23 de setembro, 2024

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Por onde anda o brasileiro que ajudou a fundar o Facebook? Com R$ 77 bi, aos 38 anos, Eduardo Saverin não pensa em se aposentar

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Já se passaram 16 anos desde que o brasileiro Eduardo Saverin viveu a experiência mais marcante da sua vida quando ajudou a fundar a rede social Facebook, em 2004, junto de Mark Zuckerberg – até então apenas um jovem estudante de computação que Saverin conheceu na Universidade Harvard, onde os dois estudavam.

Na época, Saverin investiu alguns milhares de dólares na empreitada em troca de uma participação de 30% no negócio e passou a ser o responsável pela gestão financeira nos primeiros anos da rede social. A experiência rendeu ao brasileiro o direito de ter 2% das ações do Facebook. Hoje o valor dos papeis é o suficiente para fazer dele uma das pessoas mais ricas do mundo com uma fortuna estimada em 14,6 bilhões de dólares, segundo a revista Forbes.

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Com 38 anos, Saverin tenta deixar o passado para trás e olhar para frente, agora ajudando outros empreendedores novatos a criar empresas de tecnologia, assim como ele mesmo fez com o Facebook. Desde 2009, o brasileiro vive em Singapura e fundou em 2015 a empresa de capital de risco B Capital Group, junto do sócio Raj Ganguly, outro ex-colega de Harvard.

O B Capital tem cerca de 1,4 bilhão de dólares sob gestão e captou recentemente o seu segundo fundo, de 820 milhões de dólares, em uma parceria com a consultoria Boston Consulting Group. O objetivo agora é expandir a atuação e buscar novas oportunidades de investimentos mundo afora. Até o momento, a empresa já investiu em cerca de 30 startups, a maioria sediada na Ásia, na Europa ou nos Estados Unidos, e acaba de anunciar o primeiro investimento na América Latina, na startup Yalochat, do México.

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Numa rara entrevista, Saverin falou sobre a sua experiência como investidor, o perfil das empresas que está procurando investir e também a sua visão sobre o mercado de tecnologia no Brasil e no mundo. “Espero não só construir empresas que são grandes no Brasil para o mercado brasileiro, mas permitir que empreendedores do Brasil, do México, da América Latina, construam negócios para o mundo”, disse ele por videoconferência, falando de Singapura. “Está na hora de a América Latina ser a criadora de grandes multinacionais campeãs.”

Saverin se diz animado em investir pela primeira vez numa empresa que têm ligações com o Brasil, um mercado que ele sempre olhou com carinho. Nascido em São Paulo, Saverin se mudou para Miami com os pais quando tinha 10 anos e cresceu nos Estados Unidos, mas sempre manteve uma ligação especial com as raízes brasileiras.

Ele evita falar do Facebook e dos anos que passou na empresa. Mas dá sua opinião sobre as críticas que as gigantes de tecnologia têm recebido nos Estados Unidos e na Europa por causa de seu poder monopólio e sua atuação para evitar o surgimento de concorrentes, impedindo a inovação. No fim de julho, Zuckerberg foi questionado sobre o tema em uma audiência no Congresso americano.

Saverin afirma que quanto mais concorrentes houver no setor, melhor será para promover o avanço da indústria de tecnologia. Mas defende as empresas de internet, como o Facebook, dizendo que suas plataformas ajudam a promover essa concorrência e a inovação.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Como tem sido trabalhar como investidor anos depois de ter sido empreendedor, no Facebook?

Tem sido incrível. A possibilidade de trabalhar com empreendedores que têm um impacto real sobre o mundo é o que me move. Muitas pessoas me perguntariam, uma vez que tive tanta sorte tão cedo na minha vida, por que eu não me aposento e vou viver na praia. Inclusive, às vezes de brincadeira, deixo uma foto de uma praia na minha imagem de fundo do Zoom (risos). Mas a realidade é que prefiro mesmo trabalhar junto de um empreendedor que está construindo a próxima grande revolução tecnológica, a exemplo do Yalochat, a startup em que estamos investindo agora.

A empresa está reconstruindo do zero a forma como as grandes empresas interagem – tanto com os consumidores quanto com seus distribuidores ou intermediários. Isso é gigantesco. É uma ferramenta que permite aos pequenos negócios e às grandes empresas acelerar as suas vendas e melhorar o serviço ao consumidor. É um ganha-ganha para o mundo. E permite que empresas tradicionais que não são da indústria tecnologia, tenham vantagens tecnológicas.

Esta é a primeira empresa que investe na América Latina com o seu fundo B Capital?

Sim. É a primeira empresa latino-americana em que investimos. Tenho uma tremenda paixão tanto pelo Brasil quanto pela América Latina, como um todo. E ao longo do tempo esperamos fazer mais e mais na região, encontrando empreendedores e fazendo parcerias. E espero não só construir empresas que são grandes no Brasil para o mercado do Brasil, mas permitir que empreendedores do Brasil, do México, da América Latina, construam negócios para o mundo. Como no caso da Yalochat, há alguma razão para que esse tipo de ferramenta não se aplique também na Índia ou nos Estados Unidos ou na África ou em qualquer outra parte do mundo? A resposta é claramente não. Está na hora de a América Latina ser a criadora de grandes multinacionais campeãs. Espero que eu possa, humildemente, ser um apoiador dos empreendedores que fazem isso. Nós no B Capital miramos os investimentos em pessoas que desejam criar empresas verdadeiramente internacionais.

A sua empresa B Capital captou um segundo fundo de 820 milhões de dólares em junho. O investimento no Yalochat é o primeiro desse novo fundo?

Não. Nós já fizemos outros investimentos também. Anunciamos publicamente que temos mais de 1 bilhão de dólares sob gestão. E fizemos parcerias com muitos empreendedores no mundo. Este é o primeiro, no entanto, que marca o início da empresa na América Latina. Estamos ficando mais e mais perto de onde eu nasci, o que me anima muito. Mas nós investimentos em múltiplas empresas ao redor do mundo.

Está profundamente e intrinsecamente alinhado. No centro do que fazemos está o que eu descrevi antes. Nós investimos com uma lente global. O mundo da inovação não tem fronteiras, não tem muros. É possível ter uma ideia em qualquer lugar, como o Javier Mata, da Yalochat teve na América Latina, e ter sucesso na Índia ou outro país. Em segundo lugar, nós acreditamos ser importante ajudar as empresas a serem mais ágeis. E nosso fundo tem uma parceria com o Boston Consulting Group (BCG), uma grande consultoria global que trabalha diariamente com as maiores empresas do planeta.

Trabalhamos juntos para que nossas empresas possam acelerar o crescimento. No final, a maior dificuldade de uma startup não é necessariamente é construir um produto. É conquistar mercado. Conquistar clientes grandes e escalar rapidamente. A ideia é aproveitar a nossa equipe interna e a nossa parceria com o BCG para ajudar as startups a chegar lá um pouco mais rápido. E o que é interessante é que gostamos de investir em empreendedores que iriam se dar fenomenalmente bem sozinhos. Sendo muito humilde e realista, o Yalochat teria sucesso independentemente do nosso investimento. Estamos apenas fazendo parte dessa jornada.

Qual é o perfil das startups e dos fundadores que vocês procuram?

Gosto de investir em empreendedores que são tão apaixonados pelo que fazem que estariam dispostos dar o máximo para conseguir o que querem. Alguém que intensamente focado em resolver um problema que a sua empresa se propõe a solucionar. Eles estão dispostos a continuar perseguindo isso no longo prazo. E a ética do empreendedor também é importante. Em segundo lugar, é o tipo da equipe que o fundador está trazendo. Às vezes há fundadores fenomenais mas que não estão tão dispostos a construir uma equipe forte ao redor deles. E claro que nós pensamos na tecnologia e no mercado.

Nós tendemos a investir nas startups líderes. Existem mercados que são grandes o suficiente para ter duas ou três empresas altamente de sucesso. Mas a nossa tendência é tentar apoiar o líder. E, como disse antes, também deve ser alguém que não pretende construir uma empresa somente para o mercado local. Acreditamos que precisamos focar naquilo em que somos bons, que é ter uma visão global em primeiro lugar (“global first”).

O que ainda está faltando para termos mais investimentos seus no Brasil e na América Latina?

Temos um grande interesse em investir mais e mais na região. Claro que fazemos um investimento por vez e focamos. Nesse momento estamos focados nessa parceria com a Yalochat. E assim nós vamos aprender continuamente. Por mais que eu seja brasileiro, olho para o Brasil, de um ponto de vista de investidor, sem nenhuma presunção de achar que sei o que estou fazendo.

Queremos conhecer o mercado, queremos aprender. E, claro, à medida que nós aprendermos com os empreendedores na região, vamos começar a fazer apostas. A nossa filosofia – e talvez eu tenha sido criado dessa forma – é aprender com a experiência. Vamos manter os ouvidos prontos para ouvir. E acho que, para mim, não estaria completo como um investidor se não tivesse colocado o Brasil e a América Latina como uma parte do mundo em que tenho muita ênfase. Com o tempo, espero ver uma evolução. Mas vamos fazer de forma humilde e devagar.

No começo do ano, imaginava-se que seria mais difícil levantar capital em 2020 por causa da pandemia, mas parece que não tem sido assim necessariamente. Como tem visto o mercado de capital de risco depois da covid-19?

Claro que num nível mais amplo há uma hesitação dos investidores. Sempre que há um grande impacto macroeconômico no mundo — e nesse caso não é só macroeconômico, mas impacta pessoalmente cada indivíduo e a sociedade, de forma transversal – há uma retração. Mas a indústria de venture capital está quase sempre preparada para entender as mudanças, perseverar e sair do outro lado com um resultado positivo.

Em primeiro lugar, passa a ser possível distinguir entre as empresas que são seguras, do ponto de vista financeiro, daquelas que têm uma estratégia de crescer a todo custo, sem uma boa estrutura. Isso ajuda a empurrar o ecossistema na direção certa, para crescer de forma sustentável. Em segundo lugar, a pandemia da covid-19 acionou o gatilho na adoção digital no mundo. O meio digital foi praticamente o que manteve as empresas funcionando. E com isso surgiram oportunidades fenomenais de crescimento. É claro que não gosto de pensar na pandemia como uma oportunidade para fazer dinheiro. Mas espero que a gente ajude a criar um impacto positivo no mundo a partir dessa experiência. A indústria toda vai continuar investindo. Vai depender e variar conforme o DNA de cada uma das empresas de capital de risco.

Nos Estados Unidos, as grandes empresas de tecnologia, incluindo o Facebook, têm sido criticadas por agir como monopólios, comprando potenciais competidores e impedindo a inovação. Como tem visto este debate?

Acho que as grandes empresas de tecnologia estão buscando ser inovadoras. E na minha visão elas têm ajudado a criar inovação no mercado. Quanto mais competidores existirem, mais inovação tende a surgir e melhor a indústria de modo geral. E mais as empresas na indústria tendem a crescer. Sei que isso soa contraintuitivo. Mas a competição mantém as empresas na liderança e também as ajuda a inovar. De fato acredito que existe um ambiente competitivo no mundo da tecnologia hoje.

Não posso falar por todas as empresas, claro. Falo de fora de qualquer uma das empresas grandes. Mas acredito que elas querem encorajar a competição. Porque a maior parte das empresas são no fundo plataformas. Desde os primeiros dias do Facebook, a ideia era abrir sua plataforma e permitir que outras empresas ganhassem projeção e engajamento. E no caso do Yalochat, a empresa usa uma plataforma de mensagens muito estabelecida, que é o WhatsApp. Então essas empresas são melhores ao permitir startups como o Yalochat surjam e tenham sucesso. Sua abordagem de plataforma permite a longevidade do modelo de negócio.

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