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O piloto da aeronave que fez um pouso de emergência em Boituva, no interior de São Paulo, segue internado nesta sexta-feira (13) em um hospital particular de Sorocaba (SP). O avião era usado para o salto de paraquedistas e levava 15 atletas quando se envolveu no acidente.
Dois paraquedistas morreram após o pouso forçado no início da tarde de quarta-feira (11) e outras dez pessoas ficaram feridas. Conforme apurado pela reportagem, o piloto e pelo menos dois atletas seguiam hospitalizados até esta sexta (13).
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Nas redes sociais, internautas elogiaram o profissionalismo do piloto diante da necessidade de realizar o pouso de emergência e desejaram uma boa recuperação aos colegas que continuam internados. De acordo com o hospital, o estado de saúde do piloto é estável.
“Mesmo diante de uma situação tão difícil como a que se apresentou a sua frente, você salvou a vida de 14 pessoas, amigos queridos, pais de família assim como você. Nós nunca esqueceremos. Boa recuperação irmão”, publicou um amigo.
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Uma outra vítima do acidente, um atleta argentino de 48 anos, se recupera no Hospital Regional de Sorocaba “Adib Domingos Jatene”. Ele teve uma fratura cervical e está internado no setor de neurocirurgia.
Já outro paraquedista, de 35 anos e que também foi atendido em Sorocaba, foi transferido na quinta-feira (12) para um hospital em São Paulo, onde segue internado.
Os passageiros que morreram foram identificados como André Luiz Warwar, de 53 anos, e Wilson José Romão Júnior, de 38. André era funcionário da área de tecnologia da TV Globo e dirigia filmes.
Wilson José Romão Júnior, conhecido como “Juninho Skydive”, morava em Piracicaba (SP) e era instrutor de paraquedismo. Ele foi enterrado no Cemitério São Judas Tadeu, em Guarulhos (SP), às 13h de quinta-feira.
Já André foi velado a partir das 10h desta sexta-feira (13) e enterrado no Cemitério São João Batista às 15h, na cidade do Rio de Janeiro.
Conforme o administrador do Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), a empresa Skydive4Fun, responsável pela aeronave envolvida no acidente, não fez nenhum salto nesta quinta e sexta-feira (13) em homenagem às vítimas.
No entanto, as demais empresas continuaram funcionando normalmente e a Skydive4Fun anunciou a retomada das atividades neste sábado (14).
Acidente
De acordo com um paraquedista que estava no avião no momento do acidente, a aeronave apresentou problemas a cerca de 900 pés (aproximadamente 275 metros) de altitude.
O paraquedista Raphael Gonzales Alves contou que estava se preparando para fazer um salto baixo, a seis mil pés, mas o avião não chegou na altitude necessária.
“Meu grupo ia ser um dos primeiros a saltar porque o nosso objetivo era um salto de treinamento de navegação em pouso. Nós estávamos próximos à porta e seríamos os primeiros a sair. Iríamos saltar de seis mil pés e o restante do pessoal ia continuar subindo até 12 mil, mas acabou que ninguém chegou nessa altura”, lembra o atleta.
De acordo com a Associação de Paraquedistas de Boituva, a aeronave decolou com 16 pessoas do Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), mas teve uma pane elétrica logo depois e o piloto precisou fazer um pouso de emergência na área rural da cidade.
“Entramos no avião, procedimento de decolagem padrão. Aí, a 900 e poucos pés de altitude (cerca de 275 metros), o alarme de emergência do avião começou a soar e o piloto então nos informou que era uma situação crítica, que era para todo mundo ficar em situação de emergência”, conta o paraquedista.
Ainda de acordo com Raphael, a aeronave tocou três vezes o solo antes de tombar e ficar com as rodas para cima. Ele contou que os atletas ficaram sabendo da situação de emergência, mas chegaram a pensar que conseguiriam pousar em segurança e até a comemorar antes da aeronave atingir um barranco.
“O segundo [toque da aeronave no chão] foi tranquilo, tanto que a gente chegou a comemorar, ficou aliviado. E no meio desse sentimento de alívio é que ocorreu essa infelicidade. O trem de pouso bateu no barranco, fazendo com que o avião capotasse e causou isso.”
Na tarde de quinta-feira (12), o paraquedista prestou depoimento à Polícia Civil de Boituva, que abriu um inquérito para investigar o caso. Além de ouvir os sobreviventes, em especial o piloto do avião, o delegado explicou que precisa dos laudos periciais para esclarecer as causas do acidente.
“Acredito que foi realmente uma fatalidade. Eu estou há muitos anos em Boituva e já investigamos vários acidentes com vítima fatal, mas com avião foi a primeira vez que aconteceu. Agora é trabalhar em conjunto com o CNP e outros órgãos para produzir um relatório que traga mais segurança para todos que frequentam e gostam muito do centro”, afirma o delegado Carlos Antônio Antunes.
A aeronave foi desmontada para perícia na quinta-feira e o motor do avião foi recolhido por equipes do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Manutenção em dia
Conforme apurado, o avião Cessna Aircraft 208, de matrícula PT-OQR, é o mesmo envolvido em um acidente que matou o paraquedista Alex Adelmann, de 33 anos, durante um salto em 2012.
Na época, foi constatado que o atleta foi atingido na nuca pela asa da aeronave logo após saltar no Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), segundo o Cenipa. O piloto foi indiciado pela Polícia Civil por imprudência.
No entanto, apesar do histórico, o presidente da Associação de Paraquedistas de Boituva (APB), Marcello Costa, afirmou que a aeronave apresentava bom estado de conservação e estava autorizada a realizar o transporte dentro da unidade.
Em nota, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou que o avião estava com Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) em dia, ou seja, apta para realizar voos, de acordo com informações do Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB).
A Anac disse ainda que, na configuração aprovada para o transporte de passageiros, a capacidade da aeronave é de até nove passageiros. No entanto, no caso da configuração para o lançamento de paraquedistas, em que são removidos os assentos, a avaliação da capacidade é feita pelo peso máximo de decolagem.
Com isso, “a aeronave pode realizar a operação de lançamento de paraquedistas com quantidades superiores a nove pessoas a bordo, limitada ao peso máximo de decolagem de 3.629 quilos”, conforme a agência.
A Skydive4Fun afirmou que a aeronave tinha capacidade máxima para 15 paraquedistas e estava com todas as rotinas de manutenção em conformidade com as normas e regulamentos da Anac.
A empresa reforçou ainda que o “tripulante engajado na operação tem elevada experiência de voo e é devidamente habilitado pela Anac com todos os respectivos treinamentos em dia”.
Fonte: G1