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Orlando Rollo assumiu o Santos nesta terça-feira, depois de o então presidente José Carlos Peres ser afastado do cargo em reunião do Conselho Deliberativo na segunda à noite.
Depois de ir ao CT Rei Pelé conversar com jogadores e comissão técnica e nomear os novos membros do Comitê de Gestão, o presidente em exercício concedeu longa entrevista coletiva virtual. Ele evitou atacar Peres, seu desafeto declarado, mas fez duras críticas e abriu o jogo sobre a situação que encontrou no clube.
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– Situação catastrófica – resumiu Rollo.
Entre os assuntos da entrevista, Rollo foi questionado sobre as punições da Fifa ao Santos, as dívidas que o clube tem com os jogadores do elenco e o que fazer para gerar receita nesses últimos meses de mandato.
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Vale lembrar que o Santos terá eleições presidenciais em dezembro. Por isso, Rollo diz que fará uma “gestão de transição”.
Veja as principais respostas do dirigente:
Conversa com Cuca e elenco
– Ontem mesmo liguei para o Cuca. Sou amigo dele. Avisei que pela manhã estaria no CT Rei Pelé. Conversei com jogadores e comissão técnica e depois fizemos uma reunião geral. Uma situação preocupante. Alguns sem motivação. Mas o elenco é bem aguerrido, bem profissional. Muitos reclamando de atrasos de salários e de direitos de imagem e quando reclamavam ouviam promessas. Não estamos aqui para recriminar ninguém. A gestão passou. Estou como presidente em exercício. Posso ficar um dia, dois dias, 60 dias ou 90 dias. Não sei o prazo que serei presidente, mas uma coisa que falo pra vocês e falei para os jogadores também, é que vocês vão ter todo o meu foco para a resolução desses problemas, principalmente os financeiros.
– Não vendi ilusão para ninguém. Eles sabem, sim, da atual situação administrativa do Santos, que é bem gritante. É mais preocupante do que muita gente imagina. Só que eu sabia que ia encontrar uma situação tenebrosa, então não posso ficar reclamando. Porque se não vou ficar só reclamando. Temos de ganhar confiança no mercado, temos de pagar as dívidas. Pagando as dívidas vamos ganhar confiança no mercado. Muitas dívidas geraram punição pelo simples fato de o Santos não dar satisfação aos credores sobre formas de pagamento.
Dívidas e punições da Fifa
Ao todo, as dívidas que implicaram nas punições da Fifa ao Santos giram em torno de R$ 48 milhões. A maior e mais antiga é com o Hamburgo, da Alemanha, por causa da contratação do zagueiro Cleber Reis: cerca de R$ 30 milhões, com multa e juros. A segunda, de R$ 18 milhões, é com o Huachipato, do Chile, pela compra do atacante Soteldo.
A primeira punição da Fifa ao Santos apenas proibiu o clube de registrar novos jogadores, sem estipular um prazo. A segunda, diante da reincidência, já foi vista como mais grave: impede o Peixe de contratar por um período específico, de três janelas de transferências. Especialistas creem que o Peixe pode até perder pontos em caso de nova sanção.
– Todo mundo quer ouvir uma fórmula mágica, algo mirabolante. Não existe fórmula mágica, algo mirabolante. Nossa equipe já está empenhada desde cedo para criar uma solução. Não vou ficar me lamentando. Vamos focar na resolução de problemas. Se não houver alternativa, sem ser a negociação de algum jogador, não tenha dúvida de que vou pedir ajuda para o Conselho, para que eventualmente venha aprovar a negociação de um atleta. Eu não sou arrogante. O Santos precisa de ajuda. Eu tenho dois dias para resolver esse problema. 48h para resolver o problema de anos. É desumano. Mas não posso me lamentar. Vou resolver – explicou Rollo.
– Esse pagamento tem de ser feito com urgência. O Santos corre risco, sim, de nos próximos dias sofrer mais uma punição. Estamos me eminência de perda de pontos. Eu não vou enganar ninguém. E aí foi uma conversa que tive com umas lideranças do elenco, que chegaram para mim e disseram “presidente, estamos correndo e suando para perder ponto fora de campo?”. Isso vai ser uma avalanche para o elenco. Então, os jogadores estão solidários ao nosso problema. Eu parabenizo a postura dos jogadores do Santos por estarem solidários ao nosso problema. Estamos trazendo uma equipe técnica capacitada. Referências no setor administrativo, financeiro. Vamos fazer a reformulação administrativa do Santos para que a gente consiga pagar e/ou renegociar essas questões.
Salários e atrasos
– Precisamos pagar logo os jogadores para que se motivem mais. Tem caso de um atraso que vocês não acreditam. Os jogadores estão cientes das dificuldades do clube. Isso foi o que conversei com eles. Que eles estão cansados de ouvir conversa e que eu vou precisar mostrar ações. Foi uma conversa importante e fundamental. Os jogadores sabem das dificuldades e vamos resolver.
Reação do elenco à turbulência política
– Jogador está cansado de conversinha, não aguenta mais promessa vazia. Falei que não adianta ficar falando blablablá. Preciso ganhar a confiança através de ações. A maioria do elenco já me conhecia. Conhece meu caráter e minha forma de trabalhar. Sempre viajo com os jogadores, tento me aproximar, manter essa relação de confiança. Inclusive, só não fui viajar hoje porque minha prioridade é resolver a dívida com o Hamburgo. Se não, teria ido. Eu creio que se você falar a verdade, conversar com os jogadores, você começa a ganhar automaticamente a confiança deles. O chamado papo reto. Sem mentira e sem rodeios.
– Para um jogador como o Marinho se referir ao Cuca com presidente mostra que eles estão abandonados. Jogador gosta quando dirigente dá respaldo para eles. Infelizmente notei que eles não tinham esse respaldo, então criou-se uma certa revolta dos jogadores, que sempre foram profissionais.
Demissões?
– Quero deixar bem claro que neste primeiro momento, até avaliarmos a situação, não haverá demissão alguma. De nenhum funcionário de nenhum setor. Eventualmente no futuro pode ter alguma demissão, claro que pode, mas temos de avaliar o desempenho de forma profissional de cada membro. Não vai ter demissão em massa, terrorismo. Vamos avaliar todos os funcionários, prestigiar a todos. Existem muitos abnegados no Santos que serão prestigiados. Vamos fazer uma avaliação de todos. E se avaliarmos junto com o Comitê que estes funcionários não estão rendendo ou que suas funções estão mal distribuídas, ou vamos realocar ou vamos demitir. Mas não agora. Agora todos os funcionários podem ficar tranquilos.
Agora, o Conselho Deliberativo do Santos tem até 60 dias para marcar uma assembleia com os sócios do clube, que votaram a favor ou contra o impeachment de José Carlos Peres. Enquanto isso, o presidente em exercício é Orlando Rollo.
Fonte: G1 – Foto: Ivan Storti/Santos FC