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A baixa do nível do Lago de Furnas no Sul de Minas fez o reservatório artificial que abastece a Hidrelétrica de Furnas, em São José da Barra (MG), virar praticamente um pasto na maioria das cidades que utilizam o lago para o turismo e sustento de pescadores e piscicultores. Há cerca de 10 anos, comerciantes e pescadores que dependem do turismo e da criação de peixes sofrem com as constantes secas do lago, que também é habitat natural de diversas espécies de animais.
Hoje o nível do Lago de Furnas está em 37% de sua capacidade total, mas a situação pode piorar ainda mais. Nesta semana a Agência Nacional de Águas (ANA) fez uma declaração inédita de escassez de recursos hídricos e estabeleceu um limite mínimo para o lago até novembro, de 15%.
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O motivo para a declaração feita pela ANA é a previsão de falta de chuvas, que pode deixar a situação dos reservatórios ainda mais crítica e impactar também na produção de energia elétrica.
Presidentes de associações e prefeitos de cidades que ficam às margens do lago pedem que a cota mínima do lago seja de 762 metros. Com os 15% de limite mínimo estabelecidos pela ANA, esse nível ficaria em torno de 754. Mais de 30 municípios são banhados pelo lago e dependem economicamente de sua exploração.
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“São mais de 5 mil empreendimentos impactados, isso os formais. E 20 mil empregos que deixam de existir, que poderiam estar existindo agora se o lago estivesse, no mínimo, com 55% da sua capacidade”, disse Thayse de Castro, presidente da Associação
Esse volume é muito pouco para quem precisa da água para o turismo. Quem vive isso de perto é o comerciante Miguel Barbosa, dono de uma pousada em Alfenas (MG), que já chegou a ter 76 funcionários, mas por causa da falta da água e o impacto no turismo, hoje só tem 12.
“Já faz 10 anos que está com essa seca, nós estamos vivendo, como disse o próprio governador, que esteve na região ontem, isso virou um mar de lama. Faz 9 anos que nós vivemos um prejuízo incalculável, tínhamos 76 funcionários, hoje reduzimos para 10, 12, então hoje estamos passando por uma dificuldade muito grande”, disse o comerciante.
O comerciante diz que a cota mínima pedida de 762 metros ainda não é ideal, mas já ajudaria quem depende do lago a sobreviver.
“O nível de referência é, sendo esses 15%, que é 754 metros (quadrados), ao longo desse período, a Agência Nacional de Águas pode tomar decisões emergenciais do ponto de vista de suspensão ou de alteração dessas autorizações de usos, que não sejam de abastecimento ou de irrigação. Então, é como se fosse a hora que chegar esses 15% as outras autorizações de uso seriam suspensas temporariamente. Ou alguma outra ação que reduzisse essa saída de água, por outro uso que não fosse o abastecimento de água”, explicou Clibson Alves dos Santos, que é professor de gestão de recursos hídricos da Universidade Federal de Alfenas (Unifal).
“Não é o melhor, mas já ajuda muito e recupera bastante as nossas economias. Nesses 50 anos desde que a represa foi inaugurada, nós tivemos uns quatro ou cinco esvaziamentos do lago. Agora nesses últimos 10 anos, está direto e quando essa água sobe, vem rapidamente e desce rapidamente, causa um desequilíbrio ecológico muito grande. Os animais que vão à procura de água, gostam dessa beira do rio e de repente a água desce e sobe de novo, eles saem à procura de novo habitat e causa muitos acidentes”, disse ele.
Considerada a maior caixa d’água do Brasil, o lago artificial de Furnas foi criado na década de 1950 para abastecer a Usina Hidrelétrica de Furnas, até hoje uma das mais importantes para a geração de energia elétrica do país. Na época, várias cidades do Sul de Minas foram inundadas e a população precisou ser deslocada. Até hoje, quando a água baixa, é possível reviver o passado e ver ruínas de construções antigas que foram cobertas pela água.
“Hoje, nós temos simplesmente as águas do lago se prestando apenas à geração de energia elétrica. Assim, as cidades que margeiam o lago, passam a ter várias dificuldades. Elas perdem aquela capacidade de ar a água o uso múltiplo”, falou o presidente da Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago), Djalma Carvalho.
Declaração da ANA
Nesta semana, a Agência Nacional de Águas (ANA) declarou a chamada situação crítica de escassez quantitativa dos recursos hídricos da Região Hidrográfica do Paraná, que inclui os principais rios do Sul de Minas.
A medida da agência permite agora decisões temporárias até o fim de novembro, com a adoção de mudanças no funcionamento dos reservatórios para tentar economizar água até o fim do período da seca. Uma possibilidade é a alteração nos volumes de água das outorgas já concedidas.
O Sistema Nacional de Meteorologia emitiu alerta na semana passada prevendo que as chuvas devem ficar na média ou abaixo dela até novembro e sem previsão de conseguir manter o nível dos reservatórios do país.
Fonte: G1