26 de dezembro, 2024

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Testes alertam que linha chilena pode ferir até osso: ‘A criança acha que é brincadeira’

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Testes feitos por um laboratório de Piracicaba (SP) mostraram que a linha chilena, usada ilegalmente para soltar pipas, pode danificar até ossos humanos. Foram usados três tipos do material e o mais resistente causou fissuras na formação óssea. Em 2008, uma auxiliar de produção teve o pescoço atingido por cerol, o que causou um corte nas cordas vocais e traumas para toda a vida.

Meire Lopes não hesita ao falar o dia exato de seu acidente: 6 de agosto de 2008. Ela conta que seguia de moto pelo mesmo caminho que sempre fez do trabalho para casa quando um menino passou em frente ao veículo.

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“Quando ele entrou eu já entrei e buzinei para ele. Vi que a pipa enroscou em mim, tentei tirar, mas não consegui e foi aí que eu senti que queimou. Pensei comigo: ‘cortou meu pescoço'”, relembrou.

Segundo Meire, o corte foi profundo e a cirurgia durou quase cinco horas. “Cortou as cordas vocais, pegou o nervo e a minha sequela foi que fiquei um tempo sem voz e tive que fazer um tratamento com fono. O meu braço que não levanta igual o outro, reto”.

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Meire tem sequelas até hoje após 10 anos do acidente em Limeira (Fotos: Reprodução/EPTV)

“Antes de acontecer eu via as pessoas soltando pipa e não tinha medo. Agora eu tenho medo porque passei por tudo isso”, afirma a auxiliar de produção. “É muito perigoso, as pessoas têm que ter mais consciência”, pede.

“A criança acha que é brincadeira, mas não é, é muito grave. Pode tirar a vida de um pai de família”.

Apesar do trauma e das sequelas, Meire agradece por estar viva. “Eu nasci de novo. Agradeço a Deus todos os dias porque se não fosse Ele eu não estava aqui”.

Ferimento ficou marcado no pescoço da auxiliar de produção de Limeira (Foto: Reprodução/EPTV)

Testes

Os procedimentos foram realizados com três tipos de linhas chilenas. Estes tipos são os mais encontrados em lojas e à venda na internet, apesar da comercialização ser ilegal no país.

Além das linhas chilenas, os pesquisadores da SGS do Brasil utilizaram linhas normais, com venda permitida, para comparar os estragos que cada item oferece.

“A gente pegou alguns materiais simples para a gente ver o atrito da linha no material. Qual seria o esforço que a linha vai realizar em cada produto e aí vai depender da densidade dele, o que seria a superfície”, explica o professor de engenharia Bianco Gallazi.

Gallazi usou uma maçã e um componente que simula o osso humano nos testes. A linha de venda permitida sequer marcou a maçã, enquanto dois tipos da chilena perfuraram a fruta. O terceiro tipo, mais cortante, cortou o alimento em dois.

“Mesmo a gente percebendo que a maçã é mais frágil, ela [chilena tipo três] conseguiu cortar toda a superfície. Se a gente pensar que o material da nossa pele é frágil, o poder de corte na pele é muito grande”.

Ossos

O material usado tem a mesma densidade do osso humano e é usado para testes de inserção de parafusos. Tanto a linha normal quanto o primeiro tipo da chilena se romperam antes de danificar a estrutura.

Já o segundo tipo da chilena causou uma fissura no osso antes de partir. No último caso, houve uma marcação mais profunda na placa óssea antes mesmo da linha estourar, o que significa que os danos poderiam ser piores.

“A gente tem uma grande lei da física que é força é igual a massa vezes a aceleração. Para uma mesma massa, se eu aumentar a velocidade eu vou ter uma força alterada. Se a gente pensar no motoqueiro andando e a linha esticada e aí eu tenho o contato com a pele, essa força vai ser muito maior do que a gente apresentou aqui”, explicou o professor.

“Seria uma serra disfarçada. Uma serra metálica que a gente corta metal disfarçada em linha de papagaio”.

A venda e uso de linhas de pipa com cerol ou do tipo chilena são proibidos pela lei estadual 12.192, de 6 de janeiro de 2006.

Fonte: G1

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