leste da Inglaterra.
Embora tenha se casado aos 40 anos com um marinheiro, a relação durou pouco tempo e ela não teve filhos. Mas as memórias dela foram eventualmente publicadas por sobrinhos, em 1998.
Jessop viveu até 1971, quando uma insuficiência cardíaca conseguiu aquilo que três desastres em alto mar não conseguiram. Ela tinha 84 anos.
Fonte: Yahoo!