23 abril, 2024
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Lona montada, peças ensaiadas, figurinos e maquiagens prontos, mas as luzes apagadas e nenhum público nas arquibancadas. Os circos foram uma das artes mais prejudicadas pela pandemia do novo coronavírus pelo fato dos artistas viverem 100% das bilheterias.
Este foi o caso do Circo do Tubinho, que chegou à cidade de Piracicaba (SP) no final de janeiro de 2020 e continua instalado até o momento, porém sem espetáculos em cartaz por conta do decreto de prevenção ao Covid-19.
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Para sobreviver, os artistas usam a criatividade para vender o que mais sabem fazer, de maçãs do amor a cestas de presentes, além da doação de alimentos vinda do público que antes estava na arquibancada. Esquetes na internet, até com a participação do ator Dedé Santana, também ajudam os artistas a se manter financeiramente na temporada sem espetáculos.
De acordo com Pereira França Neto, o palhaço Tubinho, antes da pandemia o circo-teatro estava em uma boa temporada na cidade, o que ajudou os artistas financeiramente nos primeiros meses sem espetáculos, mas depois foi preciso usar a criatividade para sobreviver.
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“Nunca ficamos tanto tempo parados desde a nossa estreia em 2001. Começamos a vender bolo, maçã do amor e a pegar propagandas para as lives que fizemos no Facebook, que foi o que manteve a questão financeira da companhia”, explicou Tubinho.
O artista também conta que foram muito ajudados pelo público de Piracicaba e cidades da região, tanto na compra dos produtos, quanto em doações.
“Uma senhora apareceu com um saco de arroz de cinco quilos pela metade e disse que não tinha dinheiro para nos ajudar, mas que metade de um saco de arroz era suficiente para a família dela e a outra metade ela nos trouxe”, contou Neto.
Na instalação do circo, existem diversos trailers e em cada um deles, vive uma família de artistas do circo. Eles também tiveram que se reinventar durante a pandemia para ajudar nas despesas.
Os atores Franciele Machado, de 34 anos, e José Roberto de Assis, de 32 anos, se conheceram quando o Circo do Tubinho se instalou na cidade da atriz, Araçoiaba da Serra (SP), em 2013. Eles começaram a namorar e Franciele decidiu ir trabalhar no circo junto de Assis.
Na época, Franciele levou seu filho Pietro Machado Maragon, que hoje tem 11 anos, e o casal teve a Antonela Machado de Assis, de 6 anos. Ambos os filhos também são atores do circo.
Para ajudar nas despesas, o casal começou a montar e vender cestas de café da manhã e caixas de bombom para datas comemorativas como Dia das Mães e Dia dos Namorados. Também passaram a vender espetinhos de morango com chocolate, que segundo eles, era sucesso durante os espetáculos do circo.
“Foi um susto quando falaram que iria fechar tudo. Estávamos bem estruturados, mas aí foi passando o tempo e já faz sete meses que estamos parados, mas graças a Deus que a gente estava em Piracicaba, porque o público é bem acolhedor”, afirmou a atriz.
Além dos artistas do Circo do Tubinho, Neto acolheu famílias de outros circos na instalação em Piracicaba, que também foram prejudicadas pela pandemia.
Essas famílias também começaram a vender produtos pela cidade usando carros de som, como bolas e maçãs do amor, com o intuito de ajudar nas finanças.
“A despesa que eu tive com as famílias de outros circos que vieram ficar com a gente aumentou bastante, mas como eu estava em uma situação que iria ser difícil de qualquer maneira, ficou só um pouquinho mais difícil. Talvez para quem tenha recebido a ajuda, fez total diferença”, disse Tubinho.
“No meio dessa pandemia, a vitória é estarmos vivos. Nosso maior sonho hoje é voltar aos espetáculos e poder fazer o que fazemos melhor, levar o sorriso para todo mundo”, concluiu Franciele.
Uma das ideias da equipe do Tubinho durante a pandemia foi a realização de lives no Youtube e no Facebook da companhia, que possibilitou aos artistas a ajuda financeira com propagandas durante as transmissões.
“Foi um meio que achei de ainda ter contato com o público, para que vejam que estamos na ativa, estamos trabalhando”, explicou Neto.
Além das lives, o projeto mais recente da equipe é o chamado “Condomínio do Tubinho”, que são esquetes exibidas em um canal no Youtube em que os personagens Tubinho, Jurubeba e Senhor Pinto passam por diversas situações.
“Inicialmente esse projeto era para fazer durante a pandemia, mas ficou tão bacana e conseguimos visualizações tão expressivas, que ele deve seguir depois da quarentena”, determinou Neto.
As esquetes saem no canal do Youtube do Tubinho todas as segundas, quartas e sextas-feiras, ao meio-dia, e contam com vários convidados especiais, como Dedé Santana, o embaixador do circo no Brasil. O ator estava em Piracicaba, no dia da entrevista, para gravar a participação especial em um dos capítulos.
“Em meio essa crise por conta da pandemia, é importante que os artistas se unam para ajudar e fortalecer um ao outro com os projetos e trabalhos”, declarou Dedé.
O comediante Dedé Santana contou que, por causa da pandemia, também teve que adiar trabalhos, como a produção de três filmes e um projeto que iria estrear em Niterói (RJ) chamado “Cine Circo Teatro Dedé Santana”. Neste último, seriam oferecidos para a população filmes dirigidos e atuados pelo ator, um espetáculo circense e uma escola de artes para as crianças, tudo gratuito.
“O circo é o grande meio de cultura no país, porque ele leva a arte tanto para as cidades grandes quanto para as pequenas. É a mãe de todas as artes”, afirmou o embaixador.
Dedé Santana ainda comentou que, durante a quarentena, foi convidado por mais de 30 prefeituras para gravar vídeos incentivando a população a ajudar os circos, por conta dos artistas circenses estarem passando por dificuldades.
“O circo nunca foi valorizado pelo governo, mas pelo público sim. Porém, tem gente que acha caro o circo e por causa disso, eles vão ficando mais fracos e os espetáculos também”, afirmou.
Com essas dificuldades, muitos artistas circenses, segundo Dedé, acabam deixando o país para buscar condições melhores.
A pandemia tirou do artista o contato com o público, que segundo Tubinho, é sua essência. Mas ele pede aos colegas de profissão que deixem claro na memória quem são para que essa essência permaneça.
“Pelas autoridades o circo não é uma prioridade, mas o que importa pra gente é o público. Quando montamos uma lona de circo e o público aparece, dá risada e bate palma, não tem como dizer que somos desvalorizados nesse sentido. Enquanto existir uma criança, o circo ainda vai ser o circo”, concluiu Tubinho.
Fonte: G1 – Foto: Studio Diego Soares
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