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O partido anti-separatistas Cidadãos obteve o maior número de votos e assentos nas eleições desta quinta-feira (21) na Catalunha, mas os independentistas mantiveram a maioria absoluta e venceram a queda de braço com o governo espanhol na crise aberta pela proclamação frustrada de independência.
Em percentual de votos, os três partidos separatistas continuam minoritários e os eleitores prosseguem profundamente divididos.
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O Juntos pela Catalunha, a plataforma independentista recém-criada por Puigdemont, que está na Bélgica, foi a força secessionista com mais cadeiras, 34, que somadas às 32 do Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e as 4 da CUP, superam as 68 da maioria absoluta.
Com praticamente 100% dos votos apurados, a força com mais assentos e votos foi o Cidadãos, liderado por Inés Arrimadas, com 37 deputados.
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Como ocorreu em 2015, os independentistas se beneficiaram de um sistema eleitoral que recompensa o voto em zonas rurais e alcançam a maioria absoluta sem conseguir 50% dos votos dos mais de cinco milhões de catalães convocados às urnas em um dia em que a participação superou os 80%, um recorde. Cerca de 47,5% dos catalães votaram neles.
“O Estado espanhol foi derrotado. (O chefe de governo espanhol, Mariano) Rajoy e seus aliados perderam”, declarou Puigdemont em Bruxelas, onde se refugiou no final de outubro para escapar da prisão.
Exultante de alegria diante de seus seguidores que repetiam “eu sou espanhol!” – Arrimadas declarou que “pela primeira vez na Catalunha venceu as eleições um partido constitucionalista e foi o Cidadãos”.
“Um milhão e cem mil catalães elegeram a cédula do Cidadãos”, comemorou.
“Vamos continuar lutando, inclusive com essa lei eleitoral injusta, que dá mais assentos a quem tem menos votos”, prometeu a jovem política de 36 anos.
Segundo um porta-voz da Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, a posição do bloco “não mudará” com relação à Catalunha.
Um golpe para Rajoy
A vitória dos separatistas representa um golpe para o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, que interveio na autonomia catalã após a frustrada proclamação de independência de 27 de outubro, e convocou essas eleições nas quais o Partido Popular só alcançou 3 deputados, em comparação com os 11 que tinha.
É um cenário complicado que semeia mais dúvidas que certezas: a primeira, se o separatismo voltará a ser capaz de formar um governo após um fim de legislatura difícil e com o orgulho ferido do vice-presidente catalão deposto, Oriol Junqueras, do ERC.
Junqueras preferiu ficar na Espanha e enfrentar a Justiça que o acusa de rebelião e sedição e agora está preso, diferentemente de Puigdemont. Seu partido era favorito nas pesquisas e ficou em terceiro.
Existe também a dúvida de se o separatismo, submetido ao cerco judicial, seguirá a via unilateral.
No quartel-general de campanha do ERC, em Barcelona, os sentimentos se misturavam. “É uma sensação estranha”, resumiu Fran Robles, médico de 26 anos.
“É certo que o ERC queria ser primeiro nestas eleições. Mas também é certo que, como sempre, o ERC trabalhará incansavelmente a favor do mandato democrático dos cidadãos da Catalunha”, disse Marta Rovira, que liderou a campanha do partido de Junqueras em sua ausência.
Em contraste, no QG do partido de Puigdemont, a euforia era palpável. “Puigdemont, presidente!”, gritavam seus partidários.
Sem incidentes, apesar da tensão
As eleições transcorreram sem incidentes apesar da tensão acumulada em dois meses de impasse, em um dia frio, mas ensolarado nessa região mediterrânea do nordeste da Espanha.
Abundaram as peças amarelas, a cor escolhida para protestar contra a prisão dos líderes separatistas.
O referendo de secessão de 1º de outubro, proibido pela Justiça e duramente reprimido pela Polícia, precipitou os acontecimentos: no dia 27 daquele mesmo mês, o Parlamento catalão proclamou a independência e horas depois o governo regional de Puigdemont foi suspenso pelo governo espanhol.
O movimento independentista ganhou força na Catalunha a partir de 2012, impulsionado pelo mal-estar pela crise econômica, a corrupção, à qual não foi indiferente o partido que liderou a causa – CiU, do então presidente Artur Mas – e o corte de alguns artigos da Constituição regional pelo Tribunal Constitucional.
Os separatistas saíram em grande número para protestar há cinco anos, primeiro para reivindicar um referendo de independência e por fim contra as prisões de seus líderes.
Fonte: Yahoo!