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Um dos dez moradores de rua que alegam ter sido levados à força para Boituva (SP) contou que foi chamado de “lixo” pelo prefeito de Monte Mor (SP) antes de ser colocado na van que fez o transporte.
“Ele chegou abordando a gente sem viatura no momento. Chegou e falou: ‘levanta todo mundo, não quero ninguém mais aqui’, e chamou a gente de ‘lixo’. Depois arrumou a van e mandou todo mundo para Boituva. O que ele fez com a gente foi desumano”, contou o morador, que preferiu não se identificar, em entrevista à TV TEM.
De acordo com a Polícia Civil, que registrou um boletim de ocorrência por constrangimento ilegal, os moradores procuraram a delegacia nesta quinta-feira (15), relatando que foram abordados pelo prefeito de Monte Mor e colocados à força dentro de uma van, sendo deixados em várias cidades da região.
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Moradores de rua registraram BO após serem levados para Boituva — Foto: TV TEM/Reprodução
Os sem-teto também disseram à polícia que não tiveram tempo de pegar objetos pessoais, como documentos, e não sabiam para onde o veículo os levaria. Dentro da van, eles teriam sido ameaçados com spray de pimenta para que ficassem em silêncio.
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“Eu não sabia para onde ia. Ele queria mandar minha esposa para um canto e eu para outro. Chegou acordando meu amigo, dando ‘bicuda’. Deu ordem para os guardas darem ‘bicuda’. Eles foram desumanos”, disse ainda.
Uma outra sem-teto contou à TV TEM que vive na rua há seis anos, mas nunca imaginou passar por uma situação com essa.
“A gente estava deitado e ele chegou berrando e falou para o guarda que, se a gente não levantasse, ia dar bicuda. Meu esposo tem hérnia e ele não conseguiu, então os guardas vieram com o spray de pimenta. O prefeito disse que a gente não podia ficar lá porque nós somos lixo. Fiquei com medo”, disse.
Mulher disse que esposo foi ameaçado com spray de pimenta para ir à Boituva — Foto: TV TEM/Reprodução
Depois de abordados pela prefeitura de Boituva na rodoviária, os moradores foram orientados a passar a noite no ginásio de esportes da cidade, que funciona como abrigo. Eles também foram orientados a registrar o boletim de ocorrência.
A prefeitura de Boituva também informou que os moradores estão sendo acolhidos pelas equipes de assistência social e que as pessoas que desejarem vão receber passagem para a cidade de origem.
Moradores de rua deixados em Boituva foram levados para abrigo da prefeitura — Foto: TV TEM/Reprodução
O que diz o prefeito de Monte Mor
Em uma live feita na quarta-feira (14), o prefeito de Monte Mor, Edivaldo Antônio Brischi (PTB), disse que não aguenta mais reclamações e que agora vai “começar a mostrar como se governa uma cidade”.
“Fiquem bravo comigo, pode ficar bravo, mas agora tem prefeito essa cidade. Tem que cuidar (…) Ontem foram seis viagens. Foram embora para Rio das Pedras, Bauru, Campinas, São Paulo, Orquídeas (…) Pessoas do bem, me ajudem, me apoiem nessa ação. Tem muita gente metendo louco no Edivaldo, metendo louco no prefeito. Só que eu não aguento mais reclamação, e não posso ver minha cidade virar um lixo”, disse.
Prefeito de Monte Mor fala sobre ação que enviou sem-teto para outros municípios
Em nota, a prefeitura de Monte Mor informou que não foi contatada oficialmente pela prefeitura de Boituva e nem pelo Ministério Público sobre a situação. Disse ainda que os moradores em situação de rua que ficavam próximo ao terminal rodoviário da cidade estavam sendo acompanhados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social desde o início do ano.
Segundo a prefeitura de Monte Mor, os sem-teto estavam referenciados no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREA) e um deles recebe bolsa emprego e outros benefícios.
Sobre a transferência, a prefeitura disse que o transporte foi feito depois de ser oferecida aos moradores a possibilidade de retornarem para suas cidades de origem, já que a maioria não é de Monte Mor, segundo o Executivo. O município reforçou que a transferência somente ocorreu para os moradores que concordaram.
Já o Ministério Público informou que pediu esclarecimentos à prefeitura e a delegacia de Boituva, e à prefeitura de Monte Mor.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da cidade informou que acompanha o caso. Segundo a OAB, o inquérito policial ainda é preliminar, mas há indícios de violação dos direitos humanos e desrespeito ao direito de liberdade de ir e vir.
As Defensorias Públicas do Estado de São Paulo e da União disseram que a política de expulsão de pessoas adotada pela prefeitura de Monte Mor ofende o direito constitucional à liberdade.
As defensorias pediram que seja imediatamente interrompida qualquer prática ou orientação no sentido de expulsar pessoas em situação de rua de Monte Mor e pediu esclarecimentos à prefeitura da cidade, em um prazo de dez dias.
Fonte: Tv Tem