Anúncios
Uma descoberta arqueológica intrigante pode mudar a forma como entendemos a expansão inicial do cristianismo. Uma tigela de cerâmica de cerca de dois mil anos, encontrada na costa de Alexandria, no Egito, pode conter a mais antiga referência material conhecida a Jesus Cristo.
O objeto, apelidado de “Taça de Jesus”, foi localizado originalmente em 2008 por uma equipe liderada pelo renomado arqueólogo marinho francês Franck Goddio, durante escavações no antigo porto de Alexandria. O sítio fica próximo da submersa ilha de Antirhodos, onde supostamente teria ficado o palácio de Cleópatra.
Anúncios
Apesar de estar sem uma das alças, a peça apresenta excelente estado de conservação. Em sua superfície, lê-se a enigmática inscrição em grego antigo “DIA CHRSTOU O GOISTAIS”, cuja tradução está no centro de um intenso debate acadêmico.

Significado da inscrição
Para alguns estudiosos, a inscrição pode significar “Por Cristo, o cantor” ou “O mágico por meio de Cristo”. Jeremiah Johnston, especialista em Novo Testamento, afirmou em entrevista ao canal Trinity Broadcasting Network (TBN) no dia 22 de agosto que a peça data do século 1 d.C., período em que Jesus teria sido crucificado.
Anúncios
“A reputação de Jesus era de curador, milagreiro e exorcista. Essa taça pode ser um testemunho direto de como seu nome já era invocado em práticas espirituais logo após sua morte”, explica Johnston. Segundo ele, o artefato reforça a ideia de que a influência de Cristo se expandiu rapidamente além da Judeia, chegando a centros cosmopolitas como Alexandria.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/I/H/NcAbyfRFC8B1BfVArK1g/101977857-15077467-image-a-28-1757433128531.jpeg)
Goddio sugere que o cálice teria sido utilizado em rituais de adivinhação comuns na região. Estatuetas egípcias antigas retratam cerimônias semelhantes, nas quais praticantes derramavam óleo sobre a água para entrar em transe e buscar respostas de entidades místicas.
Alexandria, no primeiro século, era um ponto de encontro entre tradições religiosas: judaísmo, paganismo e os primeiros sinais do cristianismo conviviam lado a lado. Nesse cenário, a apropriação do nome de Jesus em contextos ritualísticos não seria surpreendente.
Divergências entre os especialistas
Por outro lado, nem todos os acadêmicos concordam com a interpretação de que a taça se refira ao Cristo do cristianismo, destaca o jornal Daily Mail. Além disso, leituras alternativas colocam em dúvida a tese de que a peça seja a primeira menção arqueológica a Cristo.
Bert Smith, professor da Universidade de Oxford (Reino Unido), argumenta que a inscrição pode mencionar uma pessoa chamada Chrestos. O nome era comum na época, especialmente entre membros de um grupo religioso chamado Ogoistais.
Klaus Hallof, da Academia de Berlim-Brandemburgo (Alemanha), sugere que os Ogoistais poderiam estar vinculados a cultos de deuses gregos e egípcios, como Hermes, Atena ou Ísis.
Já o teólogo Steve Singleton lembra ainda que chrêstos em grego significa simplesmente “bom” ou “gentil”, o que mudaria completamente o sentido da inscrição para algo como “Dado por gentileza aos mágicos”.
Por sua vez, György Németh, da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, propõe uma interpretação prática de que a tigela poderia ter servido para preparar unguentos, sendo “chrêstos” uma referência a pomadas, e não a Jesus.
Impacto histórico da descoberta
Se confirmada a ligação da inscrição a Cristo, a “Taça de Jesus” representaria a evidência material mais antiga de sua existência fora dos textos bíblicos, datando de apenas algumas décadas após sua crucificação. Isso implicaria que a fama de seus milagres, como transformar água em vinho, multiplicar pães e peixes, curar enfermos e ressuscitar mortos, já circulava no Egito no século 1.
Tal descoberta poderia levar a uma reavaliação do papel de Alexandria como centro de difusão das primeiras ideias cristãs. Por ali, elementos do judaísmo, do paganismo e do cristianismo nascente se mesclariam em um rico caldo cultural e espiritual.
Fonte: Galileu