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O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), órgão que trata das questões de imigração em Portugal, investiga denúncia de tráfico humano envolvendo cerca de 40 adolescentes, nativos de países da América do Sul e do Oriente médio, que teriam sido aliciados a jogar futebol no país.
De acordo com a investigação, os menores de idade estariam vivendo em Portugal sem autorização dos pais ou responsáveis. Eles teriam entrado no país com a promessa de receberem treinamento profissional de futebol, com possibilidade de assinatura de contratos com times renomados.
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Na segunda-feira (12), o SEF realizou buscas na Bsports Academy, escola de futebol localizada em Riba d’Ave, na cidade de Vila Nova de Famalicão, região norte do país. A escola vende um programa de treinamento no esporte e tem selo de entidade profissionalizante emitido pelo governo português.
A casa do presidente da Assembleia Geral da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Mário Costa, também foi alvo de buscas. De acordo com o jornal português Expresso, que revelou a operação, Mário Costa é um dos suspeitos na investigação conduzida pelo Ministério Público português.
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Em nota enviada à imprensa, o SEF diz que “não pode, para já, adiantar qualquer outro tipo de informação, dado que o processo se encontra em segredo de justiça. A seu tempo, serão divulgados mais detalhes”.
Em comunicado, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional diz ter sido “surpreendida” pelas notícias envolvendo o nome de Mário Costa e que “está a acompanhar a evolução das diligências, aguardando por mais dados — respeitando sempre o princípio da presunção de inocência e defendendo também de forma intransigente os princípios de ética e transparência da instituição — para uma avaliação mais concreta da situação”.
O dirigente, em nota à imprensa, diz que colabora com as autoridades e nega envolvimento.
“Aguardo serenamente o desenrolar das investigações certo e confiante de que se apurará a verdade dos factos que revelará que nenhum ilícito criminal foi praticado”.
A escola Bsports também garante que coopera com as autoridades e que está “confiante de que se apurará a verdade dos factos [sic], que revelará que nenhum ilícito criminal foi praticado pelos seus representantes ou colaboradores e que só por engano ou denúncia caluniosa alguém poderá ter pensado o contrário”, lê-se no comunicado.
Modus operandi conhecido
O caso é investigado desde 2020 e partiu de uma denúncia feita pelo consulado de um país do Oriente Médio. No entanto, situações como essa não são novidade em Portugal.
Em geral, os adolescentes são aliciados ainda nos países de origem, por supostos empresários ou olheiros, com a promessa de treinamento e contratos com clubes. As famílias chegam a pagar entre € 500 e € 1.000 por mês (cerca de R$ 2.700 a R$ 5.300), pela estadia dos menores.
Muitos adolescentes não conseguem contratos profissionais e ficam com os passaportes retidos pelos falsos agentes, sem conseguirem deixar Portugal. Em outros casos, os supostos empresários desaparecem logo após receberem o pagamento das famílias. No lugar do sonho de brilhar no futebol europeu, os jovens ficam no país como imigrantes irregulares, sujeitos à exploração em outros trabalhos.
Conscientização também no Brasil
No ano passado, a ONG Saúde em Português, a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Gênero do governo de Portugal, a Federação Portuguesa de Futebol e o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol se uniram em uma campanha para alertar sobre o crime.
Com o lema “não deixes que o teu sonho se transforme em pesadelo”, a iniciativa chama a atenção para as formas de aliciamento de jogadores e perigos aos quais os jovens ficam expostos. O cartaz mostra meninos vestindo uniformes de futebol, mas trabalhando na agricultura, em restaurantes e na construção civil. São setores que, historicamente, exploram mão de obra imigrante ilegal em Portugal.
Lançada em outubro, no Dia Europeu de Combate ao Tráfico de Seres Humanos, a campanha teve apelo internacional, principalmente nos países de onde saem boa parte dos jovens traficados, como o Brasil. Representantes do clube Palmeiras estiveram presentes no webinar de lançamento da iniciativa.
Durante o evento, a secretária para Igualdade e Migrações de Portugal, Isabel Almeida Rodrigues, afirmou que o Brasil, a Argentina e a Colômbia são os países de onde mais saem jogadores vítimas de tráfico humano. Estrangeiros que, segundo explicou, são “abandonados” pelos clubes de destino.
Fonte: Agências