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Em entrevista à TV Unesp, farmacêutico-bioquímico do CIATox explica os efeitos tóxicos do metanol e as circunstâncias que podem levar à cegueira e até à morte.
O farmacêutico-bioquímico Alaor Aparecido Almeida, do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, alertou, em entrevista ao jornal Unesp Notícias da TV Unesp, para os riscos graves do consumo de bebidas alcoólicas contaminadas com metanol.
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Segundo o professor, os efeitos da ingestão podem ser percebidos em até meia hora após o consumo, quando o metanol é mais puro. “Se for metanol mais puro, entre trinta minutos a algumas horas. O problema maior da associação entre etanol e metanol é que, como eles têm a mesma via de metabolismo, os efeitos podem ser retardados e começarem a aparecer a partir de 6 a 12 horas. Os sintomas principais são náusea, vômito e dor abdominal intensa, por causa da ação tóxica do metanol sobre o pâncreas, que pode causar uma pancreatite”, explicou.
De acordo com o especialista, alterações na visão tendem a surgir a partir de uma dose de aproximadamente 10 gramas. “A imagem fica turva, em forma de campo de neve e, dependendo da quantidade, a contaminação causa cegueira. Também há alteração importante no batimento cardíaco, com aceleração, dilatação das pupilas e respiração rápida e superficial”, destacou.
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O professor também alertou que a intoxicação pode evoluir para insuficiência renal aguda, exigindo hemodiálise. “Por causa do efeito no sistema nervoso central, o metanol causa também sonolência, dificuldade no andar, tontura, cefaleia intensa, convulsão e, a partir de 30 ml de ingestão, pode levar ao coma e até à morte, com doses a partir de 100 ml.”
Quanto mais rápido o atendimento médico, maiores são as chances de recuperação. Exames de sangue e urina ajudam a dimensionar a dose ingerida. “A partir de 500 mg por litro, já há indicação de hemodiálise. É preciso também manter o paciente bem hidratado para melhorar o prognóstico”, explicou.
O tratamento envolve exames como eletrocardiograma e monitoramento da função renal e hepática. “A maioria dos sintomas é reversível. O foco principal é reverter a toxicidade ocular”, disse o professor.
O medicamento mais indicado é o fomepizol, considerado essencial pela Organização Mundial da Saúde, mas que está em falta no Brasil. “Quando não está disponível, utiliza-se o etanol com essa finalidade, mas ele pode causar agravos hepáticos e renais que também precisam ser acompanhados”, observou Almeida.
O Ministério da Saúde informou que estruturou um estoque emergencial com 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico e iniciou a compra de mais 150 mil unidades. A Anvisa abriu chamada pública para aquisição internacional do fomepizol.
O docente também fez um alerta sobre o consumo de bebidas de origem duvidosa. “É quase impossível perceber alterações, salvo em condições grosseiras, como coloração diferente. Por isso, é importante evitar bebidas de procedência suspeita, intercalar o consumo com água e procurar atendimento médico diante de sintomas incomuns”, concluiu.
Segundo o Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS), foram registrados 59 casos de intoxicação por metanol no país — 53 em São Paulo (11 confirmados e 42 em investigação), cinco em Pernambuco e um no Distrito Federal. Há um óbito confirmado e sete em investigação.
A entrevista completa com o professor Alaor Aparecido Almeida pode ser assistida entre os minutos 6 e 20 do vídeo da TV Unesp, disponível neste link.