28 março, 2024

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Racismo: Mulheres negras têm palestra online interrompida por imagens de gorilas, em evento com apoio da Unesp

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Uma palestra online que problematizava o racismo, promovida no dia 16 de novembro pelo Conselho Municipal de Políticas Públicas para Mulheres em parceria com a prefeitura de Bauru (SP) e apoio da Universidade Estadual Paulista (Unesp), foi alvo de ataques.

Durante o evento, palestrado e mediado por mulheres negras, um vídeo com três gorilas dançando e emitindo sons do animal foi apresentado aos ouvintes por meio de compartilhamento de tela.

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A estudante de jornalismo na Unesp e mediadora da palestra, Letícia Pinho, de 22 anos, contou ao g1 que a mesa começava 14h e o link de acesso à plataforma de transmissão do evento foi compartilhado previamente. Enquanto aguardavam os ouvintes, as ofensas começaram.

“A mesa foi divulgada com antecedência, junto ao link da transmissão. Por volta das 14h, enquanto aguardávamos o pessoal, cerca de três pessoas com nomes claramente falsos entraram. Um dos perfis, com o nome de Maria Clara, compartilhou a tela e o vídeo dos gorilas começou”, explica.

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Ainda segundo Letícia, os organizadores e responsáveis pela transmissão da Casa do Garoto, estavam com instabilidade de internet no momento e não conseguiram remover os perfis. Porém, a professora da Unesp e palestrante, Andresa de Souza Ugaya, solicitou que parassem.

Em entrevista, a professora Andresa comenta que pediu que o vídeo fosse interrompido e que esses perfis saíssem da palestra. “Eu falei que se não estivessem ali para contribuir, que saíssem da plataforma. Tudo isso com educação, mesmo estando com muita raiva”, diz.

Três mulheres negras tem palestra online interrompida por vídeo de gorilas — Foto: Arquivo Pessoal
Três mulheres negras tem palestra online interrompida por vídeo de gorilas — Foto: Arquivo Pessoal

Mas os ataques não pararam. Ao contrário, Letícia relata que no decorrer das falas das palestrantes, a mesma pessoa com nome de Maria Clara voltou a transmitir a tela, dessa vez com o brasão do Flamengo, junto ao hino do time de futebol carioca.

No momento do ocorrido, Letícia afirma que não soube como reagir, mas o susto fez com que o tema da palestra “Mulheres negras e o racismo nosso de cada dia” abordasse, também, ações como a que presenciou.

“Fiquei incrédula, chocada, não sabia o que fazer, não consegui falar nada. As pessoas aproveitaram do anonimato para praticar esse ato racista. Nos chocamos tanto com o que aconteceu que a mesa caminhou para esse assunto também, mudamos um pouco o foco”, conta.

Andresa também explicou que não esperava o ocorrido, mas que manteve a calma para conseguir reafirmar o pedido aos perfis que saíssem da palestra.

“Eu mantive a calma, mas depois chorei ao ver uma imagem da personagem Adelaide do Zorra Total que havíamos trazido para a discussão. O racismo é sistêmico, eu fico com raiva, mas mantenho o engajamento na minha luta, porque o que aconteceu na palestra é o que vivemos todos os dias”, lamenta.

Inclusive, Letícia relembrou que, pela voz de um desses perfis que proferiram os ataques, ela acredita que se tratava de um jovem entre 12 e 13 anos. Além disso, as três mulheres registraram um Boletim de Ocorrência online no último domingo (28).

Curso de Jornalismo da Unesp emitiu nota de repúdio ao caso contra as três palestrantes — Foto: Instagram /Reprodução
Curso de Jornalismo da Unesp emitiu nota de repúdio ao caso contra as três palestrantes — Foto: Instagram /Reprodução

Em nota, a prefeitura informou na sexta-feira (3) que a Secretaria do Bem-Estar Social está tentando, junto à entidade Casa do Garoto, identificar “os hackers” que invadiram a palestra online.

O curso de Jornalismo da Unesp divulgou uma nota de repúdio ao caso contra as três palestrantes. No texto, o curso reforça que se solidarizam às mulheres, “assim como aos demais indivíduos que convivem com o preconceito diariamente.

“Atitudes racistas não podem ser aceitas e ter espaço nos diversos ambientes sociais, cabe, portanto, às autoridades a identificação e punição dos agressores”.


Caso em Botucatu

Talita Santos é veterinária especialista em animais exóticos (Botucatu) — Foto: Talita Santos/Arquivo pessoal
Talita Santos é veterinária especialista em animais exóticos (Botucatu) — Foto: Talita Santos/Arquivo pessoal

Em março deste ano, uma médica veterinária especialista em animais exóticos relatou ter sofrido um ataque racista depois que sua palestra online para um grupo de estudos da Unesp de Botucatu (SP) foi invadida.

Talita Santos, que atende em São Paulo, contou ao g1 que estava ministrando a palestra para o Grupo de Estudos de Animais Selvagens da universidade no dia 18 de março e, cerca de uma hora depois de começar o conteúdo, foi interrompida por um áudio.

“Abriram os microfones, como se fosse entrar uma dúvida, mas eu não estava entendendo. Começou uma poluição sonora muito grande, barulho, música, sons de primatas, falas do presidente Bolsonaro”, lembra Talita.

Segundo a veterinária, outras pessoas que estavam na chamada de vídeo relataram que também foram exibidas imagens de primatas e do presidente durante a palestra, mas ela não conseguiu ver, já que estava com a tela aberta nos conteúdos que ensinava.

“Eu fiquei tentando falar porque eu não entendia, achei até que fosse um vírus do meu computador, aí a palestra sumiu. Depois o organizador me falou que a palestra tinha sido invadida”, conta a veterinária.

G1

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