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O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos criticou o acordo entre Embraer e Boeing para criação de uma nova empresa na área da aviação comercial e outra para promover novos mercados para o avião cargueiro KC-390.
Segundo o sindicato, o acordo afeta a soberania nacional “por entregar um projeto brasileiro [KC-390] aos americanos”. O acordo ainda precisa ser aprovado pelo governo brasileiro, que é dono de uma “golden share” na companhia e, por isso, tem poder de veto em decisões estratégicas. A Embraer garantiu que manterá a produção do cargueiro militar no Brasil.
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As empresas anunciaram nesta segunda-feira (17) o acordo que prevê a criação de uma empresa de aviação comercial no Brasil. A Boeing terá 80% de participação na joint venture, ao fazer um pagamento de US$ 4,2 bilhões. Os 20% restantes serão da fabricante brasileira, que poderá vender sua parte para a norte-americana a qualquer momento, por meio de uma opção de venda.
“Esse não é um acordo de cooperação, é uma venda. A porcentagem entregue da empresa para a Boeing é muito maior. Tiramos das mãos do Brasil a força intelectual de produção”, afirmou Hebert Carlos, diretor sindical na Embraer.
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O novo negócio está sendo chamado de ‘JV Aviação Comercial’ ou ‘Nova Sociedade’ e é avaliado em US$ 5,26 bilhões. Inicialmente, quando as duas empresas assinaram um memorando, o valor era estimado em US$ 4,75 bilhões.
O sindicato também questiona o acordo para criação de uma nova empresa para promover e desenvolver novos mercados na área de defesa, envolvendo o avião militar multimissão KC-390. Em documento ao mercado, a Embraer afirma que a empresa irá atuar “a partir de oportunidades identificadas em conjunto, e desenvolvimento, fabricação e vendas do KC-390”.
De acordo com a parceria, a Embraer será a controladora do negócio, com 51% de participação, e a Boeing, os 49% restantes. Para o sindicato, o projeto é do governo brasileiro e está sendo entregue aos EUA.
“Construímos um projeto de defesa de sucesso e estamos dando isso para o governo norte-americano. O KC-390 foi construído 80% com verba federal e estamos dando 49% disso para o exterior. A soberania nacional está afetada com isso. Os Estados Unidos não dão nada de graça para a gente, por que vamos fazer isso?”, disse Hebert.
Caso a parceria seja aprovada no tempo previsto, a Embraer espera que a negociação seja concluída até o final de 2019.
Por que Boeing e Embraer estão unindo forças
A Boeing e a Embraer anunciaram no fim de 2016 que estudavam unir seus negócios. A expectativa era de que um acordo entre as duas poderia criar uma gigante global de aviação, com forte atuação nos segmentos de longa distância e na aviação regional, e capaz de fazer frente a uma união similar entre as maiores concorrentes, Airbus e Bombardier, que também se uniram.
A americana e a brasileira tentam consolidar em um mesmo negócio duas operações fortes, uma em aviação de longa distância, outra para deslocamentos regionais. Enquanto a Boeing é a principal fabricante de aeronaves comerciais para voos longos, a Embraer lidera o mercado de jatos regionais, com aeronaves equipadas para voar distâncias menores.
A Embraer foi privatizada em 1994, no fim do governo Itamar Franco, por R$ 154,1 milhões (valores da época), quando o governo obteve o poder de decisão sobre a companhia.
Após concluída a transação, a joint venture será liderada por uma equipe de executivos no Brasil, incluindo um presidente e CEO. A Boeing terá o controle operacional e de gestão da nova empresa, que responderá diretamente a Dennis Muilenburg, presidente e CEO da Boeing. A Embraer terá poder de decisão para alguns temas estratégicos, como a transferência das operações do Brasil.
A empresa espera que o resultado da operação, descontados os custos de separação, seja de aproximadamente US$ 3 bilhões. A expectativa é que a parceria só tenha efeitos no lucro por ação da Boeing após 2020. O negócio deve gerar sinergias anuais de cerca de US$ 150 milhões – antes de impostos – até o terceiro ano de operação.
O que diz a Embraer?
A fabricante brasileira informou em nota que os negócios de ‘Defesa & Segurança’ e de jatos executivos, dentre outros, não serão segregados para a nova sociedade e permanecerão sendo desenvolvidos e realizados pela Embraer.
“A joint venture do KC-390 será dedicada à promoção e desenvolvimento de novos mercados a partir de oportunidades identificadas em conjunto e terá a Embraer como controladora”, disse a companhia em nota.
A empresa garantiu que os contratos já firmados são de responsabilidade integral da Embraer, que manterá a produção do KC-390 no Brasil.
Fonte: G1