Anúncios
Após 16 meses de atuação, a iniciativa global “Censo Oceânico” anunciou, em um comunicado publicado na segunda-feira (10), a descoberta de 866 novas espécies marinhas inéditas. Dentre elas, exemplares de tubarão, borboleta-marinha, coral, tardigrada, esponja, camarão, caranguejo, lagosta, cavalo-marinho, aranha-do-mar e estrela-do-mar.
Os grupos foram identificados ao longo de dez expedições por águas de diferentes pontos do globo, a profundidades de 1 a 4.990 metros. Além dos mergulhadores, as missões ainda contaram com o apoio de submersíveis e veículos operados remotamente (ROVs).
Anúncios
Veja vídeo das operações:

Demora no reconhecimento
Geralmente, o processo entre a identificação na natureza e registro de uma nova espécie pode durar até 13 anos. Em algumas situações de ameaça de extinção, essa demora pode levar a casos em que a espécie tenha sumido do mapa antes de ser reconhecida oficialmente. Em relação a espécies marinhas, a identificação costuma ser ainda mais complexa, dado o tamanho dos ambientes aquáticos e a dificuldade de realizar expedições.
Anúncios
“O oceano cobre 71% do nosso planeta, mas a ciência acredita que apenas 10% da vida marinha foi descoberta até agora”, afirma Mitsuyuki Unno, porta-voz do projeto. “Isso significa que aproximadamente de 1 a 2 milhões de espécies existentes ainda não foram documentadas”.
Para diminuir o impacto desse problema, as ONGs Nippon Foundation, do Japão, e Nekton, do Reino Unido, lançaram em conjunto o Censo Oceânico em abril de 2023. Considerado o maior esforço colaborativo para acelerar a descoberta da vida marinha, ele reúne especialistas do mundo inteiro.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_7d5b9b5029304d27b7ef8a7f28b4d70f/internal_photos/bs/2025/A/q/BWSo7oTmmB6GvDTJRa9A/projeto-cientifico.jpeg)
Mais do que só apoiar as expedições, o projeto tem investido na realização de workshops, com o objetivo de promover a troca de expertise taxonômica. A iniciativa ainda desenvolveu a Plataforma de Dados de Biodiversidade do Censo Oceânico, que torna acessível todas as informações recolhidas sobre as novas espécies.
“Diversos grupos permanecem no limbo por anos porque o processo de descrevê-los formalmente em artigos científicos é muito lento. Precisamos mudar isso urgentemente, e reunir esses dados em um mesmo local pode ser um bom caminho para iniciar esse processo mais rapidamente”, explica Lucy Woodall, chefe do Censo Oceânico.
Achados de maior destaque
Segundo os biólogos da iniciativa, dentre as 866 novas espécies registradas, três delas se destacam. Conheça cada uma delas:
Tubarão-guitarra
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_7d5b9b5029304d27b7ef8a7f28b4d70f/internal_photos/bs/2025/m/4/HnB1jWSxC4eVct07GeLQ/post-image.jpeg)
Localizada a uma profundidade de 200 metros na costa de Moçambique e da Tanzânia, trata-se da 38ª espécie de tubarão-guitarra (Rhinobatos sp.) conhecida no mundo. Esse grupo é considerado um dos vertebrados mais ameaçados dos oceanos.
Turridrupa magnifica
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_7d5b9b5029304d27b7ef8a7f28b4d70f/internal_photos/bs/2025/E/v/jWbC75QISyZBxn3Opp2A/vc.jpeg)
Um gastrópode marinho encontrado em profundidades de 200 a 500 metros no Pacífico Sul, perto da Nova Caledônia e Vanuatu. Essa criatura parece com um caracol e caça usando “arpões” venenosos, que injetam peptídeos.
Os pesquisadores esperam que o estudo desses animais possa gerar insights sobre potenciais aplicações no alívio da dor e no tratamento do câncer. Espécies relacionadas já contribuíram para avanços médicos inovadores, incluindo tratamentos para dor crônica.
Octocoral
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_7d5b9b5029304d27b7ef8a7f28b4d70f/internal_photos/bs/2025/r/6/LWXjH5TmqRnveRi47xag/zzzz.jpeg)
Esta nova espécie de octocoral das Maldivas expande um gênero que antes compreendia apenas cinco espécies conhecidas. Vale lembrar que, apesar de suas aparências semelhantes, os octocorais não são intimamente relacionados aos corais pedregosos, ou “verdadeiros”.
Expectativa de continuidade do projeto
Quando o Censo Oceânico foi lançado, o projeto imaginou uma estrutura de centros de biodiversidade, mas, desde então, endossado pela Organização das Nações Unidas (ONU), a iniciativa firmou parcerias com mais de 400 instituições em todo o mundo. Institutos nacionais de pesquisa marinha, museus, universidades e organizações filantrópicas são apenas alguns exemplos das suas alianças.
Nesse sentido, a expectativa da autoridade é fortalecer ainda mais a sua atuação nos próximos anos. Com base nas descobertas iniciais, o projeto planeja realizar sete workshops de discussão e conduzir dez novas expedições nos oceanos Pacífico, Índico e Sul.
“Estimativas sugerem que descobrir 100 mil novas espécies pode exigir pelo menos US$ 1 bilhão [cerca de R$ 5,8 bilhões]. Então, estamos preparando o terreno para tornar a descoberta de espécies em larga escala uma realidade”, indica Oliver Steeds, diretor do Censo Oceânico.
Fonte: Um Só Planeta