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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia de covid-19 gerou um aumento de milhares de toneladas de resíduos descartados pelos serviços de saúde ao redor do mundo. Além da quantidade, esse aumento também chamou a atenção para o gerenciamento e descarte desses resíduos, muitas vezes realizados incorretamente.
Segundo a OMS, a maior parte desses resíduos, provavelmente, não teve um descarte adequado. A professora Karina Pavão, da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FMB) da Unesp e integrante do grupo de Estudos em Saúde Planetária do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, conta que “os Resíduos dos Serviços de Saúde (RSS) podem apresentar uma série de riscos à população e ao meio ambiente”.
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Lixo da pandemia
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Os resíduos gerados durante a pandemia incluíram 87 mil toneladas de equipamento de proteção individual adquiridos pelos países entre março de 2020 e novembro de 2021. Nessa conta, estão mais de 140 milhões de testes de covid-19 descartados, com potencial de gerar 2,6 mil toneladas de lixo não-infeccioso, além de 731 mil litros de resíduos químicos. As 8 bilhões de doses de vacina administradas no período analisado produziram 144 mil toneladas a mais de lixo na forma de seringas, agulhas e caixas de segurança, destinadas a armazenar as vacinas. Tudo isso sinaliza que “houve um aumento considerável”, diz o professor Valdir Schalch, do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP e da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), visto que “são resíduos bastante perigosos, ainda que em pouca quantidade”.
Karina conta que, segundo a OMS, “em torno de 15% dos hospitais e serviços de saúde são potencialmente infectantes, com riscos biológicos”, que devem passar por processos de incineração, autoclavagem (esterilizado) ou submetidos a um tratamento de forno micro-ondas para inativar os patógenos, vírus e bactérias do resíduo infectante, antes de irem para o aterro sanitário.
Descarte das máscaras
Com relação ao descarte adequado das máscaras nos ambientes onde elas já são utilizadas, como as unidades de saúde (hospitais, hemocentros, clínicas veterinárias e farmácias, por exemplo), já existe um local específico, que são sacos brancos leitosos, destinados a receber esse lixo que o caracteriza como sendo de serviços de saúde. Já para os materiais perfurocortantes, como as agulhas e seringas, existem caixas apropriadas para receber esse tipo de lixo. “Agora, nas residências, a orientação que se tem é colocar as máscaras usadas junto dos resíduos para serem levados aos aterros sanitários; mesmo se houver coleta seletiva de lixo, as máscaras devem ir com o lixo comum para o aterro sanitário”, orienta o professor Schalch.
Resíduos de serviços de saúde
No Brasil, em 2020, cerca de 290 mil toneladas de resíduos de serviços de saúde foram coletadas nos municípios do País, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Esses resíduos são provenientes de hospitais, postos de saúde, consultórios médicos e odontológicos, clínicas veterinárias, farmácias, entre outros serviços de saúde. O professor Schalch informa que esses resíduos são classificados de acordo com a resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), RDC Nº 222/18, junto com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) nº 358, em: Grupo A: resíduos biológicos; Grupo B: resíduos químicos; Grupo C: rejeitos radioativos; Grupo D: resíduos comuns; e Grupo E: resíduos perfurocortantes.
Coordenador do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos (Neper), Schalch explica que cada grupo de resíduos “tem uma sequência de operações para ser feita, para que tenham uma destinação ambientalmente adequada”.
Mas, apesar das exigências previstas por lei para a coleta, tratamento e descarte, a estrutura dos municípios brasileiros para lidar com os resíduos de serviços de saúde ainda é insuficiente. No País, cerca de 30% dos municípios brasileiros ainda destinam os resíduos coletados sem nenhum tratamento prévio, conforme a Abrelpe, e podem acabar em lixões, aterros sanitários ou valas sépticas, apresentando risco para o meio ambiente e a população.
Um problema apontado também por Schalch, que diz que, embora exista legislação, “vários municípios não têm equipamentos de incineração, autoclave e micro-ondas” para fazer o gerenciamento adequado desses resíduos. Segundo o professor, “cerca de 50% a 60% dos municípios brasileiros têm lixões”, o que sinaliza a falta de aterros sanitários e o descarte incorreto dos RSS.
Problema mundial
“Nós estamos em um momento em que a saúde do planeta está ameaçada pelo volume exagerado de lixo, de resíduos, tanto os de serviços de saúde quanto os domiciliares”, afirma Karina, e diz tratar-se de “um volume muito grande, que a Terra não dá tempo de decompor no mesmo compasso em que está sendo produzido e descartado”. Por tratar-se de um grave problema mundial, a professora aconselha a minimizar a geração de resíduos e fazer a coleta seletiva.
Jornal da USP