Anúncios
O corpo de uma engenheira civil de 31 anos foi encontrado na tarde desta segunda-feira (30) em Jardim Monte Verde, que fica no limite entre o Recife e Jaboatão dos Guararapes. Outro corpo, identificado por vizinhos como sendo de uma dona de casa de 49 anos, também foi retirado dos escombros de uma barreira que deslizou em Camaragibe, na Região Metropolitana.
Com isso, subiu para 93 o número de mortes confirmadas desde a quarta-feira (25) por causa das chuvas. O balanço mais recente, divulgado pelo governo do estado no final da manhã desta segunda-feira, contabilizou 91 mortes e 26 desaparecidos. Os dois corpos encontrados nesta tarde não estavam incluídos no cálculo.
Anúncios
De acordo o secretário executivo de Defesa Civil de Pernambuco, tenente-coronel Leonardo Rodrigues, o número de desabrigados está em 6.170.
“Oficialmente temos o número de 6.170 pessoas na condição de desabrigados. [Essas pessoas] Estão em abrigos públicos, nos municípios que instalaram esses recursos. Temos aproximadamente 40 municípios afetados. Estamos diante de um evento que não é visto normalmente”, declarou.
Anúncios
Nesta segunda-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro (PL) sobrevoou algumas regiões afetadas pelas chuvas no Grande Recife. Depois, lamentou a tragédia e anunciou medidas para ajudar as vítimas, em uma entrevista coletiva com os ministros Anderson Torres (Justiça), Carlos Brito (Turismo), Daniel Ferreira (Desenvolvimento Regional), Marcelo Queiroga (Saúde) e Ronaldo Bento (Cidadania).
A solidariedade de moradores de Jardim Monte Verde marcou o 3º dia de buscas por desaparecidos. Vizinhos das vítimas distribuíram comidas e água às pessoas que fazem as buscas, além de montarem pontos de arrecadação de roupas e alimentos para os desabrigados e desalojados.
Sob forte comoção, 11 pessoas da mesma família que morreram devido ao deslizamento em Jardim Monte Verde foram sepultadas no Cemitério de Santo Amaro, no Centro do Recife, na tarde desta segunda (30). Como não havia espaço suficiente para 11 caixões ao mesmo tempo, o velório e o enterro precisaram ser divididos em grupos e quatro túmulos foram utilizados.
Outras famílias que também perderam parentes na tragédia enfrentam dificuldades para liberar corpos na sede do Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife, onde dezenas de pessoas recebem a desculpa de que “o sistema caiu”. A Secretaria de Defesa Social disse que mobilizou uma força-tarefa, com médicos legistas voluntários, para acelerar o processo.
Por causa do desastre, as festividades de São João foram suspensas no Recife. O prefeito João Campos (PSB) anunciou que a suspensão possibilita ao município redirecionar R$ 15 milhões em recursos para as ações de amparo às vítimas.
Segundo especialistas, essa tragédia é a maior ocorrida em Pernambuco no século 21 e se aproxima do número de óbitos na enchente histórica de 1975, quando 107 pessoas morreram no Recife.
“O sonho acabou”
O pai da engenheira civil Thais Regina Ramos Feitosa confirmou que o corpo achado em Jardim Monte Verde por volta das 16h era da filha.
Reginaldo Ramos Feitosa, 55, que é motorista de ônibus, contou que estava em casa com ela e a esposa quando uma barreira deslizou, atingiu a casa da família e, em poucos instantes, destruiu muitos sonhos.
“Você que é um assalariado, que é um trabalhador, não tem condições de morar em um lugar melhor. A minha filha sempre dizia que quando se formasse e começasse a trabalhar ia dar uma condição de vida melhor para mim, para mãe dela e para a irmã. Mas o sonho acabou né. Agora é viver com a dor e as lembranças”, disse.
O local onde o corpo de Thais foi achado é o principal ponto de buscas de desaparecidos. No mesmo bairro, mais de 20 pessoas morreram soterradas e tiveram os corpos resgatados da lama. Segundo o Corpo de Bombeiros, ainda há vítimas desaparecidas entre os escombros.
Wilton Porfirio de Santana, 62, está no local acompanhando as buscas pela filha Widilane Maria Silva de Santana, 27, e pelo genro, Werllie Sebastião. Ele disse que tem muita esperança de encontrar os dois com vida.
“A mãe dela disse: traga a minha filha para mim. Eu acredito que ela está viva. Eu tenho a minha esperança. Se nós chegarmos até lá, quem sabe? O pai que deu, ele devolve. O que nos salva é a fé”, afirmou.
O homem queria ajudar nas buscas, mas não foi permitido. Enquanto esperava e recebia o apoio de vizinhos, disse que sentia que estava com as mãos amarradas.
“Bate o desespero porque eu não posso ir, eles não deixam. Eu não tenho nada nos braços, mas parece que eu tenho uma corda. Eu não aguento mais estar esperando, sem acontecer nada e chegar em casa sem nada”, desabafou.
O capitão do Corpo de Bombeiros Carlos Oliveira comanda a operação no local. A equipe conta ainda com o apoio de bombeiros do Rio Grande do Norte e militares do Exército Brasileiro.
“A vítima estava em um local de difícil acesso e foi achada com um cão de busca. Ele identificou o possível local em que nós começamos o trabalho. Após a execução das buscas nós localizamos, com a ajuda da comunidade, que nos indicou o local também”, afirmou.
Segundo o capitão, as buscas vão continuar ininterruptamente até que as pessoas que estão desaparecidas sejam encontradas.
“Tínhamos três pontos de busca em um local divididos em três setores, de acordo com a distribuição das casas. Já foram encontradas onze vítimas em um determinado setor, três no centro do do cenário e mais duas neste neste local. Estamos em busca de mais duas para encerrar as atividades no local. E nós só iremos finalizar após encontrarmos todas as vítimas”, afirmou.
Mais um corpo encontrado em Camaragibe
Também na tarde desta segunda-feira (30), o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco encontrou o corpo de umas das vítimas desaparecidas após um deslizamento de barreira na comunidade do Areeiro, em Camaragibe, no Grande Recife.
Ela foi identificada, por vizinhos, como a dona de casa Rute Soares Nascimento, de 49 anos. Os bombeiros informaram que equipes continuam no local buscando outros desaparecidos por causa das fortes chuvas na Região Metropolitana.
Fonte: G1