Tem previsão de muita chuva no deserto do Saara; entenda a razão

Uma das áreas mais áridas do planeta, o deserto do Saara, deverá ter muita chuva nas primeiras semanas de setembro. De acordo com modelos climatológicos do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF), algumas regiões poderão ter acumulados de água cinco vezes maiores do que a média para o início do mês.

A MetSul Meteorologia explica que a chuva na região terá relação direta com o deslocamento mais para o Norte da chamada Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Esse cinturão tropical de instabilidade é ativo ao redor de todo o equador, o que significa que os ventos alísios de ambos os hemisférios se encontram neste ponto, criando um movimento ascendente de ventos e a formação de nuvens de chuva.

Este ano, a ZCIT está posicionada mais ao norte do que o normal. “Ela tem um movimento natural e pode se deslocar da sua climatologia, dependendo de alguns fatores, como o aquecimento das águas do Oceano Atlântico, por exemplo”, explicou Camilla Visibeli, meteorologista da Universidade de São Paulo (USP).

O que também contribui para a sua mudança de localização é o início do resfriamento da região do Pacífico, com a transição para o La Niña.

Fenômeno já ocorreu outras vezes

Mais da metade do deserto recebe menos de 25 mm de precipitação ao longo do ano, mas à medida que a ZCIT se move mais para o Norte, algumas áreas deverão receber 500% da média anual – em outras, esse índice chegará a 1000%.

O volume anormal de chuva esperado para a região não é visto como algo comum pelos especialistas, mas também não é extremamente raro, visto que já aconteceu outras vezes nas últimas décadas. “A cada dez anos tem um episódio assim. Então, se confirmada, essa não será a primeira vez que chove dessa forma no deserto do Saara”, informou Visibeli.

A meteorologista ainda apontou que não é possível relacionar diretamente esse evento de chuvas anormais no Saara com as mudanças climáticas. “É necessário uma série de análises para afirmar que essa indicação dos modelos está relacionada com as mudanças climáticas. Se esse cenário começar a se repetir com mais frequência, estudos precisam ser feitos para avaliar esse novo padrão”, completou.

Fonte: Um Só Planeta