Anúncios
Lona montada, peças ensaiadas, figurinos e maquiagens prontos, mas as luzes apagadas e nenhum público nas arquibancadas. Os circos foram uma das artes mais prejudicadas pela pandemia do novo coronavírus pelo fato dos artistas viverem 100% das bilheterias.
Este foi o caso do Circo do Tubinho, que chegou à cidade de Piracicaba (SP) no final de janeiro de 2020 e continua instalado até o momento, porém sem espetáculos em cartaz por conta do decreto de prevenção ao Covid-19.
Anúncios
Para sobreviver, os artistas usam a criatividade para vender o que mais sabem fazer, de maçãs do amor a cestas de presentes, além da doação de alimentos vinda do público que antes estava na arquibancada. Esquetes na internet, até com a participação do ator Dedé Santana, também ajudam os artistas a se manter financeiramente na temporada sem espetáculos.
/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2014/10/12/tubinho_prefeito_de_sorocaba-1.jpg?quality=70&f=auto)
Maçãs de amor para o público
De acordo com Pereira França Neto, o palhaço Tubinho, antes da pandemia o circo-teatro estava em uma boa temporada na cidade, o que ajudou os artistas financeiramente nos primeiros meses sem espetáculos, mas depois foi preciso usar a criatividade para sobreviver.
Anúncios
“Nunca ficamos tanto tempo parados desde a nossa estreia em 2001. Começamos a vender bolo, maçã do amor e a pegar propagandas para as lives que fizemos no Facebook, que foi o que manteve a questão financeira da companhia”, explicou Tubinho.
O artista também conta que foram muito ajudados pelo público de Piracicaba e cidades da região, tanto na compra dos produtos, quanto em doações.
“Uma senhora apareceu com um saco de arroz de cinco quilos pela metade e disse que não tinha dinheiro para nos ajudar, mas que metade de um saco de arroz era suficiente para a família dela e a outra metade ela nos trouxe”, contou Neto.
Famílias do circo
Na instalação do circo, existem diversos trailers e em cada um deles, vive uma família de artistas do circo. Eles também tiveram que se reinventar durante a pandemia para ajudar nas despesas.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/c/S/BBHEFiTPAx2Q4PNle06Q/whatsapp-image-2020-10-10-at-16.35.37-10-.jpeg?quality=70&f=auto)
Os atores Franciele Machado, de 34 anos, e José Roberto de Assis, de 32 anos, se conheceram quando o Circo do Tubinho se instalou na cidade da atriz, Araçoiaba da Serra (SP), em 2013. Eles começaram a namorar e Franciele decidiu ir trabalhar no circo junto de Assis.
Na época, Franciele levou seu filho Pietro Machado Maragon, que hoje tem 11 anos, e o casal teve a Antonela Machado de Assis, de 6 anos. Ambos os filhos também são atores do circo.
Para ajudar nas despesas, o casal começou a montar e vender cestas de café da manhã e caixas de bombom para datas comemorativas como Dia das Mães e Dia dos Namorados. Também passaram a vender espetinhos de morango com chocolate, que segundo eles, era sucesso durante os espetáculos do circo.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/e/z/ltedFjSCudXvNlgR3ouA/whatsapp-image-2020-10-10-at-16.35.37-11-.jpeg?quality=70&f=auto)
“Foi um susto quando falaram que iria fechar tudo. Estávamos bem estruturados, mas aí foi passando o tempo e já faz sete meses que estamos parados, mas graças a Deus que a gente estava em Piracicaba, porque o público é bem acolhedor”, afirmou a atriz.
Além dos artistas do Circo do Tubinho, Neto acolheu famílias de outros circos na instalação em Piracicaba, que também foram prejudicadas pela pandemia.
Essas famílias também começaram a vender produtos pela cidade usando carros de som, como bolas e maçãs do amor, com o intuito de ajudar nas finanças.
“A despesa que eu tive com as famílias de outros circos que vieram ficar com a gente aumentou bastante, mas como eu estava em uma situação que iria ser difícil de qualquer maneira, ficou só um pouquinho mais difícil. Talvez para quem tenha recebido a ajuda, fez total diferença”, disse Tubinho.
“No meio dessa pandemia, a vitória é estarmos vivos. Nosso maior sonho hoje é voltar aos espetáculos e poder fazer o que fazemos melhor, levar o sorriso para todo mundo”, concluiu Franciele.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/N/q/K43U9HRsu9YdF9dWMooQ/whatsapp-image-2020-10-10-at-16.35.37-4-.jpeg?quality=70&f=auto)
Novos Projetos
Uma das ideias da equipe do Tubinho durante a pandemia foi a realização de lives no Youtube e no Facebook da companhia, que possibilitou aos artistas a ajuda financeira com propagandas durante as transmissões.
“Foi um meio que achei de ainda ter contato com o público, para que vejam que estamos na ativa, estamos trabalhando”, explicou Neto.
Além das lives, o projeto mais recente da equipe é o chamado “Condomínio do Tubinho”, que são esquetes exibidas em um canal no Youtube em que os personagens Tubinho, Jurubeba e Senhor Pinto passam por diversas situações.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/A/B/S9pvp5SBOdUct5ZIC4Sw/sem-titulo.jpg?quality=70&f=auto)
“Inicialmente esse projeto era para fazer durante a pandemia, mas ficou tão bacana e conseguimos visualizações tão expressivas, que ele deve seguir depois da quarentena”, determinou Neto.
As esquetes saem no canal do Youtube do Tubinho todas as segundas, quartas e sextas-feiras, ao meio-dia, e contam com vários convidados especiais, como Dedé Santana, o embaixador do circo no Brasil. O ator estava em Piracicaba, no dia da entrevista, para gravar a participação especial em um dos capítulos.
“Em meio essa crise por conta da pandemia, é importante que os artistas se unam para ajudar e fortalecer um ao outro com os projetos e trabalhos”, declarou Dedé.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/M/q/7blxwuSwGboJOkHmPD5g/novoimg-6462.jpg?quality=70&f=auto)
‘O circo é a mãe de todas as artes’, diz Dedé Santana
O comediante Dedé Santana contou que, por causa da pandemia, também teve que adiar trabalhos, como a produção de três filmes e um projeto que iria estrear em Niterói (RJ) chamado “Cine Circo Teatro Dedé Santana”. Neste último, seriam oferecidos para a população filmes dirigidos e atuados pelo ator, um espetáculo circense e uma escola de artes para as crianças, tudo gratuito.
“O circo é o grande meio de cultura no país, porque ele leva a arte tanto para as cidades grandes quanto para as pequenas. É a mãe de todas as artes”, afirmou o embaixador.
Dedé Santana ainda comentou que, durante a quarentena, foi convidado por mais de 30 prefeituras para gravar vídeos incentivando a população a ajudar os circos, por conta dos artistas circenses estarem passando por dificuldades.
“O circo nunca foi valorizado pelo governo, mas pelo público sim. Porém, tem gente que acha caro o circo e por causa disso, eles vão ficando mais fracos e os espetáculos também”, afirmou.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/J/A/j9ueTlQZSJTbA40Bsnhg/novoimg-6450.jpg?quality=70&f=auto)
Com essas dificuldades, muitos artistas circenses, segundo Dedé, acabam deixando o país para buscar condições melhores.
A luz não pode apagar
A pandemia tirou do artista o contato com o público, que segundo Tubinho, é sua essência. Mas ele pede aos colegas de profissão que deixem claro na memória quem são para que essa essência permaneça.
“Pelas autoridades o circo não é uma prioridade, mas o que importa pra gente é o público. Quando montamos uma lona de circo e o público aparece, dá risada e bate palma, não tem como dizer que somos desvalorizados nesse sentido. Enquanto existir uma criança, o circo ainda vai ser o circo”, concluiu Tubinho.
Fonte: G1 – Foto: Studio Diego Soares