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Vitória! No dicionário, “ato ou efeito de sair-se vencedor, de triunfar sobre um inimigo, competidor ou antagonista”. Em Tupi Paulista (SP), o substantivo ganhou um sentido maior para uma cadelinha resgatada pela Polícia Militar. O animalzinho, que fora abandonado, estava prestes a morrer quando um homem o viu e acionou a corporação. Para um desfecho ainda mais feliz, o bichinho foi adotado por um dos policiais que atenderam a ocorrência.
Na manhã deste domingo (4), os policiais militares da 4ª Companhia de Tupi Paulista, pertencente ao 25º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I), na região de Dracena (SP), foram acionados e informados por um homem sobre a localização de um animal em situação de abandono num canavial às margens da Rodovia General Euclides de Oliveira Figueiredo, a Rodovia da Integração (SP-563).
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O bichinho estava dentro de um saco de ráfia, amarrado por um fio. Ele, através de um rasgo, conseguiu deixar a cabeça para o lado de fora, mas sua situação era complicada.
Conforme a Polícia Militar, era certo que o animal havia sido abandonado para morrer. Quando localizada, a cadelinha se debatia, bem como estava assustada e agressiva devido ao estado em que se encontrava.
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“Com muito custo, os policiais conseguiram libertar o animal e constataram que se tratava de uma fêmea, contudo, encontrava-se muito debilitada e não conseguia se levantar, provavelmente por ter passado toda a noite exposta ao frio intenso que se registrou”, informou a Polícia Militar em nota oficial.
A ocorrência foi atendida pelos soldados Rodrigo Fernando Nascimento de Souza e Mailson Brito Meneghini e pelos cabos Paulo Barberino Filho e Fabiano Henrique Vello Rossaneli.
Comoção
Durante o atendimento da ocorrência, a equipe policial composta pelos cabos Barberino e Rossaneli encostou no local. Comovido com a situação do animal, Barberino, mesmo diante do frio e do vento que fazia às margens da rodovia, despiu-se de sua jaqueta e a colocou sobre o animal.
A cadelinha foi se acalmando e sentindo confiança. Foram acionados ainda o Corpo de Bombeiros e uma Organização Não-governamental (ONG) de Dracena que cuida de animais abandonados. Ela foi levada para uma clínica veterinária, onde recebe cuidados.
‘Foi uma luz’
A primeira pessoa a localizar a cadelinha e a acionar o socorro foi o produtor rural Marinho Zamonelo, de 44 anos. Ele contou que passava pelo local de carro, quando, “por Deus”, viu algo às margens da rodovia e optou por parar.
“Só vi porque ela [cadelinha] levantou a cabeça, como se estivesse pedindo socorro, e no impulso fui tentar desamarrar. Mas ela começou a pular e rosnar, então, fiquei com medo e liguei para os bombeiros, que me orientaram a acionar a polícia local”, lembrou.
Em seguida, então, o produtor rural ligou para o telefone 190 e a PM seguiu ao local.
“Não é meu costume parar ali, parece que foi uma luz”, afirmou Zamonelo.
O produtor rural declarou que se sente feliz por ter ajudado a salvar a vida da cadelinha.
“A pessoa que fez isso não tem amor no coração. Se não queria, pelo menos a deixasse em liberdade”, comentou.
“Tem tanta coisa errada no mundo e isso prova que as pessoas não têm amor no coração, nem pelos animais”, acrescentou.
Zamonelo afirmou que espera não se deparar com a situação novamente, mas, se ocorrer, ele parará e ajudará.
“Para fazer o bem, eu paro. O homem não vê, mas Deus vê o que a gente faz”, colocou.
Adoção
A cadelinha, que recebeu o nome de Vitória, além de ser resgatada e receber tratamento, já ganhou um lar. O cabo da PM Fabiano Henrique Vello Rossaneli, que apoiou no atendimento da ocorrência, sensibilizado pela situação, conversou com a esposa e resolveu adotar o animalzinho.
A reportagem conversou com o cabo e ele relatou que este foi o primeiro atendimento de animal em situação de abandono no qual trabalhou. “Como uma pessoa dessa [que abandonou] dorme à noite?”, questionou o militar.
O cabo lembrou que a PM foi acionada por um popular e, quando as equipes chegaram lá, localizaram a cadelinha em uma triste situação e todos os contatos foram feitos para reverter o desfecho trágico que o animal poderia ter.
Entre os contatos, estava Joisiany Ceber, uma protetora de animais de Tupi Paulista. Segundo o cabo, ela encaminhou a cadelinha a um médico veterinário e a batizou de Vitória.
“Vou manter esse nome, porque ela foi forte. Na situação em que ela estava, não se sabe desde que horas, ela sobreviveu”, afirmou o cabo Rossaneli. “Me sinto agradecido por dar uma segunda chance para o bichinho”, acrescentou.
O caso virou assunto nas redes sociais e comoveu milhares de pessoas. Na página oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, por exemplo, a publicação rendeu cerca de 27 mil reações, 9,7 mil compartilhamentos e 5,5 mil comentários, até as 11h15 desta segunda-feira (5).
A ilustradora Gisele Daminelli, de Santa Catarina (SC), inspirada pela ocorrência, desenhou a cena e a publicou em seu perfil numa rede social (veja no fim da reportagem).
Rossaneli disse que não esperava que o assunto tomasse tamanha proporção. “A gente tira foto para mostrar aos comandantes, no caso, para chamar a Joisiany”, comentou.
Vitória ainda não foi para o novo lar, pois ainda recebe cuidados numa clínica veterinária em Dracena. Porém, deve ser liberada nesta terça-feira (6).
Hipotermia
O médico veterinário Colombo Guerra Carvalho Júnior disse que Vitória chegou à clínica com o quadro de hipotermia. Foram realizados exames, entre eles um hemograma, que acusou uma boa saúde. “Estava somente com a temperatura baixa”, comentou.
O animalzinho recebeu medicamentos, vitaminas e aquecimento. “Duas horas depois, já estava bem e comeu um monte de ração”, contou o veterinário.
Não se sabe exatamente a idade de Vitória, também sem raça definida, mas o médico veterinário estima que tenha menos de um ano.
Frio
De acordo com a Polícia Militar, o chamado foi registrado no sistema às 7h31 de domingo (4). Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam que, entre 7h e 8h, a estação meteorológica de Dracena registrou temperaturas mínimas entre 10,2°C e 11,1°C na região.
Um pouco antes, por volta das 6h, os termômetros marcaram 10,1°C.
“Parabéns aos guerreiros que participaram do atendimento e apoio. Não mediram esforços para amparar o próximo, ainda que este tivesse sido um animal indefeso”, incentivou a Polícia Militar.
Fonte: G1