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Aos 30 anos, a psicóloga botucatuense Fernanda Aoki, ganha o Brasil com palestras motivacionais. Entre um atendimento e outro, Fernanda recebeu a equipe Revista da Carreira em seu consultório, no Leblon, Rio de Janeiro.
Psicóloga, com mestrado na USP, quando não está ministrando aulas de pós-graduação em São Paulo, Aoki oferece, Brasil afora, concorridos cursos e palestras. Com um público antenado e focado no empreendedorismo, alguns de seus temas prediletos são o empoderamento feminino, a formação da personalidade e a educação.
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Na flor de seus 30 anos, essa natural de Botucatu – uma apaixonada por tudo o que tem a ver com o ser humano – trabalha também como consultora de empresas. Nesse ramo, implanta programas de fortalecimento de equipes, gestão de crises e sucessão empresarial. Se não bastasse, é também coach de carreira e liderança.
Fernanda acabou de escrever dois livros e está preparando o próximo, com o título “Cada Vida Merece Uma Voz”. Lançou há pouco tempo seu próprio canal no YouTube. Sua obra e sua carreira relevam seus muitos dons. Mas, entre todos, um merece especial destaque: sua doce habilidade para fazer com que as pessoas se sintam valorizadas.
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Com muito carinho, em meio a uma agenda lotada, Fernanda concedeu à Revista da Carreira uma bela entrevista. Vamos a ela…
RC – Como foi o início de sua carreira?
FA – Meus pais me incentivaram a trabalhar desde pequena. A ideia de que a conquista das coisas depende de esforço sempre esteve presente na minha vida. Em casa, ainda menina, tive a oportunidade de engraxar sapatos em troca de algum dinheiro. Minha mesada não era de graça. Só recebia se lesse o jornal diário. Quando comecei a encarar o momento da escolha profissional, cheguei a pensar em me dedicar a relações internacionais. Tinha um comichão por fazer algo na área social. Pensava grande. Queria trabalhar na ONU. Ajudar vidas. Conhecer diferentes sociedades.
Por outro lado, tinha também uma grande atração pelo estudo do comportamento dos indivíduos. Minha mãe é psicóloga. Suas leituras e sua forma de ver a vida me despertaram desde cedo interesse intelectual. Nunca desconsiderei, portanto, a possibilidade de seguir a sua profissão. Mas precisaria ter uma carreira independente, sem vínculo profissional com ela. O receio era a perspectiva de viver trancada em um consultório, um dia depois do outro. Em conversa com outra psicóloga, soube que a profissão poderia ser conjugada com vida acadêmica, palestras, congressos. Isso abriu a minha mente. E cá estou eu. Psicóloga, coach, professora, palestrante, escritora, vivendo na Ponte Aérea Rio – São Paulo. E muito feliz com tudo isso.
RC – Você fez mestrado na USP. Considera que essa especialização tem a ver com as suas atividades? Muitas pessoas acham que ou escolhem a área acadêmica ou entram no mercado de trabalho ou abrem uma empresa.
FA – Isso é muito importante. Tem gente que acha que ter um negócio é abrir uma empresa. Na verdade, a sua profissão é um negócio. Você não precisa abrir uma empresa para isso. Uma campanha que eu faço de Natal é um negócio. Por isso, eu preciso ter habilidades de empreendedora. Certa vez, em uma entrevista para uma faculdade de psicologia, me perguntaram até quanto um psicólogo pode ganhar. Eu respondi: “Depende de quanto empreendedor ele for”. Acho que isso é para todas as profissões. Quando fazemos a tabela de vocação de Aristósteles, combinamos o que você pode oferecer com o que as pessoas necessitam. Não adianta você ter alguma coisa para me oferecer se o outro não necessita.
Portanto, a vocação, onde o radical é vocativo, significa “o que você é chamado para”. Enfim, precisamos reconhecer a demanda, porque, no plano profissional, de nada adianta eu produzir algo que ninguém está querendo. Eu posso, como você falou, fazer um mestrado e ficar em uma caixinha. Mas, nesse caso, não consigo costurar o que aprendi na minha vida. Na minha história, o mestrado não só abriu portas, como também me deu bagagem para lidar com essas questões. Me aproximou do tema que eu escolhi para desenvolver na minha carreira.
RC – Você me disse que estudou sobre criatividade. Fale um pouco sobre o assunto…
FA – Murilo Gan tem um termo que eu gosto muito que se chama combinatividade. Significa você pegar vários elementos e criar algo que seja útil. Então, você não precisa criar a roda. É só pegar aquilo que você já tem: mestrado, pacientes, algo para oferecer, um público que demanda isso… Depois, costura tudo, coloca o rótulo e entrega. As pessoas vão reconhecer que precisam do que resultou de sua combinatividade.
RC – Como você consegue se organizar para fazer todas essas atividades?
FA – Tenho uma frase que diz: “ter foco não é querer uma coisa só, mas é querer uma coisa de cada vez”. Eu sempre fui dinâmica, faço muitas coisas e não me sinto em pedaços, perdida, nada disso. O que me liga em todas as atividades que desenvolvo é a psicanálise, que é o meu referencial e o meu propósito. Hoje eu não faço nada que não tenha propósito. Mesmo se o tema tenha a ver comigo, se não tiver conexão com o meu propósito, eu estou fora. O que me guia é o meu propósito. E o que me coloca à disposição é a psicanálise. Precisamos ser apaixonados pelo que a gente faz. Se eu estou agora dando uma entrevista para a Revista da Carreira, eu me sinto aqui, plena. E não querendo estar em outro lugar.
RC – Como é o seu dia a dia?
FA – Atendo no Rio e em Niterói, três vezes na semana, presencialmente. Por videoconferência, atendo pacientes de todo Brasil e até de Portugal. A escrita me acompanha porque, quando ela vem, eu paro um pouco e escrevo. Além disso, dou aula na pós em um final de semana do mês. Então, tem o dia em que eu faço o planejamento das aulas. Duas vezes na semana, de quinze em quinze dias, vou nas empresas fazer trabalho de coaching e gestão de equipes. Como me organizo, tenho tempo de fazer tudo. Porém, não me considero uma workaholic, no sentido que só trabalho. Pelo contrário, eu vivo. Vivo primeiro trabalhando com o que eu faço, amo. Mas também priorizo estar com a minha família, ter momentos de lazer, ócio. Isso eu cuido. É um cuidado.
RC – Nas vezes em que estivemos juntas, percebi que você tem muito equilíbrio pessoal e profissional. Por exemplo, nunca te vi “na correria”, mas sempre dando foco nas coisas que você faz. E sempre calma e sorrindo. Como consegue?
FA – Não sou uma pessoa que perde tempo. Não fico muito tempo vendo TV, pois nunca fui treinada para isso. Hoje eu assisto o Jornal Nacional com meu marido, porque ele gosta. Em geral, não fico na TV. Só entro no WhatsApp para responder. Então, tenho foco na gestão do meu tempo. Por exemplo, se estou no avião, aproveito para preparar uma palestra. Se tenho um intervalo, leio um livro. Sou focada no aproveitamento do tempo. Eu não o desperdiço e isso me ajuda.
Por outro lado, não sou tão preocupada em fazer planilhas com tudo certinho. A cada dia, organizo meu tempo da melhor forma, em função dos meus planos para atingir o meu propósito. Tenho uma frase que gosto de dizer, se cabe na cabeça, cabe na agenda. Não adianta querer que caiba na agenda se sua cabeça não tem espaço. A tranquilidade vem de se saber inteira, fazendo o que é para ser feito.
RC – Quais foram as maiores dificuldades da sua carreira?
FA – Acho que a maior dificuldade na carreira de um autônomo é começar. Não somos contratados por uma empresa, não temos um lugar específico para ir. Então precisamos ser criativos para gerar demanda. No meu caso o que me ajudou muito foi dar aulas e palestras. A facilidade de comunicação, atrelada a muito estudo, permitiu que eu fosse a escolas e empresas falar de conteúdos relevantes. E isso permitiu que as pessoas conhecessem meu trabalho através do conteúdo.
A partir daí, minha clínica se desenvolveu, o que me abriu muitas portas para novas formas de trabalho. E começar não é só início da profissão. Quando mudei para o Rio de Janeiro também foi um grande desafio recomeçar. Eu já possuía uma carreira sólida em São Paulo, e aqui não conhecia ninguém. Eu só tinha Deus e muita vontade de dar certo e ajudar as pessoas, então tinha tudo. Deus abriu todas as portas, marquei muitos cafés, conheci gente do bem. E no primeiro mês aqui no Rio eu dei 5 palestras.
Aproveitando as portas abertas por Deus, marquei muitos cafés. Acredito muito em networking. Até por que a Palavra diz: “bate e abrir-vos-á”. Então, você tem que bater… Tomei inúmeros cafés que me geraram negócios, palestras, oportunidades; outros cafés que me geraram amizades. E outros cafés que me geraram somente cafés. Mas, mesmo aqui, eu pensava: – “Tá bom… Ao menos ganhei um café. Temos sempre que tirar algo positivo das situações, nem que seja um simples café.
RC – Encontrou alguma dificuldade por ser jovem?
Outra dificuldade que encontrei no caminho foi por eu ser jovem, e ter aparência de mais jovem ainda. As pessoas têm muito preconceito com a idade. Como os jovens, sempre precisei de muita garra e muita força. Então eu chegava para dar uma palestra e as pessoas me olhavam torto. “O que essa menininha tá fazendo aqui”. Eu sempre tive que provar que tinha algo a contribuir. Precisava sempre abrir caminho para mim, o que também me fez mais forte. Eu sabia que primeiro precisava apostar em mim e no que carregava, e não esperar que os outros o fizessem por mim.
Acredito que idade nos dá sim bagagem, mas acho que não é sinônimo de competência e experiência. Costumo dizer que um carro pode ter mil quilômetros rodados, isso não significa que conheceu muitos lugares. Pode ter dado mil voltas em torno do quarteirão. Experiência tem a ver com você poder processar e aprender com o que você vive. E aí sim por sempre ser atenta, me sinto de alma velha. Então não tem problema parecer pequenininha (risos).
RC – Como surgiu a ideia de trabalhar com mulheres?
FA – Eu sempre quis trabalhar com mulheres porque sempre achei que as mulheres sofriam diferente. A gente gesta a dor (fazendo movimentos circulares com a mão na altura do abdômen). Meu primeiro trabalho com mulheres foi em uma penitenciária feminina sobre o resgate da autoestima e do feminino. Foi um trabalho incrível, depois sentei para conversar com uma pessoa do Sebrae que me contou sobre o Prêmio Mulher de Negócios, que tem o foco no empreendedorismo feminino. Segundo o Sebrae, as mulheres têm dificuldade de escrever sobre si. E, quando escrevem, nunca atribuem a elas mesmas a capacidade de ser empreendedora. “Foi porque o fulano fez” costumam dizer. Então ela não pontua para que possa receber o prêmio. E é exatamente isso que eu vejo. As mulheres não se empoderam, não assumem a própria potência.
Temos um potencial gigantesco e não assumimos isso. Até existem estudos que falam que desde pequenas vivemos isso. Por exemplo, se os meninos estão jogando bola e alguém briga no jogo e recebe o cartão vermelho é expulso e o jogo continua. Quando são meninas que brincam de boneca e brigam, acaba a brincadeira. Então, puxamos muito para nós mesmas os problemas. Do outro lado da balança, quando alguma coisa é bonita a gente desfaz. Por exemplo: “Fernanda, como você está bonita com esse vestido”, aí você responde “Imagina, esse vestido é tão velhinho”. Ou então: “Nossa, que comida gostosa”. “Imagina, tão facinho”, a gente se desfaz.
RC – Como foi com o Sebrae?
Conversando sobre isso com essa gerente do Sebrae fui convidada a apoiar o Prêmio. A ideia era ajudar as mulheres a serem autoras e assinarem embaixo da própria história. Isso foi há 7 anos atrás. Comecei a palestrar sobre empoderamento feminino, no primeiro dia que lançaram o projeto, as vagas já foram preenchidas.
Zygmunt Bauman diz que, para as coisas mudarem, dois fatores precisam estar presente. O primeiro é saber que as coisas não vão bem e a segunda é você perceber que pode fazer alguma coisa com isso. Às vezes ficamos incomodados com o trabalho, julgamos não estarmos bem remunerados, mas acreditamos que não podemos fazer coisa alguma para mudar. Você sente um incômodo e não sente que pode fazer alguma coisa. Nós mulheres somos incomodadas por natureza, mas achamos que não devemos fazer nada por isso, que tem que ficar dessa forma, que não tem outro jeito… Eu brinco com as mulheres que isso é ser um defunto autor: a vida que podia ter sido e não foi. Então, se ainda tem um autor na história, pega a caneta e faz diferente. E daí surgiram vários convites e fui estudando mais o feminino e o empreender.
RC – Qual é o grande ensinamento para as mulheres que atuam no mercado de trabalho, hoje?
As mulheres são boas de gestão, mas às vezes se misturam muito. Me proponho a ajudar as mulheres nas formas de liderança feminina porque até pouco tempo não tínhamos um modelo. Quando assumem cargos de liderança são fálicas, duras, achando que tem que parecer os homens… Porém, pelo contrário, existe um jeito feminino. Por muito tempo achávamos que essa nossa sensibilidade atrapalhava. Não é assim. Pelo contrário, nossas características podem ser uma super ferramenta, se soubermos usar ao nosso favor!
Hoje eu sento em mesa de reunião com diretores – só homens – e não preciso falar mais alto. Eu posso ser delicada e isso não diminui em nada o meu conteúdo e a minha posição frente a eles. Comecei a trabalhar com empoderamento feminino em São Paulo e houve rápida divulgação. Fiz muitas palestras e essa foi a grande porta aqui no Rio de Janeiro. Fui convidada para participar de 2 livros de empoderamento feminino e empreendedorismo feminino. Surgiu também o convite para palestrar em Portugal e Londres para mulheres empreendedoras. Nós mulheres temos fome, queremos mais, e sei que podemos mais. Sinto um prazer imenso em estar na linha de frente desse tema. Prazer em ajudar tantas mulheres a descobrirem quão incríveis elas são e quanto podem realizar no mundo.
RC – Sabemos que você foi convidada para palestrar no evento do Conexão Mulher Empreendedora, em Portugal e na Inglaterra. Conta para gente sobre isso.
FA – Quando você dá uma palestra, você não sabe quem está te vendo do outro lado. Às vezes, quem está presente tem posições estratégicas. E foi isso que aconteceu. Uma pessoa que me assistiu estava começando a fazer um trabalho com mulheres, o Conexão Mulher Empreendedora. Fui convidada a estruturar o projeto. E depois me convidou para palestrar em Portugal e Londres. Foi incrível. Uma oportunidade de estar com mulheres que estão empreendendo no exterior.
RC – Para terminar, conte para nós sobre coisas que você faz bem e sobre as que não faz tão bem assim. Mas fale daquelas que sejam estranhas à sua profissão.
FA – (pensativa) Sou muito boa em contar histórias. Esse é o meu melhor. Desde pequena. Inclusive, quando era pequena, já fui a tia Fernanda Aoki do Mc Donald’s para contar histórias. Sou interessada pela história de vida das pessoas. Einstein disse “se você quer ter filhos inteligentes, conte histórias para ele; se você quer ter filhos duas vezes mais inteligentes, conte duas vezes mais histórias”. Então acho que as histórias nos ajudam a repensar nossa história e a possibilidade de novos caminhos. Agora, no que eu sou muito ruim… Além de jogar sofríveis futebol e vôlei (risos), minha grande dificuldade é passar roupa. Demoro muito para passar uma peça e quando acabo um lado o outro está amassado. Já desisti. Além disso, acumulo papel demais. Preciso ser mais organizada sobre isso.
RC – Muito obrigada Fernanda. Que esse ano de 2019, que só está começando, seja maravilhoso para você.
FA – Tem uma frase que eu gosto muito. Diz: “o que muda o ano não é o que você conquista, mas o que se dispõe a entregar”. Quando a gente entrega, as conquistas vem. Que 2019 seja brilhante para a Revista da Carreira!
Fonte: Revista Carreira