Seca leva cangurus a invadirem fazendas no sul da Austrália em busca de comida e água

A seca que atinge o sul da Austrália tem forçado bandos de cangurus a se aproximarem de áreas agrícolas em busca de alimento e água, agravando os prejuízos de produtores rurais e aumentando o risco de acidentes nas estradas. Agricultores da região de Naracoorte e Lucindale relatam um aumento expressivo na presença dos animais em suas propriedades, o que pressiona os pastos e dificulta a gestão do rebanho.

O produtor Nick White contou à ABC News que chegou a avistar grupos de até 140 cangurus em suas terras. “Onde antes você não via nenhum, agora vê quatro ou cinco… Em outros lugares, onde via quatro ou cinco, agora há 30 ou 40”, disse. Segundo ele, o aumento da competição por pasto tem impacto direto na criação de gado e ovelhas. “Se há 40 ou 50 cangurus a mais, são 60 ovelhas a menos ou 15 cabeças de gado que não dá pra alimentar”, afirmou.

Para tentar conter o problema, o governo destinou 900 mil dólares australianos de um pacote de apoio à seca para o Departamento de Indústrias Primárias e Regiões (PIRSA), com o objetivo de reduzir a pressão de pastagem causada pelos cangurus. O investimento incluiu incentivos a processadores e simplificação de licenças para o abate, mas, segundo os produtores, os efeitos ainda não são perceptíveis.

Mesmo com medidas de controle, o número de animais parece inalterado. “Você pode abater 30 e, dois dias depois, ver mais 40 ou 50 no mesmo lugar. As pessoas evitam fazer isso, porque não querem ser vistas atirando em cangurus”, contou White.

A porta-voz da RSPCA (Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade contra os Animais na sigla em ingl), Rebekah Eyers, defendeu que o manejo letal deve ser “o último recurso”. “É importante priorizar o bem-estar desses animais nativos”, disse. A organização apoia métodos de manejo ético e humanitário, mas aguarda a divulgação do levantamento anual do Departamento de Meio Ambiente e Água (DEW) para confirmar se houve realmente um aumento populacional. “Com o tempo seco, é provável que os cangurus apenas tenham se tornado mais visíveis”, afirmou Eyers.

Enquanto isso, alguns fazendeiros buscam alternativas não letais. Alguns instalaram cercas mais altas para evitar que os animais consumam a ração do gado, por exemplo. Estima-se que mais de 5,2 milhões de cangurus vivam atualmente na região. O órgão afirmou que os dados do novo levantamento aéreo ainda estão sendo analisados e devem ser divulgados até o fim do ano.

Secas tendem a piorar

A seca no sul da Austrália é resultado de uma combinação de fatores climáticos e ambientais. A região vem enfrentando chuvas abaixo da média por vários meses, agravadas pelo fenômeno El Niño, que eleva as temperaturas do oceano Pacífico e reduz a formação de nuvens sobre o sul do continente. Com menos umidade no ar, as frentes frias que normalmente trazem chuva perdem força.

Além disso, o aquecimento global tem intensificado a frequência e a duração desses períodos secos, alterando os padrões de precipitação e aumentando a evaporação do solo. O uso intensivo da terra para agricultura e pecuária também contribui, pois reduz a cobertura vegetal natural e a capacidade do solo de reter água. Esses fatores combinados têm provocado escassez de pastagem, queda na disponibilidade de água e aumento da pressão sobre os ecossistemas locais.

Cientistas alertam que o cenário atual pode ser um prenúncio do futuro climático do país, reforçando a necessidade de políticas de uso sustentável da água, reciclagem e eficiência hídrica para enfrentar a crescente variabilidade climática.

Fonte: Um Só Planeta