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Turbinas eólicas, mísseis de alta precisão, celulares e veículos elétricos. A presença de certos minerais em tecnologias essenciais à vida moderna tornou esses elementos parte de uma disputa estratégica global. Chamados de terras raras, eles são hoje objeto de intensa busca por potências como Estados Unidos e China, e o Brasil está no centro desse jogo.
O país possui a segunda maior reserva mundial de terras raras, atrás apenas da China. Isso despertou o interesse direto do governo norte-americano, que busca diversificar suas fontes de fornecimento desses insumos, considerados vitais para a segurança energética, industrial e militar. A questão vai além de recursos: trata-se de soberania tecnológica e influência geopolítica.
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O que são terras raras?
As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos da tabela periódica, localizados entre os números atômicos 57 e 71 (os lantanídeos), além do escândio e do ítrio. Apesar de serem relativamente abundantes na crosta terrestre, o desafio está em sua extração e purificação, que demandam processos caros, complexos e potencialmente poluentes.
Entre os principais estão: Neodímio e Disprósio — usados em superímãs de turbinas eólicas e motores de carros elétricos ; Lantânio e Cério — aplicados em catalisadores e polimento de vidro; Samário — essencial para sistemas de guiagem de mísseis; Ítrio — presente em telas de LED e lasers médicos.
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A presença desses elementos em cadeias produtivas de alta tecnologia fez com que eles ganhassem status estratégico. Hoje, cerca de 60% da produção mundial está na China, que também concentra mais de 90% da capacidade global de refino. O domínio chinês gera uma preocupação crescente nos EUA e na União Europeia, principalmente após episódios de restrições comerciais.

Por que os EUA querem as terras raras brasileiras?
Com a escalada da transição energética e das tensões geopolíticas, os Estados Unidos iniciaram um movimento para garantir acesso a fontes alternativas de minerais críticos. O Brasil, nesse cenário, desponta como um parceiro estratégico — por sua riqueza mineral, localização geográfica e questões diplomáticas (apesar dos recentes embates entre o país e os EUA).
Em 2024 e 2025, autoridades e empresas norte-americanas intensificaram o diálogo com o setor privado e o governo brasileiro. A expectativa é firmar parcerias em projetos de exploração, beneficiamento e industrialização de terras raras, especialmente na região Centro-Oeste, onde opera a mineradora Serra Verde, única empresa brasileira ativa no setor.
No entanto, até o momento, os investimentos dos EUA ainda são tímidos. Diferente da China, que já opera diretamente com fundos e subsidiárias, os americanos atuam com cartas de intenção, visitas técnicas e apoio a editais do BNDES, como o lançado em 2025 para financiar projetos no setor.
Gargalos
Apesar do potencial geológico, o Brasil ainda enfrenta gargalos estruturais. Entre eles, o baixo domínio tecnológico no refino, com concentração de apenas 30% de pureza frente aos 99% da China; falta de infraestrutura e logística, principalmente em áreas remotas; burocracia e insegurança jurídica, com demora nos licenciamentos; ausência de uma política industrial clara para minerais críticos.
Além disso, a mineração de terras raras pode trazer impactos socioambientais, caso não haja controle rigoroso. Na China, há registros de contaminação de solo e água. No Brasil, regiões como o Vale do Jequitinhonha (MG) já vivenciam pressão social com o avanço do lítio, outro mineral estratégico, incluindo aumento no custo de vida, tensões sobre os royalties e mudanças na estrutura demográfica.
O Brasil está diante de uma rara oportunidade: liderar parte da cadeia global de tecnologia limpa e estratégica. Mas isso exigirá mais do que reservas no subsolo. Será preciso investir em capacitação, ciência, regulação ambiental e agregação de valor.
Fonte: Um Só Planeta