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A jornalista Bruna Drews (foto), de 35 anos, revelou nesta sexta-feira, 18, que sofreu assédio sexual do apresentador José Luiz Datena. A repórter, que começou a trabalhar com ele no programa Brasil Urgente há quase quatro anos, afirmou ter ouvido de Datena que ele “tocava punheta pensando nela” e que Bruna não precisava emagrecer “porque já era muito gostosa”.
Em entrevista à Glamour, a jornalista falou sobre a acusação e disse que a “brincadeira” não foi a primeira. Desde que entrou na atração, ela vem escutando declarações de cunho sexual. “Ele me faltava com respeito no ar. A gente entrava ao vivo no meio de uma chacina e ele pedia, por exemplo, para balançar os peitos, ou mandava o cinegrafista descer a câmera para mostrar meu corpo. Eu ficava totalmente constrangida, e até o operador me pedia desculpas depois, dizendo que, se ele não fizesse isso, seria demitido”, declarou.
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Bruna realizou uma queixa formal ao Ministério Público,que, na semana que vem, decidirá se abre uma investigação policial ou se pede diretamente a abertura de um processo na Justiça. Em licença médica desde julho, a repórter também move ação trabalhista contra a Band, à qual acusa de ter sido conivente com o caso.
Quando os assédios começaram?
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Eu fui para a Band por conta do Luiz Bacci em 2014. Na época, ele iria ter um programa. Quando a atração acabou, eu e mais alguns profissionais fomos transferidos para o Brasil Urgente. Na época (2015), eu já escutava no corredor: ‘olha, o Datena não quer seu trabalho, quer você’. Eu não acreditava, achava papo furado. Entretanto, assim que comecei a fazer matérias para o programa, percebi que ele me faltava o respeito no ar. Para você ter ideia, meus advogados guardaram matérias que saíram na mídia dizendo: ‘Datena pede repórter para balançar os peitos’ ou ‘Datena xaveca repórter’. Teve uma vez que ele mandou o cinegrafista descer a câmera para mostrar meu corpo. Eu fiquei totalmente constrangida e até o operador me pedia desculpa depois dizendo que se ele não fizesse isso seria demitido.
E como você regia às “brincadeiras” no ar?
Se eu não aceitasse, eu perderia meu emprego. Então fui aguentando, dando risada… Por conta disso, virei a “queridinha” dele. Com isso, ele me mandava para pautas principais, aparentemente, porque valorizaram meu trabalho, mas não… Em todas as matérias, sempre havia uma brincadeira de cunho sexual e até pessoas próximas a mim já comentavam. Quando ia à periferia gravar eu ouvia: ‘olha o lanchinho do Datena’. Isso me constrangia demais! Mas ele é tão grosso e machista que se pedisse para parar eu seria claramente demitida. Fui aguentando para manter o emprego.
Foi por conta dos assédios frequentes que você desenvolveu Síndrome do Pânico?
Eu desenvolvi a doença por viver diariamente questões policiais – cheguei a ser ameaçada por bandidos… E também porque a Band nunca respeitou horários de expediente. Eu chegava a trabalhar 15 horas por dia. Me afastei da emissora durante três meses e,l quando voltei, eu expliquei ao Datena que tomava remédios para a síndrome, e ele me dizia que era frescura. Comecei a trabalhar no Agora com Datena e a promessa era que eu faria matérias leves, de comportamento e não entraria mais ao vivo com o apresentador. Mas isso não aconteceu. Os assédios continuaram no ar, e aguentei firme e forte por mais um ano. Mas, depois do assédio presencial, eu caí na real porque me sentia um lixo como mulher. Ele gostava de mim não pelo meu trabalho, e sim pelo meu corpo.
Qual foi o estopim para tomar coragem e denunciá-lo?
Foi em uma confraternização no Boteco do Tonico, amigo do Datena. Era ali que ele sempre se encontrava com políticos, delegados… Ele convidou cerca de 10 pessoas, tinha a assistente de palco, a camareira, amigos dele… Em certo momento, estávamos sentados à mesa quando a Bruna Tobias, assistente de palco, se levantou para ir embora. Quando ela saiu, Datena olha pra mim e diz: ‘Bruna, eu vim aqui nessa reunião com uma única intenção, comer a assistente de palco, mas como ela foi embora, acho que é hora da gente conversar’. Ele falou sério mesmo, sem brincadeiras e com pessoas do lado escutando. Datena continuou: ‘Eu acho que você está doente porque você emagreceu muito’. Eu, então, respondi: ‘É o trabalho, correria, a gente acaba emagrecendo mesmo’. Ele emendou: ‘Mas você era muito gostosa antes, você tem que voltar a ser gostosa porque eu batia punheta pra você todos os dias, antes e depois do programa. Você não tem ideia de quanta punheta eu ja bati pra você’. Datena falou isso na frente das 5 pessoas que estavam na mesa. Elas estavam claramente constrangidas. Eu dei uma risadinha e tentei mudar de assunto. Mas ele seguia: ‘Não estou brincando. Você não sabe o número de punheta que eu batia… Tem que voltar a ser gostosa, agora você está magrela’. Nesse momento, Mauricio Staut, amigo pessoal e coordenador de Links da Band, levanta-se, coloca a mão no ombro do Datena e fala: ‘Menos, você está exagerando’. Ele disse que não e pediu mais um uísque.
Como você se livrou da situação?
Depois disso, eu tentei inúmeras vezes ir embora sozinha, mas ele não deixava. Pedia para ficar mais um pouco e continuava com as declarações de cunho sexual. Datena dizia que era muito competente, mas emendava algo relacionado ao meu corpo. O Rafael Gessullo, por exemplo, foi contatado e disse que não ouviu nada. Mentira, a mulher dele estava na mesa e me disse que o marido se sentiu constrangido e que, por isso, saiu da mesa. Quem é da Band tem medo de falar! Somente uma pessoa que estava ali topou testemunhar ao meu favor por achar a situação grotesca e nojenta. Tentei ir embora, mas ele só permitiu com uma condição: se o delegado amigo dele me deixasse em casa. Ele falava: ‘Eu mando aqui’. Conclusão: fui para casa constrangida ao lado de um policial tendo bebido apenas uma cerveja. Agora ele afirma que não tenho saúde mental e que estou delirando. Eu não estava bêbada. Típico de quem vai se defender por ter mulher e filho. Precisei de coragem para fazer isso porque a acusação destrói a minha carreira. Fiquei tão doente depois do episódio e por já ter a Síndrome do Pânico eu não consegui voltar mais à Band. Comecei a ter ataques de pânico ao entrar na emissora. Encontrava com ele e gelava. Eu tremia, chorava, recorria a colegas para me acalmar. Muitas amigas minhas que me apoiam hoje me falam: ‘Vimos o quanto você sofreu e precisa mesmo calar a boca dessa cara’.
E por que demorou a relatar a situação?
Quando comecei a passar mal, eu mandei uma carta para Band contando sobre o assédio. Tive uma reunião com o RH e o diretor artístico da época, Zé Emílio. Sabe o que ouvi? ‘Isso é típico do Datena, ele faz isso com as pessoas que gosta. Vai pra casa, melhora a cabeça e depois a gente conversa’. Ou seja, a Band foi totalmente conivente porque eu queria que ele fosse investigado, que chamassem as testemunhas e que o caso viesse à tona. Decidi procurar um advogado e tomei a coragem de denunciar. Alguém tem que parar esse homem. Ele assedia moralmente e sexualmente também.
Você continua de licença na emissora então?
Sim, depois do assédio entrei até em depressão. Estou afastada pelo INSS porque os médicos chegaram a conclusão que adquiri essa doença por causa do trabalho e por causa de pessoas tóxicas que envolviam meu trabalho. A Band e o Datena destruíram minha carreira e hoje não tenho condições de trabalhar como repórter, eu joguei a toalha e denunciei porque não tenho nada a perder. Sei que o Datena vai ser condenado a pagar cestas básicas, não vou ganhar um real com essa história, só criticas e sofrimento, mas não vou ficar calada. Ainda vai aparecer muita mulher que passou pela mesma situação com ele.
Os casos recentes de assédio divulgados na imprensa (José Mayer, etc) te ajudaram a tomar essa decisão?
Me conscientizei que as mulheres não precisam passar por isso. Quando você sofre um assédio, no primeiro momento você não entende. Eu guardei aquilo pra mim durante um mês, me arrastando, até que contei para o meu pai. Ele me disse: ‘Filha isso não se fala nem para prostituta’. Sé quem sente na pele sabe… No início você se sente um lixo, um nojo, e às vezes se culpa por isso. Pensei: ‘O que será que fiz? Será que dei alguma brecha? ‘. As mulheres não podem fazer isso. Ainda estamos num mundo machista e os homens precisam entender que não é assim que se trata uma mulher. Todo nosso valor acaba a partir do momento que seu chefe de chama de ‘gostosa’, você perde o valor como profissional. Eu e meu advogado nos planejamos muito para entrar na justiça. Nunca pedi dinheiro pro Datena a fim de ficar calada. Só quero que as pessoas saibam quem ele é.
Conhece outras mulheres que foram assediadas por ele?
Eu não sei de outra repórter, acredito que vai aparecer. A Livia Zuccaro (repórter do programa) também teve Síndrome do Pânico e ficou afastada por seis meses, mas não sei o que rolou ali. Espero que as pessoas tomem coragem, sei que não devo ter sido a primeira.
Além de Bruna, a jornalista Julieta Mussi publicou um relato onde conta como funcionava a Band na época em que trabalhava na emissora. “Era muito comum ouvir frases do tipo ‘essa apresentadora só está aí porque deu para ciclano.. Ou presenciar apresentadores do programa esportivo da casa assobiando ou fazendo comentários vulgares sobre os corpos de funcionárias que estavam indo almoçar… Nunca tive a chance de conversar pessoalmente com o apresentador em questão (imagine ele nem olhava para a equipe, não dava um bom dia, boa tarde e mal sabia o nome dos funcionários). Mas imagino com clareza ele dizendo de boca cheia tudo o que a repórter o acusa nesse processo.”
O outro lado da história
A Glamour entrou em contato com a Band, que divulgou o seguinte comunicado: “O processo trabalhista em questão tramita em segredo de Justiça, a pedido, inclusive, da própria autora. A Band está impedida de se manifestar sobre o assunto.”
A publicação também falou com Eduardo Cesar Leite, advogado de Datena há 15 anos, que concedeu a seguinte entrevista:
O que Datena tem a dizer sobre as declarações da jornalista Bruna Drews?
É um assunto absurdo sem qualquer fundamento. Quando tivemos conhecimento no ano passado das declarações nós tomamos todas as medidas na esfera criminal. Entramos com as medidas e quem está tratando disso é o Dr Mariz de Oliveira. O que me causa um pouco de surpresa é: qual foi a razão pela qual isso veio a tona através da mídia, por que eu questiono isso? Porque ela mesma pediu segredo de justiça e ela mesmo quebrou uma determinada ordem judicial. Obviamente ela vai responder por revelar algo que estava em apuração. Segundo acho essa versão completamente esdrúxula. Ela teria na oportunidade abordado algumas testemunhas e todas elas, que foram muitas, negaram categoricamente. Por isso achamos estranho essa história ser revelada exatamente no dia de hoje. Talvez ela tenha o propósito de levar isso para a imprensa a fim de fazer disso uma suposta prova.
Mas ela diz que existe sim uma testemunha que vai colaborar com o caso…
Era um jantar onde tinham milhares de pessoas e nós temos umas 10 que participaram do início ao fim do restaurante e todas negaram categoricamente. O próprio advogado dessa jornalista diz que ela tem problemas psicológicos, que ela estaria tendo um distúrbio e que ela estaria sendo ameaçada de morte por estar fazendo matérias policiais… O que achamos estranho é uma jornalista que trabalha para um programa policial, um programa investigativo, ter problemas psicológicos por conta de ameaça. Ora, então ela não pode ser jornalista investigativa.
Então o apresentador nega qualquer acusação?
As medidas judiciais já tomamos até para poder reputar calúnia e difamação. Portanto negamos qualquer narrativa dita por ela. Ela vai responder por calúnia. Estamos muito tranquilos, são alegações infundadas, inverídicas. Ela está afastada desde o ano passado e quer usar a mídia para esquentar supostas provas que ela vem alegando que tem, mas que não existem. Ela tem que tratar os problemas de saúde… Lá atrás, por sinal, foi noticiado o problema. Em uma matéria ela desmaiou… é um problema dela apesar de que o Datena sempre se preocupou com a saúde de seus funcionarios. Quem o conhece sabe que o jornalista repudia qualquer tipo de assédio e violência contra a mulher.
Mas ela alega que não foi só esse caso no bar. Ele a assediava no ar com declarações de cunho sexual…
É um absurdo, a única coisa que tenho conhecimento foi em um programa ao vivo em que Bruna teria provocado uma conversa com Datena. Na ocasião ela estava fazendo uma matéria sobre o Golpe do Amor. Datena, então, falou: ‘Eu cairia facinho’. Uma resposta que não tinha sentido. Isso foi noticiado na época. Ela provocou uma conversa e Datena num tom de brincadeira respondeu e fez essa brincadeira. Isso não pode ser considerado assédio nem aqui e nem em nenhum canto do planeta. Ela vai ter que provar.
Como está o Datena?
Datena está triste com toda essa história, entretanto, tranquilo porque isso não procede. Das milhares de pessoas que estavam lá, várias se prontificaram a testemunhar em favor do Datena.
Fonte: Glamour