27 de novembro, 2024

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Por que os Estados Unidos estão perdendo superioridade militar frente à Rússia e à China

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Um grupo de especialistas independentes publicou uma análise sóbria e implacável da estratégia de defesa nacional do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“O papel global que os Estados Unidos têm desempenhado por muitas gerações é baseado em um poder militar inigualável (…) Hoje, no entanto, nossa margem de superioridade tem sido minada em áreas importantes”, diz o relatório.

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“Há desafios urgentes que devem ser enfrentados caso os Estados Unidos queiram evitar danos permanentes à sua segurança nacional”, afirma o documento.

O duro diagnóstico é resultado de uma solicitação do Congresso à sua Comissão de Estratégia Nacional de Defesa, um painel concebido para conduzir estudos independentes sobre a segurança do país – desta vez, foi pedida uma avaliação da estratégia de defesa do governo Trump.

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O relatório foi presidido por Eric Edelman, ex-funcionário do Pentágono durante o mandato de George W. Bush, e Gary Roughead, ex-chefe de operações navais. Ambos são conhecedores do orçamento da defesa e do que acontece nos corredores do Pentágono.

“A segurança e o bem-estar dos Estados Unidos enfrentam seus maiores riscos em décadas”, afirma o documento. “A superioridade militar dos Estados Unidos diminuiu para um nível perigoso”.

A ameaça da China e da Rússia

A chegada de Trump à Casa Branca coincide com uma mudança nas prioridades militares do país: longe de operações contra insurgências e da chamada “guerra ao terror”, indo em direção ao preparo para um potencial conflito contra seus principais concorrentes, como a China e a Rússia.

Mesmo aqueles concorrentes não tão diretos, como o Irã ou a Coreia do Norte, apresentam novos e perigosos desafios.

As implicações são enormes para os militares dos EUA.

Algumas características de lugares como Iraque ou Afeganistão, às quais os EUA já estão mais adaptados, não se repetem em um eventual conflito com a Rússia ou a China. O país tem operado, por exemplo, em ambientes sem qualquer ameaça aérea ou sem grandes desafios para suas comunicações, como o uso de GPS.

Enquanto isso, os dois potenciais adversários vêm estudando as Forças Armadas americanas e continuam a modernizar as suas, reforçando suas vantagens tradicionais enquanto exploram novos caminhos para contrabalançar as vantagens dos EUA.

A intervenção da Rússia na Ucrânia demonstrou o extraordinário poder destrutivo da artilharia russa – tributário em parte de sua sofisticada capacidade de combate por meios eletrônicos, que possibilitou encontrar e destruir armas ucranianas e ao mesmo tempo esconder a localização dos equipamentos russos.

Em muitas dessas áreas, os Estados Unidos têm muito a fazer para se colocar no mesmo nível.

Isso exige ajustar e reequipar certas áreas, mas muito mais do que isso. Requer um esforço massivo para impulsionar a inovação em inteligência artificial, acesso à banda larga etc.

O relatório soa como um alerta. A partir do documento, se fosse preciso dar uma nota aos planos do Pentágono, diria que ela seria uma avaliação de aprovação – mas não muito mais que isso. O diagnóstico resumido é que as forças militares americanas têm muitas boas intenções e alguma prospecção dos grandes desafios, mas abordagens duvidosas para enfrentá-los e, basicamente, recursos insuficientes para isso.

O documento traz mais de 30 recomendações detalhadas. Aqui apresento alguns dos mais importantes, resumidos e selecionados:

O relatório freia a grandiloquência com a qual o presidente Trump apresentou sua estratégia para a defesa. Mas o relatório não tem nada de revolucionário, pois compartilha a visão estratégica que define o pensamento do Pentágono.

Ele destaca os pontos em que os planos oficiais são mal fundamentados ou inconsistentes. É um apelo por maiores gastos, mas também por gastos mais coerentes.

Entrar no ramo de armamentos de alta tecnologia será caro. Habilidades tradicionais terão que ser reaprendidas. Os novos desafios, analisados e redirecionados.

Mas o documento reitera que os EUA continuarão sendo um grande ator militar em todo o mundo.

Diplomacia

Alguns dos problemas fundamentais para as forças armadas estão fora de seu escopo: na indústria e na diplomacia. Na Guerra Fria, por exemplo, o longo domínio dos EUA foi baseado em um extraordinário lastro científico e industrial com o qual ninguém podia rivalizar.

Avanços na pesquisa aeroespacial e outras tecnologias relacionadas ao setor militar se fundiram lentamente na vida civil.

Hoje as coisas são diferentes. É a pesquisa civil – como em computação e inteligência artificial – que está impulsionando o progresso tecnológico. E os Estados Unidos, embora sejam um jogador poderoso, não estão sozinhos nesta corrida.

A China, em particular, está investindo enormemente em tecnologias que podem, um dia, dar-lhe vantagem em batalhas do século 21. A globalização interligou as economias chinesa e americana de maneiras que podem ser prejudiciais à segurança dos EUA.

Segundo as recomendações do Comissão de Estratégia Nacional de Defesa, os programas de aquisição de armas precisam ser mais rápidos e eficientes. Os gastos dos EUA excedem os de seus principais rivais militares, mas o país ainda não consegue obter frutos proporcionais aos investimentos.

Há também o aspecto diplomático.

Os Estados Unidos não treinam para lutar sozinhos, mas com aliados. Trump tem se concentrado apenas em um aspecto desta relação: a partilha de responsabilidades, como a necessidade de países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em especial, gastarem mais na defesa coletiva.

Mas Trump já ofendeu os aliados de maneira ímpar.

A própria Aliança Atlântica enfraqueceu politicamente, mesmo que mais forças dos EUA tenham sido mobilizadas na Europa para reforçar a defesa contra a Rússia.

Uma nova mentalidade?

Talvez o grande desafio apresentado por este relatório seja seu apelo para que os Estados Unidos adotem uma abordagem que envolva todo o governo

Tanto a Rússia quanto a China, destaca o documento, possuem estratégias que integram todas as peças do poder nacional. Os EUA precisam fazer o mesmo.

Não vivemos mais em um mundo onde existe uma clara distinção entre a paz e a guerra. O espaço entre esses pólos é preenchido por uma variedade de desafios e armadilhas: ataques cibernéticos, assassinatos políticos e atividades de forças cuja identidade só se torna clara ao longo do tempo (pense nas tropas russas que operam como os chamados “homens verdes”, que lutam sem identificação, na Crimeia).

Enfrentar essa nova realidade requer também novas estratégias, orientações e ferramentas. Por último, e não menos importante, exige uma nova mentalidade do governo – talvez a coisa mais difícil de ser alcançada.

Fonte: BBC

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